Quem quer ver o filme da moça que vai leiloar sua virgindade?
Muito esquisito esse documentário "Virgins Wanted", dirigido pelo australiano Justin Sisely. É o tal do projeto que vai leiloar a virgindade da brasileira Catarina Migliorini, e também a do russo Alexander Stepanov.
É óbvio que não se trata de um filme sério, que pretenda retratar um momento delicado na vida de qualquer pessoa. Se fosse assim, o hímen de Catarina não estaria sendo oferecido num leilão pela internet (o lance mais alto já chegou a US$ 341 mil (cerca de R$ 690 mil); o martelo será batido no dia 15 de outubro). Ela teria sua primeira relação com um namorado, e ainda assim estaria se expondo demais.
O curioso é que também não se trata de um filme pornô. Catarina se entregará a um estranho a bordo de um avião entre a Austrália e os Estados Unidos, e o ato sexual não será filmado. Os produtores pretendem fazer muitas entrevistas antes e depois, mas dão ao felizardo que vencer o leilão a opção de permanecer no anonimato.
Não acho estranho que existam sujeitos dispostos a pagar uma pequena fortuna para participar desse furdunço. A virgindade continua sendo um fetiche, mesmo depois da liberalização dos costumes nas últimas décadas --ou talvez mesmo por causa dela.
O que eu acho esquisito mesmo é haver gente interessada em ver "Virgins Wanted". Porque o filme não será um estudo psicológico, mas também não terá sexo explícito. Pretende-se um meio-termo "de bom gosto": algo que "Fiz Pornô e Continuo Virgem", estrelado por uma sobrinha de Gretchen, Carol Miranda, não fingia ser.
Esse alegado bom gosto, no fundo, serve de disfarce para uma pornografia sutil, mas nem por isto menos degradante. O público-alvo do documentário de Justin Sisely não precisa ver Catarina Migliorini transando pela primeira vez para se excitar. Para isto, basta saber que ela se vendeu.
O fato dela insistir que não se trata de prostituição só aumenta a carga erótica em torno da situação: é uma moça de família, não uma profissional. E ela ainda tentou pagar de boazinha ao dizer que vai usar parte do dinheiro arrecadado para construir casas populares.
Não sou moralista e acho que cada um pode fazer o que quiser com o próprio corpo. Catarina é maior de idade (tem 20 anos). Mas sua ingenuidade chega a ser comovente: diz que quer ficar famosa, não rica. Se fosse uma quarentona leliloando a própria virgindade, poderia até ser divertido. Mas, com uma moça que acabou de sair da adolescência, a exploração fica nítida.
E assim vamos chegando aos limites do que se pode fazer dentro de um "reality show", que é o que "Virgins Wanted" é na verdade. Quanto será que falta para começaram a matar gente para valer, como em "Jogos Vorazes"?
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