Mariliz Pereira Jorge

Gente chata merece o paredão

Ana Paula, uma das participantes do "BBB 18"
Ana Paula, uma das participantes do "BBB 18" - Paulo Belote/Globo
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Nesses primeiros dias de "BBB" me sinto como se estivesse em uma festa sem conhecer ninguém. É difícil guardar os nomes das pessoas, o que fica é a primeira impressão. O único nome inesquecível desde o começo foi o de Ana Paula. Por uma simples razão, ela é chata. E em quatro dias ela foi promovida a insuportável.

Portanto, não foi surpresa nenhuma que o simpático e descolado Mahmoud, que só descobri o nome ao dar um Google, tenha mandado para o paredão a estridente Ana Paula, protagonizando o primeiro momento constrangedor da competição. Antes que Tiago Leifert terminasse de perguntar quem seria o seu escolhido, Mahmoud gritou o nome da garota como se estivesse comemorando um gol. Quatro dias e ela já virou persona non grata.

A moça se meteu na distribuição das camas de pessoas que estão num quarto que não é o dela, quis decidir a que horas todo mundo deve comer, o que gerou fofocas em todos os cantos, por todos os grupinhos que começam a se formar, num momento em que o clima ainda é de colônia de férias, como o próprio Leifert descreveu.

Mas tem outro ingrediente na personalidade da moça que tem causado antipatia dentro e fora da casa: a voz. Ora Ana Paula parece uma criança birrenta, ora soa como uma foca sendo assassinada. Sem falar que é motivo de chacota porque chegou na casa dizendo ser bruxa, filha de ET. Pois é.

Embora seja a 18ª edição do "BBB", sou praticamente estreante como telespectadora. Acompanhei um ou outro episódio da época em que Sabrina Sato era só a namorada do Dhomini, isso lá na terceira temporada.

Sobre a autodeclarada bruxa, que diz que o "Big  Brother" é a chance de sua vida, só vejo um caminho: o paredão, a única coisa que merece gente chata como ela. Quem sabe seja mesmo a sua chance: em uma semana ela vai para casa e algum amigo (será que tem?) indica um psicanalista e um fonoaudiólogo.

A casa tem bastante gente interessante e mesmo a cota de “beautiful people” me pareceu formada por pessoas que eu convidaria para um churrasco. Vamos ver.

Mas o que eu mais fiquei interessada mesmo foi na tal família Lima e toda a treta e acusações de "incesto". A internet é mestre em tirar do contexto e olhar com maldade aquilo que não é seu próprio espelho. As fotos do pai dando um selinho na filha e deitado sobre ela na cama realmente são perturbadoras. Ler que o pai fiscaliza se a filha já está de calcinha causa estranhamento. Mas vendo as cenas, o momento, a reação de ambos e dos demais, além do “clima” do momento, é impossível ver qualquer maldade na relação de Ayrton e Maria Clara.

Ao serem confrontados pelo apresentador do programa sobre o incômodo causado na audiência, ninguém agiu como se tivesse sido pego em flagrante. Estavam todos tranquilos, embora surpresos. Eva, a mãe, de forma muito serena, fala sobre a relação de afeto entre eles, mas diz que talvez tenham que repensar a forma com que se relacionam em público, justamente porque muitos podem não entender.

Quem assistiu pode não ter gostado, mas não há erotismo algum naqueles episódios. A sacanagem está apenas na cabeça contaminada do espectador e do comentarista da internet. O julgamento e a condenação apressados são o pior câncer disseminado nas redes sociais.

É uma pena, mas o puritanismo hipócrita da família brasileira vai acabar despachando uma família simpática e amorosa de volta para o subúrbio do Rio.

Mariliz Pereira Jorge

É jornalista e roteirista.

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