Renato Kramer

'Eu faria tudo exatamente igual', afirma Laura Cardoso

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O "Persona Em Foco" (TV Cultura) desta semana destacou a carreira da atriz Laura Cardoso, 87.

Entre outros flashes de trabalhos seus na telinha, foram resgatadas cenas da novela "As Gaivotas" (extinta TV Tupi - 1979), em que Laura contracena com outra diva da televisão brasileira: Yoná Magalhães. E também do clássico desenho animado "Os Flintstones", no qual Cardoso dava voz a Bety, mulher de Barney, o melhor amigo de Fred Flintstone.

"Você transitou por todas essas áreas super à vontade: você fez rádio, fez cinema, fez televisão, fez dublagem, fez teatro...", ia dizendo o ator Zécarlos de Andrade quando Laura completou: "Fiz um pouquinho de circo! O circo é mágico, é maravilhoso!", comenta a atriz.

E conta: "Era assim: a gente trabalhava a semana toda na rádio e ia ensaiando uma pecinha curta. Quando chegava o fim de semana, a gente ia apresentar a peça no circo. E o pessoal de circo é muito generoso, é muito bom. Mas em geral o circo era muito pobre e no final a gente acabava deixando o cachê, que era pouco, no próprio circo!", relembra Laura.

Sobre televisão, a atriz ressalta o valor da emissora: "Eu gosto muito da TV Cultura porque ela sempre se interessou pela qualidade do que ela faz, da programação, do texto, tudo na Cultura é bem cuidado, é bem feito!", afirma.

Na Cultura a atriz participou da série "Mundo da Lua" (1991), do teleteatro "O Velho Nô" (1976). "Ai, que bom... Que bom ver isso!", exclama Laura logo após assistir algumas cenas desses trabalhos.

"A gente veio de um processo muito artesanal da TV Tupi, e essa transição entre o artesanato da Tupi e Globo, essa indústria, foi muito difícil?"."É difícil. O ator de verdade tem uma certa resistência com esse negócio de indústria. O ator quer formatar, quer moldar, e esse negócio de muita tecnologia, muita industrialização, não sei, eu e uma porção de gente não gostamos muito", declara a grande atriz.

E dá um exemplo de descaso com o verdadeiro trabalho do ator: "Eu tava fazendo uma cena numa novela, e era uma cena dramática, o meu personagem falando coisas importantes e, de repente, a diretora parou a cena. Eu perguntei porque havia parado. Ela ia dizendo que era porque tinha que pegar a fulana. |Eu disse: não, não tem que pegar nada! Não tem que pegar ninguém! Tem que pegar eu! Porque sou eu que tô dizendo o texto, de verdade, sou eu que tô inteira aqui! Você não pode cortar pra fazer um close da bonitinha! Eu sou importante na cena!", relata a atriz com ênfase. A plateia a aplaude.

Antunes Filho, um dos mais prestigiados diretores do teatro brasileiro, aparece no telão para deixar um recado de admiração pelo trabalho da atriz. "Admiro você de uma maneira extraordinária, desde que fizemos juntos a peça 'Plantão 21'. A minha admiração por você, Laura, é profunda sempre, você sabe disso. Obrigado por essas coisas maravilhosas que você fez e faz!", declarou Antunes.

"Eu amo e respeito o Antunes. É realmente um dos maiores diretores do mundo. Eu estreei com ele no teatro em 1959, no 'Plantão 21'! E muita coisa que eu sei vem do Antunes", confidencia uma das grandes damas das artes cênicas brasileiras.

O ator Mauro Gianfrancesco lembra da importante personagem que Laura realizou na novela "Chocolate Com Pimenta" (Globo - 2003). "Até hoje me falam de 'Chocolate Com Pimenta', foi muito bom fazer, eu gosto muito do Walcyr (Carrasco), escreve lindamente, Walcyr é muito bom!", elogia Cardoso.

Quanto ao cinema, a atriz tem suas restrições: "É muito difícil! Pedacinho por pedacinho. Eu morro de medo, acho, às vezes, meu Deus, não vai dar! Mas é uma arte do diretor, o diretor tem que ser bom pra fazer o ator chegar onde ele quer. A direção é essencial no cinema. A direção é sempre muito importante", afirma Laura.

No telão, cenas dos filmes "Copacabana" (2001), de Carla Camurati, e "A casa da Mãe Joana" (2008), de Hugo Carvana (1937-2014). Neste último a atriz contracena com José Wilker (1944-2014). "Pena, né? Wilker foi embora, Hugo Carvana foi embora".

Em seguida a atriz confessa a sua grande admiração pelo diretor global Luiz Fernando Carvalho, com que fez "Hoje É Dia De Maria" (2005). "O Luiz Fernando tem um cuidado especial com o que ele faz, com o ator, com o texto. Para trabalhar com ele você tem aulas de dança, canto, dicção, ele é exigente!", comenta Laura.

Se ela acha que o ator deve emitir as suas opiniões de ordem política?

"Acho. O ator tem a obrigação de prestar atenção no seu país, no seu governo. Eu não gosto muito de política, acho uma coisa não muito limpa. Claro que há sempre muitas exceções, mas a maioria...", responde Laura.

Para um jovem da plateia que lhe pergunta porque alguns atores de televisão não conseguem fazer teatro, Laura é taxativa: "É porque não são atores, porque não sabem fazer!".

"Se voltasse no tempo eu faria tudo exatamente igual. Eu estou satisfeita com a minha vida, com a minha carreira, com o que eu escolhi, e vou ficar aí até morrer!", encerrou Laura Cardoso.

Crédito: Jair Magri/TV Cultura Laura Cardoso na entrevista a Abujamra, na TV Cultura
Laura Cardoso na entrevista a Abujamra, na TV Cultura

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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