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Thiago Stivaletti
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Com Nicole Kidman, 'Babygirl' é 'Nove Semanas e Meia de Amor' com toneladas de culpa

Aventuras masoquistas de uma executiva poderosa com seu novo estagiário conseguem ser tão leves quanto '50 Tons de Cinza'

Nicole Kidman e Harris Dickinson em cena do filme 'Babygirl', de Halina Reijn - Divulgação
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No mundo de hoje, em que até o nosso tempo é devorado pelas demandas da tecnologia, nem o sexo conseguiu sobreviver como terreno de liberdade das pessoas. No cinema, com raras exceções, os filmes ditos ousados nesse terreno conseguem no máximo simular um bom comercial de perfume.

Trago isso a propósito de "Babygirl", vendido desde o mais recente Festival de Veneza como um dos filmes mais polêmicos e ousados do ano. O filme traz Nicole Kidman como uma poderosa CEO de Nova York, casada há anos com um diretor de teatro (Antonio Banderas), com filhos adolescentes, que se vê irremediavelmente atraída por um novo estagiário de sua empresa (Harris Dickinson, o modelo entediado de "Triângulo da Tristeza").

Já nas primeiras interações, Samuel parece querer mandar em Romy, dando pequenas ordens e ignorando a presumida hierarquia que existe entre eles no trabalho. Em vez de repudiar a atitude arrogante do rapaz, ela se deixa levar, e logo eles estão se encontrando em quartos de hotéis distantes para ver onde essa atração pode dar.

Não que as cenas que envolvem a dominação de Romy por Samuel sejam ruins. A diretora holandesa Halina Reijn recupera da sua infância nos anos 80 dois dos grandes hits eróticos da década –"Never Tear Us Apart", do INXS, e "Father Figure", de George Michael– e com eles faz decolar as duas melhores cenas do filme, que avançam o sinal vermelho dos tabus sexuais dos personagens.

São os momentos em que Kidman faz valer as indicações que anda recebendo nesta temporada de prêmios, sem medo de botar em risco sua imagem elegante.

CHICOTE LIGHT

Mas não espere nada de realmente forte. Samuel não é Christian Grey, o farialimer dominador de "50 Tons de Cinza", e nem faz uso de chicote ou qualquer outro apetrecho. Kidman também não chega aos pés, por exemplo, do que uma Charlotte Gainsbourg encara em "Ninfomaníaca", de Lars Von Trier.

Assim, "Babygirl" fica mais próximo de "Nove Semanas e Meia de Amor", com Kim Basinger e Mickey Rourke, filme erótico cult dos anos 80 que também continha mais charme do que ousadia.

Um dos problemas de "Babygirl" é que, como costuma acontecer no cinema americano –Reijn é holandesa, mas o filme é uma produção da americana A24–, tudo tenha que se revolver numa certa conciliação no terceiro ato. Sem entrar em spoilers do que acontece, a coisa envereda até para um papo superficial sobre a natureza do masoquismo, bem ao gosto do politicamente correto.

Pensando melhor, Nicole foi mais longe há 25 anos, dando vazão a suas fantasias pelas mãos de Stanley Kubrick em "De Olhos Bem Fechados" (1999). Ela era então casada com seu parceiro de cena, Tom Cruise. Mas o casal não resistiu à descida avassaladora que fizeram ao fundo de suas fantasias sexuais –e acabaram se separando na vida real.

Perto da obra-prima de Kubrick, "Babygirl" é um pouco como os produtos milimetricamente calculados que a empresa de Romy vende: tecnicamente impecável, mas sem nada de surpreendente.

"Babygirl"
Estreia dia 9 de janeiro nos cinemas

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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