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Rosana Hermann

Chega de enriquecer gente vazia

Pra que mostrar o jatinho particular a cada novo voo?

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Uma amiga me mostrou uma reportagem dizendo que a tendência agora é ver as pessoas absurdamente ricas como vilãs. Ostentar virou uma coisa cafona. Esfregar a fortuna e os bens de luxo na cara dos outros passou a ser obsceno. Estamos na era do fim dos excessos, em todos os sentidos. E isso vai mudar o jogo. Vai fazer com que muitos influenciadores famosos passem a ser vistos como ridículos. E deslumbrados. Porque alguns são mesmo.

E antes que alguém jogue a carta do "ah, mas isso é inveja", um lembrete: não há nada errado em ganhar dinheiro, prosperar, enriquecer. Vivemos num sistema capitalista e melhorar de vida é natural de todo ser humano. Mas há uma diferença entre comprar um avião pra usá-lo como meio de transporte e transformar a aeronave em cenário diário de selfie, fazendo bico toda vez que o bichinho decola ou aterrissa. O avião decola, voa e pousa mesmo, é para que isso que serve. Mas pra que mostrar o avião a cada novo voo? Parece coisa de galinha que toda vez que bota um ovo tem que cacarejar.

Ganhar bem e construir uma mansão e mostrar nas redes, ok. Muita gente tem interesse em ver como se constrói uma casa, acompanhar como uma novela, curtir a decoração. Bacana! Mas para que alardear que a casa tem, sei lá, 12 suítes, cinco piscinas, sete elevadores, dois helipontos? Ou mostrar a garagem com dez carros importados e blindados. É só para aparecer. Fora que a pessoa muitas vezes tem péssimo gosto. Eu já fui na casa de um sertanejo que tinha sofá com pés folheados a ouro. E ainda fazia questão de contar, pra dizer que tem dinheiro pra gastar em ouro, até na torneira do lavabo.

E influenciadora que compra itens caríssimos só para falar o preço? Ou pior, só para copiar modelos famosas? A pessoa tem o dinheiro, mas não tem gosto. Não sabe nem como usar o que compra. Parece um empresário bilionário que mostrou seu apartamento na Flórida, que tinha jacuzzi em quase todos os cômodos, mas não tinha sequer UM livro na casa, UM quadro. Zero arte. Zero cultura. Zero conhecimento. O apartamento parecia mais um showroom do que um lar. Sem alma, sem nada.

Todo mundo gostaria de ser milionário, por isso a gente joga na loteria. Mas não é porque a pessoa ganhou dinheiro que ela tem que deixar de ter consciência de classe ou parar de enxergar a realidade. Os maiores bilionários, inclusive, sabem que suas fortunas durariam muitas gerações e doam grande parte para ONGs, instituições e pesquisas científicas. Isso é ter bom senso.

Claro que é bacana sair do nada e subir na vida, é lindo ver talentos sendo reconhecidos. Mas para cada Paulo Vieira que triunfa com consciência, tem cem influenciadoras vazias que só ostentam para serem invejadas. Não sabem nada, não conhecem nada e acham que "produzir conteúdo" é apenas mostrar a vida que levam.

Fato é que entramos numa era de maior percepção e ostentar virou cafona. Fazer tudo para aparecer e ser cultuado ficou ridículo. A tendência é pensar no todo, no outro, no meio ambiente, na vida. Porque mesmo quem pode comprar cinco mansões e dez aviões só tem um, um planeta pra viver. Não tem outro planeta a venda, nem pro Elon Musk comprar.

Pense nisso. E reveja se, em 2023, você quer mesmo continuar a seguir Bad Influencers. Porque más influências existem sim e, exatamente como sua avó dizia, elas podem levar você para um mau caminho.

Ou fazer você de trouxa.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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