Sabe quantas páginas existem na internet? Não? Nem eu. Mas eu perguntei para o ChatGPT4.o e, se ele não estiver alucinando, a resposta é "cerca de 30 bilhões de páginas".

E mais, somos 5 bilhões de seres humanos com perfis em redes sociais, produzindo conteúdo e publicando coisas o tempo todo. É muita informação, muita notícia, muito assunto.

No entanto, mesmo com tanta oferta de temas, sabe qual foi um dos fatos mais comentados desse começo de julho aqui no Brasil? Acertou quem disse o vídeo do cozinheiro do Arthur Aguiar em que a filha do artista com Maíra Cardi, que tem apenas cinco anos, chamou o celular do rapaz de "celular de pobre" e mostrou seu iPhone bonito, lilás.

O que podia ter sido uma cena corriqueira do dia a dia de um profissional e uma criança, virou tema de debate público. Por uma única razão. Porque o cozinheiro gravou a cena e publicou em um perfil aberto. Porque é assim que estamos vivendo, expondo intimidades o tempo todo, para todos verem. Não sei como esse vídeo virou notícia, quem foi que viu, republicou, mandou para um colunista. Só que a partir daí, o caminho foi o seguinte:

• Sites, colunas e jornais publicando o vídeo do chef/cozinheiro Cleitom Martins com a criança de cinco anos de idade;

• Perfis em várias redes comentando a fala de menina, a educação (ou a falta de) dada pelos pais;

• A mãe, Maíra Cardi, detonando o ex em seu Instagram, nos mais variados quesitos, e dizendo que não fala de dinheiro em sua casa com Primo Rico;

• O pai, Arthur Aguiar, reconhecendo que a fala da filha foi ruim e dizendo que ela deve ter ouvido isso de alguém, já que é uma criança e usando a detestável expressão "peço desculpas a quem se sentiu ofendido";

• O chef defendendo a menina e aproveitando para pedir Pix para financiar um curso de culinária

• Um site convidando um psicólogo para comentar o ocorrido

A coisa foi se avolumando de tal forma que o assunto, que poderia ser apenas um problema de um ex-casal em relação a sua filha, virou discussão no tribunal das redes.

E, como faço parte das mesmas redes e não comentei nada no meu perfil, vou dar minha opinião aqui.

Para começar, não me parece correto expor, publicar vídeo de uma criança sem permissão dos pais. Por mais intimidade que o cozinheiro tenha com a menina, ele não deveria expor a menor. Ela tem cinco anos, sabe.

Segundo que os pais poderiam apenas pedir para tirar o vídeo, em vez de aproveitarem a exposição para trocarem acusações de forma pública e, mais uma vez, ampliar a discussão e expor a filha deles.

Terceiro que, pelo amor de Zeus! Teve gente querendo cancelar a criança! Criança não pode ser cancelada! Criança precisa de orientação, educação. Crianças são esponjas que absorvem tudo a seu redor, que aprendem e emulam adultos. Se ela disse isso, muito provavelmente ouviu ou aprendeu de algum adulto. Agora, cancelar a menina? Por favor, Brasil. Já fomos melhores.

E não adianta e dizer que esse assunto é irrelevante. As pessoas não acham. Porque elas têm filhos, tem pais, tem ex e aproveitam para falar de maternidade, de educação, de consciência de classe, de dinheiro. São, sim, assuntos que nos tocam no dia a dia.

Espero que esse caso, ao menos, tenha servido para deixar uma lição. Dar pitaco na vida de famoso que se expõe, ok. É do jogo. Mas criança não pode ser atacada. Nem exposta sem permissão. Muito menos cancelada. Porque ai nem é questão de falta de educação, mas de falta de noção e de um mínimo de humanidade.

Rosana Hermann

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Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.