Benedito Ruy Barbosa merece ser execrado pela declaração homofóbica?
Pronto, a internet entrou em combustão mais uma vez. Não bastasse o país estar à beira de um cataclisma político, os frequentadores das redes sociais encontraram mais um motivo para se degladiar.
O novo pomo da discórdia foi uma “opinião” emitida por Benedito Ruy Barbosa durante a festa de lançamento de sua novela “Velho Chico” (Globo), que aconteceu no Rio de Janeiro na segunda-feira (7).
"Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças. Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um puta orgulho porque são tudo macho pra cacete", disse ele ao jornal "Extra".
Foi uma fala homofóbica? Claro que foi. Benedito repete, em outras palavras, o chavão “tenho amigos gays, mas...”. É uma atitude disseminada de norte a sul, e seus adeptos têm a certeza de que não são intolerantes. Afinal, não saem batendo em bichas por aí: só não querem que as crianças façam perguntas inconvenientes aos pais, que não saberiam o que responder.
Como se os gays não estivessem por toda parte, e como se a homossexualidade fosse transmitida pela televisão. Na verdade, o que a TV e outras mídias podem fazer é mostrar que ser gay, lésbica ou trans não é o fim do mundo.
Mas Benedito Ruy Barbosa deve achar que isto é um problema. Tanto que personagens de sexualidade diversa são raríssimos em suas obras. Houve um vaqueiro gay em “Pantanal” (Manchete, 1990) chamado Zaqueu (João Alberto), que sofria “bullying” dos colegas e não tinha vida amorosa. E houve, é claro, Buba (Maria Luísa Mendonça), a hermafrodita de “Renascer” (Globo, 1993), que não era exatamente homossexual.
É óbvio que um autor só escreve histórias que lhe interessam sobre assuntos que entende, e Benedito Ruy Barbosa não se interessa nem entende a homossexualidade. Mas isto é o bastante para justificar o boicote a “Velho Chico” que está sendo conclamado pelas redes sociais?
Não, para começar porque é inútil. Ninguém vai deixar de ver uma novela por causa das posições reacionárias do autor da sinopse; não num país grande e complicado como o nosso. “Velho Chico” fará ou não sucesso por causa de sua história e da maneira como ela é contada. Ponto.
Além do mais, é uma bobagem colossal execrar Benedito Ruy Barbosa. Ele tem 85 anos, e sua geração não foi educada para tolerar os LGBT. Exigir dele uma retratação é meio como brigar com um avô ranzinza. Só vai gerar desgaste, mais nada.
Deixem o Benedito em paz. Ele é quase tão velho como rio que batiza seu folhetim. E a vida também é como um rio: ela corre para a frente, deixando nas beiras quem resiste à correnteza.
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