Recém-eleita, Miss Brasil 2017 sofre ataques racistas na web
Numa cerimônia realizada na noite de sábado (19), transmitida pela Band diretamente de Ilhabela, Monalysa Alcântara, a representante do Piauí, foi eleita a nova miss Brasil.
Nem se pode dizer que foi uma disputa apertada. Quando o título ficou entre apenas duas finalistas —Monalysa e a Miss Rio Grande do Sul, Juliana Mueller— sete dos oito jurados do evento votaram na piauiense. Um deles chegou a exaltar sua brasilidade.
Em mais de 60 edições do concurso, Monalysa é apenas a terceira negra a conquistar a faixa. A primeira foi a gaúcha Deise Nunes, no já distante ano de 1986. A segunda, a paranaense Raissa Santana, foi coroada em 2016, e chegou entre as 13 finalistas do último Miss Universo.
Monalysa é, portanto, a segunda Miss Brasil negra consecutiva. Isso deveria ser motivo de alegria, mas incomodou muita gente. E o fato de ela ostentar um cabelão cacheado incomodou muito mais.
"Tem cara de empregada", escreveu uma internauta numa rede social —como se uma empregada doméstica não pudesse ser deslumbrante. E como se ser empregada fosse algo degradante, quando é um trabalho digno como qualquer outro.
Também não faltaram memes denunciando a eleição de misses negras em países como a França ou a Noruega. Ou lamentando o fato de o Brasil não imitar a Venezuela, a grande potência dos concursos de beleza, que jamais teria escolhido uma negra para representá-la. O que é mentira: nossos vizinhos do Norte elegeram sua primeira miss negra em 1999, Carolina Indriago.
O mais apavorante é esta onda de racismo explícito (alguns desses criminosos sequer se escondem no anonimato) acontecer poucos dias depois de um neonazista atropelar dezenas de pessoas em Charlottesville, nos EUA, com o saldo de um morto. Na verdade, todas essas manifestações de ódio são cabeças de um mesmo monstro, que perdeu o medo de aparecer.
Não há celebridade negra brasileira que não tenha sofrido ataques racistas na internet nos últimos tempos: Taís Araújo, Preta Gil, Sheron Menezes, Lázaro Ramos, Maju Coutinho, a lista vai longe.
Monalysa Alcântara —que, em seu discurso final, logo antes de ser eleita miss Brasil, prometeu lutar pela igualdade racial— agora faz parte desse clube.
Ela, como qualquer negro, sabe o que é racismo desde criancinha, e já mostrou que coragem não lhe falta. Agora precisamos provar que Monalysa não está sozinha.
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