Renato Kramer

'Nunca fiz música de protesto', afirmou Raul Seixas em depoimento de 1979

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O "Metrópolis" (Cultura) fez uma pequena homenagem ao cantor e compositor Raul Seixas (1945 - 1989) na última segunda-feira (29), um dia depois que o "maluco beleza" completaria 70 anos.

Com a locução do apresentador Cunha Jr., a reportagem contou que Raul era fã de carteirinha, literalmente, do 'rei do rock' Elvis Presley (1935 - 1977). Interessante perceber que, ao mostrarem a carteira de Seixas do "Elvis Rock Club" (Salvador - BA), a data de nascimento do cantor está registrada como sendo 28/6/44 e não 45.

Tanto era fã de Elvis que no início da carreira Raul imitava o jeito de se vestir e de empostar a voz do seu ídolo. Em 1964 já fazia parte do primeiro conjunto a utilizar a guitarra elétrica na Bahia: "The Panters".

Pouco tempo depois, informa Cunha Jr., Seixas gravou o seu primeiro disco (LP) no Rio de Janeiro, sob o título "Raulzito e os Panteras". Foi um fracasso. O cantor resolveu então fazer carreira solo, misturando rock and roll com música nordestina.

"O rock regrediu muito. O rock pra mim morreu em 1957, quando surgiu a época do twist, do hully gully", declarou Raul para a TV Cultura em entrevista de 1988.

A irreverência sempre foi a marca registrada da carreira de Raulzito. No Festival Internacional da Canção de 1972 inscreveu duas músicas ("Let Me Sing, Let Me Sing" e "Eu Sou Eu e Nicuri É o Diabo" – ambas finalistas), foi contratado pela gravadora Phillips e começou a fazer grande sucesso.

Crédito: Folhapress O músico Raul Seixas, em foto de março de 1984
O músico Raul Seixas, em foto de março de 1984

Apaixonado por discos voadores, Raul entra de cabeça na fase esotérica, lembra Cunha Jr., é quando conhece Paulo Coelho (futuro autor de best sellers) e cria a "Sociedade Alternativa" – com o lema: "Faz o que queres, há de ser tudo da lei". Desnecessário dizer que as ideias da dupla incomodaram a ditadura, o que levou Raul a um breve exílio nos Estados Unidos.

Antes do exílio, porém, o cantor deixou gravado o álbum "Gita" – cujo sucesso anteciparia a volta do músico para o Brasil. "Nunca fiz música de protesto. Dizem que eu faço, mas na minha opinião, negativo", afirmou Seixas em depoimento para a TV Cultura em 1979.

As ideias esotéricas fervilhavam na cabeça de Raul, explica o apresentador do "Metrópolis". Seixas gravou a canção "Há Dez Mil Anos Atrás" em 1976, quando Paulo Coelho decidiu pular fora e separar a dupla. Raulzito seguiu sozinho e lançou "O Dia Em Que a Terra Parou" e, apesar do sucesso de "Maluco Beleza", o disco foi detonado pela crítica.

Raul Seixas começou a ficar muito doente em consequência do alcoolismo. Na década de 80 pulava de gravadora em gravadora, mas o mercado começava a dar as costas para ele.

Em rápida entrevista, uma repórter da TV Cultura (1981) pergunta ao cantor: "Porque o nome (do show) Abre-te Sézamo?". "Abre-te Sézamo é uma homenagem a nossa abertura brasileira, com quem eu tenho o prazer de ter convidado Ali Babá, trazendo da história, do passado – e os quarenta ladrões que sempre estiveram aqui, né?", responde Raul, dando uma sonora gargalhada.

Segundo a reportagem, foi a parceria com Marcelo Nova que tirou Raul das cinzas. Juntos eles lançaram o disco "A Panela do Diabo". O disco foi lançado dois dias antes de sua morte. Raul Seixas morreu em casa, sozinho, vítima de uma pancreatite. O fim tão precoce e o legado tão grande transformaram Raulzito em ícone – o eterno "maluco beleza" do rock nacional, afirma Cunha Jr.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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