Renato Kramer

Félix merecia protagonizar o primeiro beijo gay do horário nobre da Globo

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No capítulo de quarta-feira (8), Félix (Mateus Solano) e Eron (Marcello Antony) disputaram a atenção do "carneirinho" Niko (Thiago Fragoso) em "Amor à Vida" (Globo).

Que a "vida gay" envolve muito mais do que apenas sexualidade as novelas já estão arriscando deixar bem claro em suas tramas. Não que alguém não soubesse, mas para uma grande camada da sociedade, algumas realidades ainda só se tornam plausíveis quando retratadas em uma teledramaturgia do horário nobre.

Félix vira herói ao salvar a vida do bebê de César em "Amor à Vida"

Mas ainda há restrições veladas. Outras totalmente explícitas.

Enquanto casais heterossexuais têm cenas picantes de romance e até mesmo de sexo, nada explícito, é verdade –os casais gays são ainda necessariamente mais "reservados", digamos assim.

Os protagonistas Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira) já tiveram boas oportunidades de realizar cenas "calientes". O casal Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall) então, nem se fala! Haja hormônio! Beijos estratosféricos, que certamente adiariam a necessidade da limpeza bucal de ambos.

Já com os casais gays, tudo é muito suave. Intuía-se que Félix ia fazer amor com Anjinho (Lucas Malvacini) quando este o procurava no flat. Mas mal havia o encontro e pronto, ficava tudo para a imaginação do telespectador. Eron e Niko quando estavam juntos e casados, se permitiam no máximo um pegar de mãos rápido, um breve carinho e muita discrição.


A questão é: o público que está recebendo o "relacionamento gay" em sua casa pela telinha, está recebendo com naturalidade ou apenas engolindo? E estaria pronto para assistir um "approach" maior entre duas pessoas do mesmo sexo? Ou até mesmo um beijo apaixonado como os de Bruno com Paloma?

Nem diria algo assim como o "casal sempre no cio" (Michel e Patrícia), já que o exagero em qualquer circunstância se torna desagradável. Mas afinal, o que estaria "pegando"? Normas da emissora, recato do autor ou receio da repercussão junto aos milhões de telespectadores?

Não sou a favor de enfiar nada "goela abaixo" de ninguém, mas não vamos ser tão hipócritas. Se os personagens são gays, formam um casal que forma até uma família com crianças adotadas e tudo –como manda o figurino–, eles devem ter o direito de demonstrar o seu afeto na mesma intensidade.

E é importante que assim seja: tudo muito natural, com muita civilidade, sem forçar a barra. E sorte de quem está acompanhando essa evolução do ser social em termos de abertura de mentes e de aceitação da diversidade. O que é que falta então para o famigerado "beijo gay" acontecer?

Félix, que lutou desde o início de "Amor à Vida" para definitivamente sair do armário –teve momentos em que até desejou voltar e trancar-se lá novamente, mas não, corajosamente enfrentou tudo e todos: desde o "papi soberano" até a "mami poderosa" e finalmente seguiu a sua natureza. Depois do calvário da derrocada total e da tragédia das performances a que teve que se submeter para vender "hot dogs", ele bem que merecia ser o protagonista do primeiro beijo gay oficial do horário nobre. "Vai que é tua, Félix!".

Até porque o primeiro a gente nunca esquece.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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