Amaury Jr., o sobrevivente do colunismo social na TV
Hoje em dia parece bizarro, mas houve um tempo em que os colunistas sociais eram figurinhas fáceis na televisão.
O mais icônico de todos foi o carioca Ibrahim Sued (1924-1995), que teve programa próprio na Globo, além de quadro no Fantástico e até lugar na bancada de alguns dos telejornais noturnos da emissora.
Ibrahim era praticamente um personagem: tropeçava nas palavras, cometia gafes e usava expressões que se popularizaram, como ademã (corruptela do francês à demain, até amanhã) ou cocadinhas (adolescentes bonitas).
Fazia, antes de tudo, colunismo social: quem foi com quem a qual festa, que roupa estava usando, qual champagne foi servido. Mas, aos poucos, Ibrahim foi alargando seu escopo. Além de socialites, passou a falar de celebridades do cinema e da TV (marcou época sua entrevista com Sonia Braga), e até a dar furos de economia e política.
O mundo mudou, o high society tradicional caiu em desuso e o colunismo televisivo precisou se reinventar. Na década de 1990, brilhou (literalmente) Athayde Patreze (1946-2006), que conversava com os novos ricos usando um indefectível microfone dourado. Algo tão cafona que nem mesmo Ibrahim Sued —que não era exatamente avesso à ostentação— ousaria fazer.
Vários outros nomes surgiram e desapareceram nas últimas décadas, mas só Amaury Jr. continua firme —e fiel ao mundo dos endinheirados. Otávio Mesquita, que começou na TV seguindo uma linha parecida, hoje faz reportagens que não se encaixam mais no gênero.
Isto quer dizer que Amaury Jr. é o último representante da estirpe com alcance nacional (ainda existem alguns colunistas sociais nas emissoras regionais pelo Brasil afora). A partir do ano que vem, ele voltará para a Band: não renovou contrato com a RedeTV!, onde estava desde 2002.
Pensando melhor, chamar de colunismo social o que Amaury Jr. faz talvez seja um exagero. Muitas de suas matérias são ações de merchandising assumidas. No entanto, seu talento é inegável. Ele consegue injetar humor em qualquer situação, e já mostrou que não tem medo de rir de si mesmo (como no episódio de "Tá no Ar", da Globo, em que foi gozado/homenageado por Marcelo Adnet).
Mas chama a atenção o fato de a RedeTV! não estar buscando alguém de perfil semelhante para seu lugar. Segundo informa o colunista Flávio Ricco, do UOL, a emissora está contatando youtubers, para dar uma pegada jovem na programação.
Amaury Jr. tem seu próprio patrocinador, o laboratório Ultrafarma, e um público cativo que o acompanha há anos. Acontece que este público não está se renovando, e nem vêm surgindo novos Amaurys por aí.
Desconfio que, com seu futuro programa na Band, estaremos assistindo ao crepúsculo do colunismo social na televisão brasileira. O que não quer dizer, é claro, que ninguém mais tem interesse pela vida dos ricos e famosos.
Mas o formato ainda usado por Amaury Jr. está ficando antigo. A garotada de hoje não quer mais espiar a festa dos outros: quer participar também, quer fazer a própria festa. Quem souber transformar isto em TV merece ganhar um microfone de ouro.
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