O raciocínio não vai salvar Patricia Poeta
Apresentadora é profissionalmente eficiente, mas afetivamente vazia
O termo "opinião pública" caiu em desuso. Agora que a maioria dos brasileiros têm celular com acesso à internet, a massa de pessoas que opina e se expressa em redes sociais, chats e caixas de comentários é chamada de "a internet".
Em todo lugar lemos frases como "fulano faz tal coisa e a internet não perdoa", "atitude de beltrano choca a internet" ou ainda "sicrana mostra mais do que devia e a internet vai à loucura". A internet ganhou status de uma entidade. E, se essa entidade tivesse cabeça e fosse convidada para aquele velho quadro do Raul Gil, a internet não tiraria o chapéu para Patricia Poeta.
Basta falar o nome de Patricia Poeta que a internet torce o nariz. Tudo o que envolve a apresentadora gera um tsunami de críticas e, em geral, com motivos dados por ela mesma.
Nesta segunda-feira (22), no Brasil quase todos os programas de TV repercutiram o crime inadmissível de racismo sofrido pelo jogador Vini Jr. numa partida de futebol na Espanha —e, entre eles, o Encontro.
Patricia Poeta comandava uma entrevista com a comentarista Alline Calandrini e, em dado momento, enquanto Manoel Soares exercia seu lugar de fala explicando sobre racismo estrutural, Patricia o interrompeu para dizer que a luta contra o racismo é de todos (o que é verdade) e usando a expressão "deixa eu completar meu raciocíno". Bastou para que a "internet" produzisse uma chuva de tuítes, posts, comentários, stories, vídeos no YouTube e TikTok apontando, mais uma vez, a indelicadeza da jornalista com Manoel. Alguns mais exaltados pediram a demissão da apresentadora.
No final da tarde, provavelmente depois de tomar conhecimento dessa reação coletiva, Patricia fez três postagens em seus stories:
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A primeira era um texto dizendo que "quando nosso foco deveria ser falar sobre combate ao racismo, as pessoas se voltam para picuinhas e deixam um assunto tão importante de lado". Patricia usou a palavra "picuinha" TRÊS vezes.
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A imagem seguinte mostrava sua participação no #MovimentoEsmeralda, contra o assédio a mulheres na emissora, destacando o ativismo da apresentadora.
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E a terceira investia no lado fofo de Poeta, com uma postagem de um de seus fã-clubes falando do dia do abraço.
Imagino que Patricia e sua equipe invistam muito tempo e esforço para conter essa permanente crise de imagem que a transformou em alvo do público e da concorrência. De fato, não é fácil fazer um programa diário, ao vivo, sem incorrer em gafes e erros, mas o problema está muito menos em críticas a qualquer tipo de falta de competência e muito mais no excesso de antipatia.
Patricia é esteticamente agradável, profissionalmente eficiente, mas afetivamente vazia. E, nos eventuais momentos em que se mostra emocionada, não gera empatia. O problema, portanto, não é do mundo da lógica, mas dos afetos. Em outras palavras, o raciocínio não vai salvar Patricia Poeta.
E, para piorar sua situação, ainda tem o fato de que a internet não perdoa.
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