Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Thiago Stivaletti

Série da Netflix faz reviver a emoção das corridas de Senna como se fossem hoje

Xuxa brilha e Adriane Galisteu mal aparece nos seis episódios sobre a vida do piloto

Gabriel Leone como Ayrton Senna na série "Senna", da Netflix
Gabriel Leone como Ayrton Senna na série "Senna", da Netflix - Alan Roskyn/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Se vamos falar de Ayrton Senna, preciso começar com uma confissão. Quando ele morreu, eu tinha 16 anos e não fui nada bacana com o mito. O jornal da minha escola queria alunos que respondessem à seguinte pergunta: "A comoção nacional em torno da morte de Ayrton foi justificada?".

Eu, um comunistinha em formação, filho de mãe professora grevista que tomava patada de cavalo do Maluf na porta do Palácio do Bandeirantes, me encarreguei de escrever o texto do NÃO. Lembro de ter escrito algo do tipo "Senna representa um esporte de elite que não tem nada a ver com as massas. Em vez de parar o país pela morte de um cara que sempre teve tudo, deveríamos reservar essa cerimônia aos meninos de rua que morrem de fome todos os dias".

O povo na escola ficou um mês me olhando feio, e um garoto de outra classe tentou cuspir na minha cara, sem sucesso. Nascia um polemista.

Hoje, me arrependo do texto amargurado, que mostrava meu total desconhecimento do poder magnético do esporte, da força do mito, sua jornada de superação, da história de um cara que peitou as escuderias e pilotos muito mais bem nascidos que ele. Típico golpe de adolescente que quer chamar a atenção do mundo.

Tudo isso é para falar de "Senna", a aguardada série da Netflix que estreou na última sexta, com Gabriel Leone na pele do piloto que perdeu a vida na fatídica curva Tamburello do circuito de Ímola, na Itália. Tinha apenas 34 anos e três títulos de campeão da Fórmula 1.

"Senna" entrega aquilo que mais se espera da série: reforçar o mito encenando com maestria cada uma das corridas decisivas que Ayrton viveu.

A edição frenética é de tirar o fôlego, e faz o espectador entrar num estado de tensão absoluto, mesmo que lembre bem como o piloto se saiu em cada corrida. Elas são o eixo central da narrativa e, bem espalhadas ao longo dos seis episódios, emocionam mesmo quem nunca foi fã de Fórmula 1.

O uniforme e o carro de Ayrton já são uma atração em si, uma viagem sem volta aos anos 80, com marcas que se perderam no tempo. Difícil prestar atenção aos diálogos ao ver um carro com o logo do jeans Pool, do Banerj, da Estrela —depois da tal cena, passei um dia inteiro em modo nostalgia cantando "Todo segredo de um brinquedo vive na nossa emoção...".

No boné de Ayrton, ainda reluzem o banco Nacional e a Goodyear. E o capacete traz o famoso logo da Transbrasil, que um dia rivalizou com a Varig, para nos lembrar que a falência é um perigo sempre à espreita nas companhias aéreas desse país.

Ricca, o pai do Brasil

O primeiro episódio requer um pouco de paciência, já que ainda estamos no Ayrton corredor de kart. Alice Wegmann está longe de aproveitar o seu talento como Lilian, a namorada de infância e única mulher com quem ele casou oficialmente; e Marco Ricca, depois de viver o pai de Chitãozinho & Xororó e o marido da Hebe, agora gasta todo o seu sotaque da Móoca como Milton, pai do ídolo.

Ótimo ator e comediante, Gabriel Louchard foi a escolha ideal para viver Galvão Bueno. Sobre o namoro de Ayrton com Xuxa, que não se espere nenhuma novidade.

A série mostra o básico do básico, o namoro que sucumbiu à agenda lotada dos dois, o bolo que o piloto deu na Rainha dos Baixinhos em Nova York e (claro) o Xou da Xuxa em que os dois parecem adolescentes assumindo o namoro pra turma toda. Mesmo sem muito tempo em cena, Pâmela Tomé está super convincente como a loira, sem cair em exageros.

Adriane Galisteu mal existe na trama. Ela aparece só lá no final do quinto episódio, quando Ayrton a conhece na festa da vitória do GP do Brasil, em março de 1993 —detalhe: ao som de "Rythm is a Dancer", hit do Snap que também embalava o go-go boy Victor Fasano no Clube das Mulheres da novela "De Corpo e Alma" (1992).

Julia Fioti nem tem tempo de fazer nada com a personagem. O "gelo" talvez tenha a ver com o fato de que a série foi toda feita com conhecimento e permissão da família Senna, e Galisteu nunca foi muito próxima dela.

Por fim, vale dizer que a Gullane, produtora por trás de "Senna", conseguiu fazer uma série de padrão internacional que tem potencial de conversar com assinantes da Netflix no mundo todo —bem mais do que "Cidade Invisível", "3%" e outros projetos que o streaming já bancou por aqui.

"Senna" Todos os seis episódios já disponíveis na Netflix

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem