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Rosana Hermann
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A vida sexual do Caetano Veloso não é da nossa conta

Sociedade não gosta de discutir assuntos, gosta só de falar de pessoas, de fulanizar os temas

Paula Lavigne e Caetano Veloso
Paula Lavigne e Caetano Veloso - Instagram/Paula Lavigne
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No começo da minha carreira em televisão, trabalhei com Marlene Mattos e, posteriormente, fui roteirista da Xuxa. Por conta dessa atividade, era comum que me convidassem como palestrante para falar sobre meu trabalho, em faculdades, eventos corporativos e encontros de empresas de comunicação. Eu ia, fazia minha apresentação sobre roteiro e criatividade e, no final, quando abria o microfone para dúvidas da plateia, invariavelmente perguntava: é verdade que a Marlene tem um caso com a Xuxa?

Minha postura profissional impedia que eu respondesse com grosseria, mas, por dentro, a vontade era berrar no microfone que, independente de ser mentira, verdade, de eu saber ou não a resposta, o mais importante é que a vida sexual dos outros não é da conta de ninguém.

Décadas depois, nada mudou. As pessoas continuam com o radar ligado na intimidade dos famosos. O mais simples comentário que alguém faça sobre sua vida sexual vira capa de portal, assunto de jornal, uma catedral gótica. E não é só curiosidade natural, há um aspecto controlador: as pessoas cobram que os famosos sigam suas expectativas em relação ao sexo, como se houvesse um padrão correto, um ISO 9000 das atividades sexuais humanas.

Um exemplo disso é o que aconteceu com Paula Lavigne ao falar de seu casamento com Caetano Veloso. No terceiro episódio da série Angélica: 50 & Tanto, Paula comenta o tempo em que ela e o marido se separaram. E menciona que eles continuaram parceiros profissionais, mas sem sexo.

Pronto. Virou um trelelê de que Paula e Caetano não têm mais vida sexual. E, claro, como a expectativa da sociedade é que o casal precisa continuar transando mesmo depois de 40 anos de casados, ela teve que "esclarecer" e dizer que, depois que voltaram, continuaram tendo vida sexual.

Eis o texto de Paula no Instagram: "Da maneira que o programa foi editado, surgiu um mal-entendido na minha fala sobre fazer sexo com Caetano. O que eu disse, de fato e na íntegra, é que quando nos separamos, a gente continuou convivendo e mantendo a nossa parceria profissional, só não fazíamos sexo (risos). Depois voltamos a um casamento, com sexo, rs. Espero ter esclarecido! Não dá certo falar sobre vida pessoal sempre existem más interpretações".

E aí eu te pergunto: por que ela se explicou? Que importância tem para o Brasil se esse gênio da música chamado Caetano Veloso ainda faz sexo aos 81 anos ou não? Ele tem alguma obrigação com a população em relação à sua sexualidade? Claro que não tem. Nem Caetano nem ninguém. E, se ele quiser reafirmar que ainda tem vida sexual ativa, que o sexo é importante para ele, também é um direito dele.

A conclusão que Paula tirou para sua vida é: "Não dá certo falar sobre vida pessoal". Já com Deborah Secco acontece o oposto. Ela gosta de dar detalhes sobre sua vida sexual e suas preferências. E aí as pessoas reclamam, porque acham que ela "fala demais sobre isso".

Claro que é importante que sexólogos e outros profissionais orientem o público respondendo perguntas. Grandes temas que falam da sexualidade humana precisam ser abordados. Mas, de forma geral, a sociedade não gosta de discutir assuntos, gosta só de falar de pessoas, de fulanizar os temas. Especialmente quando os fulanos são famosos.

Eu entendo que o ser humano tenha essa necessidade de saber se o que ele faz, pratica, pensa, sente, gosta, tem, está num padrão médio ou se ele é um ponto fora da curva. Por isso elegemos famosos como régua de comparação.

Mesmo assim, se a pessoa quer tanto saber se ela está dentro da média, se é "normal" que faça uma pesquisa no Google, pergunte ao ChatGPT. Mas, sem querer dar spoiler, independente da resposta, fica a dica de um dos mais famosos versos de Caetano, que vale para o sexo e para a vida: "De perto ninguém é normal".

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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