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Thiago Stivaletti

Mavi, Iberê e a nova broderagem em 'Mania de Você'

Relação entre o vilão e seu braço direito tem ultrapassado a fronteira da simples amizade

Dois homens conversam e fumam
Mavi (Chay Suede) em cena com Iberê (Jaffar Bambirra) em "Mania de Você" - Reprodução
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São Paulo

"Tá bonito, hein, príncipe?! Tu viu na revista esse look?! Ficou bom demais! Tá bonito, tá cheiroso..." Se você pensa que essa frase foi dita por Viola a Mavi ou por Luma a Rudá em "Mania de Você", se enganou.

O papinho além da amizade é entre Mavi (Chay Suede) e seu braço direito, o ex-pescador bonitão Iberê (Jaffar Bambirra). Enquanto elogia, Mavi come Iberê com os olhos, encosta o corpo no do amigo e se aproxima tanto que o beijo quase sai. "A química que nenhum casal da novela tem", ironizou um espectador nas redes.

Mavi e Iberê estão ensinando ao público um novo tipo de relação entre os homens héteros: a broderagem. Procure o termo na internet e você vai encontrar significados diversos. Alguns dizem que a broderagem é a boa e velha camaradagem entre homens héteros. Outros dizem que, para haver broderagem de fato, a amizade ficou tão próxima que envolve carinhos e relações sexuais "sem que necessariamente os amigos se definam como homossexuais".

Sim, é confuso, mas também bastante saudável. Numa cultura machista como a nossa, os homens passaram décadas sem poder demonstrar nenhum grande afeto em público. O abraço tinha que ser rígido, cheio de tapas nas costas, e beijo no rosto nem pensar.

A broderagem em "Mania de Você" ajuda a naturalizar para o público da novela um comportamento antes tido como errado, e ao mesmo tempo atiça as fantasias sexuais de mulheres hétero e homens gays.

É curioso perceber que a relação de Mavi e Iberê é uma evolução de uma broderagem mais antiga que já rolou nas novelas –mas que só era permitida se rolasse entre "brothers" (irmãos) de verdade. Silvio de Abreu foi o primeiro grande adepto da moda, criando irmãos gostosos e descamisados em suas novelas: Atos, Portos e Aramis em "Cambalacho" (1986); Apolo e Adônis em "Sassaricando" (1987); e Gerson, Gera e Gino, os "filhinhas" da dona Armênia, em "Rainha da Sucata" (1990).

Depois, foi a vez de Carlos Lombardi, herdeiro de Silvio e autor mais lembrado como o rei dos descamisados. Em "Quatro por Quatro" (1994), a oficina do mecânico Raí (Marcello Novaes) era um templo da broderagem em plenos anos 1990.

Em "Uga Uga" (2000), ela aparecia na relação dos irmãos Baldochi (Humberto Martins) e Van Damme (Marcos Pasquim), mas também na relação mestre-discípulo entre Baldochi e o pelado Tatuapu (Cláudio Henrich), um indígena loiro que seria canceladíssimo em 2024.

Ah, faltou dizer que, para a broderagem manter seu fascínio, ela não pode deixar de vir embalada em muitos signos de virilidade e masculinidade à moda antiga. Outro dia, Mavi pediu para Iberê "bater um wheyzinho" para ele, em referência ao suplemento tomado por dez entre dez marombeiros durante os treinos de musculação.

Tudo bem. Como canta o Milton Nascimento, "qualquer maneira de amor vale a pena". E quem sabe Mavi e Iberê não nasceram mesmo um para o outro? Eu também já estou torcendo pelo novo casal...

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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