Renato Kramer

"Para evitar um infarto, eu saí da TV Globo", declara Boni (a missão)

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Já nos últimos dias de 2011, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, voltou a dar uma entrevista bastante reveladora no programa "É Notícia" (Rede TV) de ontem à noite.

O jornalista Kennedy Alencar fez uma boa sabatina no ex-manda chuva da Rede Globo. Entre outras tantas questões, a sempre presente causa de sua saída da TV Globo que, segundo ele próprio, ajudara a colocar em pé.

"O doutor Roberto Marinho deixava toda a parte de conteúdo nas nossas mãos. Com a saída dele, forçada pela idade avançada, a política da casa tomou caminhos que não me convinham".

"Que caminhos?", perguntou o apresentador. "O pessoal da administração começou a ter pretensões artísticas e jornalísticas. Era impossível conviver com isso. Isso não dá certo." Confessou Boni. E reforçou: "depois de 31 anos de ter construído a TV Globo do nada, ter que me sentar numa reunião com leigos no assunto não me convinha. Então, para evitar um infarto, eu saí!", concluiu.

"E sobre a 'lenda' de que lhe pagaram um bolão para o senhor não ir para outra emissora, é verdade?", perguntou Kennedy. "De fato, fizemos um acordo de dois anos que logo depois foi renovado por mais dois anos", afirmou Boni. "Em algum momento o senhor achou que não devia ter feito?", instiga Kennedy. "Na semana seguinte eu já achava que não devia ter feito aquilo", responde rápido o diretor de televisão. "Por outro lado, eu tinha um amor tão grande pela TV Globo, como um filho, que achei melhor dar um tempo... foi confortável", completou.

Em seguida o jornalista pergunta por que não teria dado certo a sua ida para o SBT. Boni responde que acredita que, no último instante, Silvio Santos percebeu que perderia o controle da sua emissora. "Admiro muito o Silvio, mas não ia dar certo. São dois estilos diferentes", afirma Boni.

Se seria 'arrogância' ele exigir controle total quando trabalha? Nem um pouco."Eu exigir controle total é legítimo, pela minha experiência e pelo volume de acertos do meu currículo", responde com segurança o grande executivo de televisão.

Quanto à popularização da TV, Boni é mais uma vez bastante objetivo: "eu vejo isso como um tiro no pé. Tenho receio de que atendendo a isso a gente dê um passo para trás", explica ele. "E qual seria a sua receita para uma boa televisão", pergunta Kennedy. "Fazer o 'popular' bem feito", resume Boni. E desenvolve: "é muito fácil fazer duas coisas na televisão: o 'hermético' - muito bom, só que ninguém entende; e o 'popularesco' -- que te dá alguma audiência, só que nenhum anunciante quer comprar", declara um dos profissionais mais experientes da televisão brasileira.

O jornalista ainda levantou questões como a eventual parceria na campanha do ex-presidente Collor, os incêndios de 1969 nas TVs Record, Globo e Bandeirantes, e a estreia do grande comunicador Chacrinha, na TV Globo. O irreverente e genial apresentador resolveu fazer um concurso para eleger o "cachorro com maior número de pulgas", o que deixou o doutor Roberto Marinho nervosíssimo, segundo Boni.

No final do programa, um 'pinga fogo'. Entre outros diversos itens, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, respondeu: Filme: "Cinema Paradiso" --"quando assisto, rio e choro ao ponto de cair da cadeira do cinema", confidenciou o ex-todo poderoso da Rede Globo. Novela: "Irmãos Coragem"... "posso trocar?" --"Roque Santeiro", negociou Boni. Ator: Paulo Gracindo. Atriz: Regina Duarte. Cantor: Frank Sinatra. Cantora: Ella Fitzgerald. Ídolo: Roberto Carlos. Música: "Stella by Starlight" (Victor Young) --"prefixo do meu primeiro programa". Arrependimento: "ter saído da televisão". Sonho: "fazer uma nova televisão".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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