O Último Guardião, série turca da Netflix, tem boa produção e roteiro tolo
Mas quem é o verdadeiro inimigo do primeiro super-herói da Turquia?
Um rapaz comum é capturado por uma sociedade secreta, que lhe informa sua verdadeira identidade: ele faz parte de uma longa linha de guardiães de um tesouro, e precisará dedicar sua vida a esta missão.
Parece a trama central de “O Sétimo Guardião”, a novela de Aguinaldo Silva que ocupa atualmente a faixa das 21h na Globo. Mas também é a premissa da primeira série original da Netflix rodada na Turquia, que chegou a ter seu título no Brasil anunciado como “O Protetor de Istambul”. Ciente da semelhança entre a novela e a série, a plataforma mudou o nome desta última para “O Último Guardião”.
Quem só conhece a produção televisiva da Turquia através dos folhetins exibidos pela Band vai se surpreender. “O Último Guardião” tem direção, fotografia e acabamento muito mais esmerados. Mas derrapa nas atuações e, principalmente, no roteiro.
Baseada em um best-seller muito popular no país, “O Último Guardião” é protagonizada por Hakan (o bonitão Çagatay Ulusoy, que estrelou a versão turca da série americana “The OC”) , um sujeito que trabalha com o pai em uma loja de antiguidades no Grande Bazar de Istambul. Sua vida vira de cabeça para baixo quando uma misteriosa camisa que seu pai mantém na loja é disputada pelos capangas de um poderoso empresário.
Hakan então descobre que seus verdadeiros pais foram mortos quando ele ainda era bem pequeno, e que está predestinado a proteger a cidade de Istambul de uma irmandade conhecida como “Os Imortais”.
A tal da camisa fica com Hakan e, toda vez que ele a veste, ganha o poder da invulnerabilidade: nada, nem mesmo balas de revólver, consegue penetrar em sua pele. O herói também consegue uma adaga que, segundo lenda, é a única arma capaz de matar o último Imortal.
Ou seja: parece uma versão oriental da saga “Harry Potter”, e só um tiquinho mais adulta. Para piorar, a identidade do Imortal é evidente desde o primeiro episódio (fiquei esperando por uma surpresa, que nunca veio), os diálogos são pesadões e os efeitos especiais deixam muito a desejar.
Sobra a beleza de Istambul, captada em voos panorâmicos de tirar o fôlego ou em detalhes pitorescos de suas vielas e ruínas. E sobra também uma dúvida: quem são os Imortais, e por que eles querem tanto destruir a cidade?
Não são os gregos (ou bizantinos), antigos senhores da então Constantinopla: naquela época, os Imortais já atacavam a grande metrópole entre a Ásia e a Europa. Aliás, em nenhum momento os Imortais são ligados a alguma potência estrangeira.
Quem gostaria, então, de aniquilar Istambul, que funciona há milênios como uma ponte entre Ocidente e Oriente? Este raciocínio me levou a uma conclusão. Istambul é uma cidade cosmopolita, muito mais liberal do que o resto da Turquia. Foi lá que surgiu o movimento republicano comandado por Mustafa Kemal Ataturk, que depôs o sultão otomano um século atrás.
E foi lá também que, em 2013, explodiram os primeiros protestos contra o então primeiro-ministro Recep Erdogan, um político conservador de índole autoritária, hoje praticamente um ditador.
Se “O Último Guardião” for uma crítica velada a Erdogan, já estou gostando mais da série.
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