Tony Goes

Não adianta reclamar: a 'TV Globinho' não vai voltar

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"É de Casa", a novidade da Globo para as manhãs de sábado, estreou com menos audiência que seu antecessor no horário, o infantil "TV Globinho". E perdeu no Ibope para o "Sábado Animado" do SBT, que exibe desenhos que já foram da Globo. Em sua segunda semana no ar, os números subiram um pouco, mas ainda ficaram abaixo dos obtidos pela emissora de Silvio Santos.

Para muita gente, isto é sinal de que o novo programa não vai durar muito tempo. Afinal, na TV aberta o que importa é a audiência, certo? Além do mais, qual é o sentido de exibir uma atração tão cara? São seis apresentadores e um cenário elaboradíssimo —na verdade, uma casa completa, com jardim e garagem, construída em pleno Projac. Os desenhos custavam muito mais barato, e atraíam mais espectadores.

Mas é aí que mora o engano. Existe uma razão muito concreta para o fato da programação infantil ter quase desaparecido da TV aberta: ela já não atrai publicidade como antes. Hoje em dia são inúmeras as restrições para anunciar qualquer produto para este público, que para complicar ainda mais, não detém o poder de decisão da compra. É por isto que os desenhos migraram em massa para a TV paga (onde os canais infantis são líderes de audiência).


Por enquanto, só o SBT resiste, além da TV Cultura. Aliás, essa deveria ser uma missão de qualquer emissora estatal: transmitir (e produzir!) programação infantil de alta qualidade para atender à enorme parcela da população que ainda não tem acesso aos canais pagos.

Já um programa como o "É de Casa" é um manancial de oportunidades de merchandising. Seu público-alvo é o sonho da maioria dos anunciantes: donas de casa de classe média, que têm bom poder aquisitivo e que escolhem as marcas de praticamente tudo o que suas famílias consomem.

É por isto que, se não está soltando fogos, a cúpula da Globo tampouco está terrivelmente preocupada com o "É de Casa". Os programas de Ana Maria Braga e Fátima Bernardes, que também expulsaram os desenhos de seus horários, tiveram deslanchadas igualmente problemáticas. E precisaram de inúmeros ajustes para se firmarem como líderes de suas faixas (fora que, volta e meia, ainda perdem no Ibope para a concorrência).

A tendência é irresistível e mundial. A programação infantil já foi quase toda para o cabo, e os próximos a segui-la serão os filmes. Reparou que há cada vez menos longas-metragens nos canais gratuitos? Além de caríssimos, eles não atingem mais a audiência que davam no passado, justamente porque hoje há dezenas de "janelas" —DVD, canais pagos, plataformas de internet —que vão sugando o público pelo caminho. Quando um "blockbuster" finalmente estreia na TV aberta, quase todo mundo já viu antes.

E depois do cinema irá o esporte, pode apostar. Os preços proibitivos dos campeonatos, mais a audiência em viés de queda, irá tirar os jogos corriqueiros das grandes redes a médio prazo. Só grandes eventos como a Copa ou as Olimpíadas sobreviverão na TV aberta, assim como o jornalismo e as novelas.

Portanto, não adianta tuitar com a hashtag "VoltaTVGlobinho". Mais do que um fracasso de audiência, o "É de Casa" vai precisar ser um tremendo fiasco comercial para que isto aconteça. E isto é para lá de improvável.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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