Tony Goes

Ataque de Eduardo Costa a Fernanda Lima demonstra ignorância do que seja democracia

Sertanejo também não entendeu o discurso da apresentadora de Amor e Sexo

Apresentadora Fernanda Lima do programa Amor & Sexo dedicado à mulher
Apresentadora Fernanda Lima do programa Amor & Sexo dedicado à mulher - Globo
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Tony Goes
São Paulo

Fernanda Lima encerrou o programa “Amor & Sexo” (Globo) desta terça (6) com um vigoroso monólogo em defesa dos direitos das mulheres. 

A fala terminava com um chamado à ação: “Vamos sabotar as engrenagens desse sistema de opressão. Vamos sabotar as engrenagens desse sistema homofóbico, racista, patriarcal, machista e misógino.” 

Como tudo que acontece hoje em dia no Brasil, esse discurso também dividiu opiniões. Fernanda postou um vídeo com ele em seu perfil no Instagram e recebeu centenas de comentários negativos. 


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Mas nenhuma reação chamou mais a atenção do que a do sertanejo Eduardo Costa, apoiador declarado de Jair Bolsonaro. Em uma longa diatribe recheada de ofensas e ameaças, o cantor deu sinais claros de que não entendeu bem o que Fernanda disse, além de não fazer ideia de como funciona a democracia. 

Também estende à apresentadora o preconceito que muita gente alimenta contra a Lei Rouanet. “Ela pode ter certeza de uma coisa, a mamata vai acabar”, escreve Costa. Que mamata? A Globo não utiliza os mecanismos de financiamento à cultura para produzir sua programação, nem depende de verbas estatais (e nada disso pode ser caracterizado como “mamata”). 

Fernanda Lima também não está, no momento, envolvida com nenhum filme, peça ou produto cultural que envolva dinheiro público. Então, que mamata é esta, Eduardo Costa? Você poderia explicitar? 

O cantor vai além. “O Brasil vai sabotar é a senhora se DEUS quiser. Sérgio Moro vai começar a ajudar a sabotar, pode esperar kkkk”. Em nenhum momento a apresentadora propôs sabotagem ao próximo governo: esta edição do programa foi gravada antes da eleição de Bolsonaro. Fernanda se refere, na verdade, à opressão milenar que as mulheres sofrem – está claro em seu discurso, mas, pelo jeito, Eduardo Costa não prestou muita atenção. 

E de onde o sertanejo tirou que o futuro ministro da Justiça vai “ajudar a sabotar”? Sérgio Moro merece muitas críticas, mas não foi para perseguir artistas que ele aceitou o cargo. Numa democracia de verdade, nem seria esta sua função. Só regimes autoritários usam a estrutura do Estado para reprimir quem pensa diferente. 

Infelizmente, Eduardo Costa não está sozinho. Milhões de brasileiros pensam como ele: acham que feminismo é o oposto simétrico do machismo (seria a opressão do homem pela mulher), e acreditam que um presidente pode fazer o que lhe der na telha, sem precisar respeitar as leis, as minorias ou a liberdade de expressão. 

Nos meus tempos de colégio, havia uma matéria bem chatinha, mas bastante útil: OSPB, Organização Social e Política Brasileira. Ela explicava o que faz um presidente, um deputado, um governador. As responsabilidades e os limites de cada um, e como eles podem chegar ou sair desses cargos. 

Além de interpretação de texto, falta OSPB no currículo de muita gente. Fica a dica para os futuros mandatários do país.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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