Cerebral e violenta, 'Westworld' não é a nova 'Game of Thrones'
Na noite deste domingo (2), a HBO estreou sua maior aposta para 2016: A superprodução "Westworld", que teria a obrigação de se tornar um fenômeno como "Game of Thrones", o maior sucesso do canal de todos os tempos.
O pedigree da nova série é impecável: Desenvolvida por Jonathan Nolan (roteirista de quase todos os longas dirigidos por seu irmão Christopher) e sua mulher Lisa Joy a partir de um filme escrito e dirigido por Michael Crichton (que criou Parque dos Dinossauros), e com um elenco de estrelas internacionais que inclui o brasileiro Rodrigo Santoro. Sem falar no orçamento de 100 milhões de dólares para apenas 10 episódios.
A urgência da HBO é grande. "Game of Thrones" terá apenas mais duas temporadas, ambas mais curtas do que as demais. "Vinyl", lançada com fanfarra no início deste ano, já foi cancelada. A emissora precisa de um produto que justifique o preço premium que cobra de seus assinantes.
Será "Westworld"? Talvez. A série é ambiciosa, no escopo e na temática. Seu título se refere a um parque temático onde os visitantes interagem com robôs hiper-realistas num cenário de faroeste, podendo até mesmo matá-los. Não faltaram sangue e vísceras no primeiro capítulo.
Apesar de exigir bastante atenção do espectador, "Westworld" não parte de uma premissa original. A discussão ética sobre o homem agindo como Deus existe, pelo menos, desde o século 19: Já em Frankenstein a criatura se voltava contra seu criador, que ousara ir contra a ordem divina estabelecida.
Os apreciadores da ficção científica também perceberão parentescos com "Mr. Robot", "Black Mirror", "Blade Runner" e "Matrix", entre tantos outros.
Mas a série inova ao não ter heróis e vilões tradicionais. Quem mais se aproxima de uma protagonista boazinha é a ingênua rancheira Dolores (Evan Rachel Wood) —só que ela é uma androide, e pode ser reprogramada.
O que faltou, pelo menos na estreia, foi algum lance folhetinesco, capaz de segurar o interesse do espectador para o próximo episódio. O melodrama, tão presente nas telenovelas e até mesmo em "Game of Thrones", ainda não deu as caras.
Se não der, arrisco um palpite. "Westworld", com seus múltiplos níveis de videogame e seus roteiros inteligentes, porém frios, pode vir a ser um êxito restrito ao universo nerd. Com muitos prêmios e muito prestígio, mas sem o frenesi planetário provocado pela disputa pelo Trono de Ferro.
Claro que ainda é cedo para dar um veredicto. De qualquer forma, a HBO merece aplausos por se arriscar tanto. E, se "Westworld" não vingar, existe uma saída de emergência: "Game of Thrones" ainda pode render muitas "prequels" e histórias paralelas. Se é que já não estão sendo planejadas.
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