Anitta e Ludmila têm o direito de não se posicionar politicamente?
Relutância das cantoras em aderir à campanha #EleNão irrita fãs do segmento LGBT
Em meio à polarização política que toma conta do país antes das eleições, um novo debate eclodiu nas redes sociais. Um artista que fatura alto entre o público gay precisa erguer as mesmas bandeiras políticas que esse grupo?
Não, não precisa. A Constituição brasileira garante que o voto é secreto: portanto, ninguém é obrigado a se manifestar publicamente contra ou a favor de nada (e, no Brasil que eu quero para o futuro, o voto também seria facultativo).
Mesmo assim, não faltam celebridades se manifestando a respeito dos candidatos à presidência da república – o que também é direito delas, é claro.
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Mais especificamente, muitos nomes do showbiz aderiram nos últimos dias à campanha #EleNão, em repúdio a Jair Bolsonaro (PSL). As cantoras Daniela Mercury, Marina Lima, Pitty, Pabllo Vittar e Iza são alguns exemplos. Em comum, elas também têm o fato de serem apoiadoras históricas dos direitos igualitários.
Mas duas grandes estrelas se fizeram notar pela ausência. Uma delas é Ludmila, que chegou a ter anunciado seu rompimento com a marca de calçados Victor Vicenzza, cujo dono declarou voto em Bolsonaro.
Ludmila correu para explicar que não foi bem assim. Quem rompeu a parceria com a marca foi seu stylist, Rodrigo Polack, não ela. "Toda notícia que vocês verem de política envolvendo o meu nome é mentira, porque eu não falo sobre política, tá?", disse a cantora no Insta Stories.
Com Anitta aconteceu coisa parecida, mas com uma repercussão muito maior. A cantora já estava sendo alvo de críticas, por desfilar em muitas paradas do orgulho gay pelo país afora, mas sem jamais se opor explicitamente aos políticos que os gays percebem como seus inimigos.
No começo desta semana, o caldo entornou. Os fãs mais exaltados da cantora perceberam que ela começou a seguir uma moça, no Instagram, cujo perfil está cheio de mensagens de apoio a Bolsonaro. E cobraram dela uma posição.
Também pelo Insta, Anitta respondeu. Disse que a tal da moça é apenas sua amiga, e que segui-la não significa compartilhar de suas opiniões políticas. Também defendeu o próprio direito de não se manifestar. “Peço respeito à minha decisão de não me posicionar publicamente sobre nenhum candidato”.
Mesmo assim, Anitta deixou implícito que é simpática à campanha #EleNão. “É totalmente incoerente dizer que eu apoio a morte à comunidade LGBTQ+ quando eu faço parte dela. Estaria apoiando minha própria morte”.
Anitta confunde um pouco as siglas: sendo hétero, ela não faz parte da comunidade LGBTQ+, mas nada a impede de ser simpatizante. E isto ela é, declaradamente.
Só que, para os membros da comunidade, ainda é pouco. Boa parte de seus fãs esperava que Anitta tivesse um comportamento mais contundente, como o das grandes divas pop americanas.
Madonna, Lady Gaga, Britney Spears, Katy Perry, Pink e Cher, por exemplo, sempre tiveram a coragem de defender seu público gay dos políticos homofóbicos, dando nome aos bois e saindo em passeata contra eles. Dão a cara para bater, e pagam um preço por isto (Lady Gaga chegou a ser impedida de se apresentar na Rússia).
Ludmila e Anitta precisam fazer o mesmo? Não, não são obrigadas. Mas têm que estar conscientes de que não é isso o que uma enorme fatia de seus admiradores esperava delas neste momento.
Anitta, em especial, costuma ser elogiada pelo tino para os negócios e pela maneira como conduz sua carreira. Só que, neste caso, ela pode ter cometido um grave deslize mercadológico, ao não se colocar inequivocamente ao lado do público de onde provém boa parte de seus rendimentos.
Por outro lado, também passa da hora dos gays escolherem melhor suas musas e rainhas. Não basta bater cabelo ou dizer que tem amigos homossexuais. Rainha de verdade defende os súditos, e vai à guerra com eles.
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