O discreto charme da 'Dietrich' de Sylvia Bandeira
A atriz Sylvia Bandeira, a Cilene de "Vidas Opostas" (Rede Record), está vivendo no palco a lendária diva alemã no espetáculo "Marlene Dietrich --As Pernas do Século".
O texto de Aimar Labaki traz uma visão mais humana da estrela que sempre pareceu tão distante. No espetáculo é a própria Dietrich, já isolada em seu apartamento em Paris, que conta os principais momentos de sua vida particular e de sua carreira, em cenas que viajam entre presente e passado.
A direção de William Pereira é sensível e sofisticada, tratando com extrema elegância desde o apogeu até a extrema solidão dos últimos anos de vida da protagonista de "O Anjo Azul" (Josef Von Sternberg - 1930). A luz difusa que cria um ar de mistério na encenação é de Paulo César Medeiros, e os figurinos de bom gosto são de Marcelo Marques. A cenografia competente também é assinada por William Pereira.
Sylvia Bandeira não tem arroubos de interpretação. Vai envolvendo o espectador aos poucos, sutilmente. Quando nos damos conta, já estamos fisgados pelo discreto charme da 'Marlene Dietrich' da atriz.
A música ao vivo, sob o comando do pianista e diretor musical Roberto Bahal, dá um toque de classe a mais no espetáculo. Acompanham-no Jefferson Martins (violoncelo) e Fernando Oliveira (clarineta). São muito bem executadas mais de vinte canções no desenrolar da peça. No elenco, José Mauro Brant, Marciah Luna Cabral e Silvio Ferrari têm ótimas atuações, especialmente nos números musicais.
Entre as canções mais conhecidas de Dietrich, Sylvia Bandeira canta 'Lili Marlene' (Hans Liep), 'Ich Bin Die Fesche Lola' (Mischa Spoliansky e Marcellus Schiffer), 'Luar do Sertão' (Catulo da Paixão Cearense) e 'LaVie En Rose' (Louis Gugliemi e Edith Piaf). Com Piaf consta que a atriz teria tido um 'affair' muito especial. "Eu queria tanto ter as tuas pernas...o teu rosto", teria dito Piaf para Marlene certa feita. "E eu queria ter a tua intensidade quando canta", respondera-lhe Dietrich. Sylvia conta esse episódio com leveza e intimidade.
Afora Piaf, Marlene, que fora casada formalmente por toda a vida com um alemão com quem teve a sua única filha Maria, apresenta em seu rol de célebres amantes o famoso ator americano Gary Cooper e, o que seria o amor de sua vida, a estrela do cinema francês Jean Gabin.
Dietrich era alemã, mas foi para os Estados Unidos assim que o nazismo instalou-se como uma realidade em sua terra natal. Naturalizou-se americana e foi a artista que mais arrecadou dinheiro vendendo bônus de guerra. Envolveu-se a ponto de ir cantar no front para os soldados de todas as nacionalidades, contribuindo assim com a vitória dos aliados. "Eu arrecadava dinheiro para comprar bombas que seriam jogadas na Berlim que eu tanto amava", desabafa a Dietrich de Sylvia Bandeira com uma dor contida.
Talvez seja este o segredo de "Marlene Dietrich - As Pernas do Século", em cartaz no Teatro Nair Bello (Shopping Frei Caneca - SP): suavidade, delicadeza e muito refinamento no contar a vida de um mito do cenário artístico mundial, trazendo até nós o lado humano e até frágil da diva distante e aparentemente fria que preferiu, assim como a sua arqui-rival Greta Garbo, sair de cena antes que o público a visse envelhecer.
Em absoluto é o caso da atriz Sylvia Bandeira, que está bela e glamurosa em cena e, diga-se de passagem, com pernas que ainda podem abalar Paris!
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