Tony Goes

Será que o Brasil finalmente se cansou do 'Pânico'?

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Com o perdão do trocadilho infame e intencional, não é de hoje que o "Pânico na Band" se mete em... Encrenca. As polêmicas perseguem Emilio Surita e sua gangue desde os primórdios na RedeTV! —ou melhor, eles é que as perseguem.

Mas alguma coisa desandou na fórmula do humorístico, que aprontou suas molecagens durante mais de uma década praticamente impune. Foram muitos os baques de uns anos para cá, mas este episódio da Comic Con Experience tem um certo gostinho de pá de cal.

Houve a invasão ao enterro de Amy Winehouse em 2011, desrespeitosa e sem a menor graça. Também teve a revanche de Gerald Thomas em 2013, que bolinou Nicole Bahls e tirou o rebolado da trupe. No final daquele mesmo ano, um golpe terrível: Sabrina Sato deixou o programa e partiu para a carreira solo na Record. Caiu a audiência e sumiram anunciantes.

2015 já havia sido marcado por um revés considerável: o vexame do personagem Africano, interpretado por Eduardo Sterblitch. Pegou tão mal que o comediante entrou em depressão e sumiu do ar por um tempo.


Poucos meses depois, o perfil no Twitter do "Pânico" sugeriu que uma participante de apenas nove anos do "MasterChef Junior" (também da Band) se tornasse panicat —e isto bem no meio da controvérsia sobre pedofilia e TV que agitou a internet naquela semana.

Perto desses tropeços, a travessura na Comic Con Experience parece fichinha. O repórter Lucas Selfie "apenas" lambeu uma participante do evento em frente às câmeras. Nada que essa turma não tenha feito centenas de vezes antes, não é mesmo?

Só que o que importa aqui não é o fato em si, mas a reação que ele causou. O site "Omelete", um dos organizadores da CCXP, soltou uma nota de repúdio ao programa. As palavras eram duras, mas ainda mais revelador é de onde elas vêm.

Não se trata de algum artista magoado com o assédio incansável, nem de alguma minoria irritada com as piadas ofensivas. O Omelete e a Comic Con são voltados para, basicamente, o mesmo segmento do "Pânico": adolescentes, na idade ou no espírito, que consomem cultura pop.

Ou seja: o "Pânico" teve a manha de mexer com seu próprio público. Atravessou uma barreira invisível e mordeu a mão de quem o alimenta. Atirou no próprio pé.

Para coroar a trapalhada, o programa vem perdendo no Ibope para o "Encrenca", seu sucessor na RedeTV!. Com origem parecida —os criadores da atração também vêm do rádio —e um orçamento muito menor, o "Encrenca" disputa com o "Pânico" o mesmíssimo espectador.

Os tempos mudaram, e o humor agressivo do "Pânico" já não cai tão bem no Brasil de hoje. O "Porta dos Fundos" deixou o programa com cara de velho, e a perda de nomes fortes do elenco, como Ceará, tampouco ajudou. Sei não, mas podemos estar presenciando o fim de uma era.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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