Estreia de 'O Sétimo Guardião' mistura clichês com algum mistério
Nova novela da faixa das 21h ainda não deixou claro seu eixo central
Todo primeiro capítulo de novela tem uma tarefa ingrata a cumprir: apresentar a trama e os personagens principais para um público que ainda sabe muito pouco do que está assistindo.
O desafio para “O Sétimo Guardião” (Globo) é ainda maior. Porque o novo folhetim de Aguinaldo Silva, em chave de realismo fantástico, quer manter uma certa aura de mistério.
Quem assistiu à estreia ficou sabendo logo no primeiro bloco que existem sete guardiões na fictícia cidade de Serro Azul – mas do quê, exatamente? De uma fonte da juventude, que apareceu em uma cena mas não teve sua função explicada por ninguém.
Por outro lado, os diálogos foram de um didatismo quase excessivo. É louvável que se estabeleça o mais rápido possível a relação entre os diversos integrantes da história, mas algumas falas soaram forçadas. E frases bombásticas como “eu vou te destruir” não podem mais ser levadas a sério em pleno 2018.
As interpretações variaram muito de tom, das realistas às afetadas. O sotaque caipira de Marilda (Letícia Spiller) resvalou para a caricatura. Já Tony Ramos tem que encarar no milionário Olavo um tipo que não lhe vem naturalmente: um vilão.
Mas quem roubou a cena foi mesmo o gato Leon – na verdade, quatro bichanos da raça Bombay importados dos Estados Unidos, além de uma versão em “animatronics” para as sequências mais complicadas.
O gato some da casa de seu dono, o guardião Egídio (Antonio Calloni) – um sinal de que uma das sete sentinelas irá morrer em breve e será substituído por outra. E reaparece em São Paulo, nos telhados de Serro Azul, em fotografias...
Só que quem acaba morrendo é o protagonista Gabriel (Bruno Gagliasso), que sofre um acidente durante uma desvairada fuga automobilística, depois de deixar sua noiva Laura (Yanna Lavigne) no altar. A cena do desastre foi impactante, e já estamos livres do mais gasto clichê das novelas, o casamento que não acontece.
Claro que Gabriel não morreu. Ele ressuscita antes dos créditos finais, graças à misteriosa Luz. E assim, as ousadias autorais ficam reservadas para a chegada do personagem de Nany People, uma transexual do mal, o que só deve ocorrer daqui a alguns capítulos.
Com toques de sobrenatural que há tempos não davam as caras na faixa das 21h, “O Sétimo Guardião” traz algum frescor para o horário, ao mesmo tempo em que reconduz a audiência a uma zona de conforto. Tem um certo sabor de novela antiga, com tipos marcantes, bons e maus bem delimitados e uma cidade do interior que dá saudades de uma época que nunca existiu.
Aguinaldo Silva nunca escreveu um fracasso de audiência, e nada sugere que “O Sétimo Guardião” não seguirá o rumo de suas antecessoras. A mistura equilibrada de obviedades e segredos parece ter agradado ao público.
No entanto, mesmo com tantos cuidados na produção, a novela não escapa de uma crítica recorrente ao gênero: onde estão os atores negros? Só Ailton Graça, como o padre Ramiro, e Adriana Lessa, como Clotilde, deram as caras nesse primeiro capítulo, e em cenas rapidíssimas. Será que a Globo não aprendeu nada com o bafafá em torno de “Segundo Sol”?
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