Tony Goes

Na disputa com o Teatro Oficina, o legado de Silvio Santos também está em jogo

A área envidraçada do Teatro Oficina, que ficaria obstruída se os prédios fossem construídos
A área envidraçada do Teatro Oficina, que ficaria obstruída se os prédios fossem construídos - Gabriela Di Bella - 30.jan.2016/Folhapress


  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Existe uma novela envolvendo Silvio Santos ainda mais longa que "Carinha de Anjo", exibida pelo SBT na faixa das 20h30 há mais de um ano e com previsão de término apenas para meados do ano que vem.

É a disputa pelo terreno que circunda o Teatro Oficina, em São Paulo. Silvio é o dono do lugar, e quer construir três torres ali. Zé Celso Martinez, criador e diretor do Oficina, prefere um parque. Inclusive porque os prédios tapariam a vista que se tem das imensas janelas do Oficina, um projeto arquitetônico premiado e tombado desde 2010.

A pendenga se arrasta há pelo menos duas décadas, mas parece estar próxima de um desfecho. Em outubro passado, o Condephaat --o órgão que regula e fiscaliza o patrimônio histórico da capital paulista-- decidiu, por 15 a votos a 7, que Silvio Santos pode tocar adiante seu projeto.

Seguiu-se uma bizarra reunião entre ele e Martinez, de onde saiu um vídeo que viralizou nas redes sociais. E também uma reação dos que são favoráveis ao parque. Até Fernanda Montenegro entrou na campanha.

No próximo domingo (26), um ato ecumênico promoverá uma "lavagem" no entorno do terreno, informa a colunista da Folha Mônica Bergamo. Ainda há um projeto de lei tramitando na Câmara Municipal que propõe a criação do parque do Bixiga no local.

Mas Silvio Santos permanece irredutível, brandindo um argumento mais do que razoável: afinal, o terreno é dele. Se não há empecilhos legais para a construção das torres, porque ele deveria abrir mão de seu patrimônio? Só porque o Zé Celso acha bonito?

Silvio quer garantir o retorno de seu investimento, como qualquer capitalista que se preze. Mas, na minha humilde opinião, também deveria se preocupar com um bem imaterial: seu legado.

Claro que o lugar de Silvio Santos na história já está mais do que garantido. Ele é uma figura dominante na nossa paisagem cultural há mais de meio século. Também conquistou um posto cativo no coração de milhões de brasileiros.

Mas chama a atenção como, relativamente a seu poder e fortuna, Silvio fez pouco pela sociedade. Não criou uma fundação com seu nome; não patrocina projetos educacionais. Promove o "Teleton" uma vez por ano, e olhe lá.

O imbróglio com o Oficina também é a chance de Silvio Santos fazer algo pela cidade onde ele construiu seu império. A doação do terreno à prefeitura --ou mesmo a troca dele por outro, como já foi proposto-- seria um gesto de grandeza e desprendimento, aos 86 anos.

Ali poderia ser construído um parque com seu nome --e, quem sabe, até com uma estátua e um pequeno museu sobre sua carreira. O bairro do Bixiga seria valorizado, a disputa terminaria com um final feliz e as gerações futuras teriam mais um excelente motivo para conhecer este personagem fundamental.

O parque Silvio Santos vem aí? Por que não? Fica a sugestão.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias