Tony Goes

Globo completa 50 anos entre tapas e beijos com o Brasil

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Nenhuma emissora de TV no mundo conseguiu igualar o sucesso comercial da Globo: quarenta anos consecutivos na liderança absoluta do mercado, abocanhando mais da metade de toda a verba publicitária do país.

Muito menos o sucesso "emocional". Personagens icônicos de suas novelas, como Sinhozinho Malta ou Odete Roitman, integram o DNA cultural de várias gerações de brasileiros.

Mas tudo isto tem um preço. Desde a redemocratização nos anos 80, a Globo também começou a ser vista como "parte do problema".

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O apoio implícito à ditadura militar, a cobertura tendenciosa da campanha das Diretas Já e a infame edição do debate entre Collor e Lula, em 1989, serviram para sedimentar, pelo menos entre os setores mais à esquerda, a imagem de uma empresa a mando de interesses escusos.

Há poucos dias, houve manifestações no Rio e em São Paulo pelo "fim" da Globo. Reuniram só meia dúzia de gatos pingados, mas é sintomático que exista gente que prega o cancelamento da concessão da emissora.

E quando algum político fala em "regulamentação da mídia", todo mundo sabe de que alvo ele está falando.


No entanto, a Globo continua em primeiro lugar na audiência. Verdade que sua pontuação média no Ibope caiu muito ao longo da última década, mas nenhuma concorrente conseguiu ultrapassá-la.

Esta dicotomia amor/ódio também é um caso único no mundo. Amamos odiar a Globo, e odiamos amá-la.

A própria emissora tira sarro disso. No humorístico "Tá no Ar", Marcelo Adnet encarna um militante nordestino que lança furiosas diatribes contra as supostas aberrações veiculadas pela "rédi" Globo.

Mas claro que esta animosidade também é motivo de preocupação. Nos últimos tempos, é nítido o esforço que o jornalismo da casa vem fazendo para ser mais preciso e imparcial.

Ainda assim, tem quem se ofenda quando os jornalistas da casa fazem perguntas mais incisivas a este ou aquele candidato. E sobrevive um "núcleo duro" radical para quem a Globo é a encarnação do demo.

Este nem é o maior desafio enfrentado pela emissora neste momento, quando completa meio século de existência. Eu diria até que é a idade que pode ser seu grande problema. A Globo é percebida como uma senhora vetusta pela garotada, que está mais interessada nas redes sociais e nas séries baixadas ilegalmente da internet.

Como ela pode superar este obstáculo? Investindo em conteúdo, e abandonando um pouco a obsessão de estar sempre em primeiro lugar em todos os horários. Não raro, isto nivela a qualidade por baixo —e qualidade é o diferencial mais valioso que a Globo conquistou em toda sua trajetória. Parabéns para ela.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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