Tony Goes

Primeiro capítulo de 'Verão 90' lembrou as novelas infantis do SBT

Estreia trouxe muitas referências, mas produção deixou a desejar

Jerônimo (Jesuíta Barbosa), Manuela (Isabelle Drummond) e João (Rafael Vitti), de 'Verão 90'
Jerônimo (Jesuíta Barbosa), Manuela (Isabelle Drummond) e João (Rafael Vitti), de 'Verão 90' - Divulgação
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Assim que foi anunciada, “Verão 90” foi imediatamente comparada a “Samantha!”. A premissa da nova novela da faixa das 19h da Globo é praticamente idêntica à da série da Netflix, disponível desde julho passado: estrelinhas infantis da década de 1980 tentam recuperar o sucesso perdido, anos depois de terem deixado a TV.

“Verão 90” finalmente estreou nesta terça (29), e o que se viu na tela acabou lembrando um outro produto televisivo: as novelas infantis do SBT. Produção simplesinha, iluminação sem nuances, diálogos sofríveis: será que esta é a mesma emissora que, há apenas um ano, deslumbrou os telespectadores com a suntuosa “Deus Salve o Rei”?

A novela de temática medieval era mesmo de encher os olhos, mas sua trama fraca não deixou saudades. Há sinais de que “Verão 90” siga pelo mesmo caminho, com o agravante de ser... feia.

O primeiro capítulo se passou quase todo na década de 1980, quando os protagonistas Manuzita (Isabelle Drummond), João (Rafael Vitti) e Jerônimo (Jesuíta Barbosa) eram crianças e integravam o Patotinha Mágica, um grupo de sucesso inspirado em similares reais como a Turma do Balão Mágico.

As referências nostálgicas fizeram a festa das redes sociais. Mas ofuscaram um detalhe que não escapou a um olhar desapaixonado: as imagens são pobres. Talvez quisessem evocar a baixa definição vigente nas TVs daquela época. Ou talvez sejam mesmo o resultado de contenção de despesas.

A recriação do programa Cassino do Chacrinha, então, era digna de teatro amador –e olha que a própria Globo fez, há pouco tempo, uma homenagem impecável à sua antiga atração das tardes de sábado.

Nada disso seria muito grave se a dramaturgia compensasse. Mas os diálogos e até os nomes dos personagens são óbvios –Dira Paes, por exemplo, encarna a batalhadora Janaína Guerreiro, que cria sozinha seus filhos João e Jerônimo em uma pequena cidade litorânea.

Houve dois momentos particularmente constrangedores. Ao perceber que os meninos fugiram para o Rio de Janeiro, Janaína sai em desabalada carreira atrás deles –só para sua irmã Janice (Claudia Ohana) perguntar “você ficou louca?”.

Janice está grávida. Quando sua bolsa estoura um mês antes do previsto, Janaína é categórica: “com a saúde não se brinca!”. Como se a ida para um hospital estivesse em debate.

No meio desse quase desastre, salva-se o elenco. Dira Paes está bem como sempre, apesar dos clichês com que Janaína foi construída. E Claudia Raia deita e rola como a exuberante Lidiane, um papel escrito sob medida para ela: uma ex-atriz de pornochanchada convertida na estridente mãe de Manuzita.

Mesmo apelando para a nostalgia de um período ainda inexplorado por suas novelas, a Globo parece ter jogado a toalha. Ciente de que personagens dúbios e tramas intrincadas afugentam o público que ainda segue novela, a emissora apelou para o mínimo denominador comum.

Com autoria de Izabel de Oliveira e Paula Amaral, direção-geral de Marcelo Zambelli e direção artística de Jorge Fernando, “Verão 90” nasce com cara de novela velha. É triste o dia em que um programa da Globo pretende emular o SBT.

"Verão 90"

  • Autor Izabel de Oliveira e Paula Amaral

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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