De faixa a coroa

Primeira Miss Brasil, Martha Rocha consagrou a beleza como um caminho para oportunidades

Baiana que foi vice Miss Universo em 1954 morreu aos 87 anos em Niterói, no Rio de Janeiro

Martha Rocha em foto de 1960
Martha Rocha em foto de 1960 - Acervo UH/Folhapress
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Nem todo mundo sabe, mas a história do motivo pelo qual a baiana Martha Rocha perdeu o trono de Miss Universo, em 1954, foi inventada. O jornalista João Martins, da revista O Cruzeiro, criou a lenda de que a norte-americana Miriam Stevenson levou a melhor pois Martha tinha duas polegadas a mais no quadril do que a concorrente.

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A imagem do país em termos de conquistas internacionais não estava aquelas coisas desde a derrota na Copa de 1950. Além disso, havia uma forte turbulência política na época, com Getúlio Vargas na presidência e sua morte em 24 de agosto de 1954 —apenas um mês após a final do Miss Universo. Com essas cartas na mesa, Martins levantou essa hipótese das polegadas a fim de levantar a moral nacional e valorizar o orgulho do brasileiro. E deu certo!

Pegou tanto que virou marchinha de Carnaval, alcunha de carro com o porta-malas maior, nome de caminhonete, trem, sobremesa, pedra brasileira… E aí, a essa altura, Martha virou uma celebridade nacional, com uma vida social bastante agitada, sempre presente em grandes eventos, inclusive políticos, ao lado de presidentes da República. Ela permaneceu na mídia por muito tempo e com intensidade até os anos 80, e depois disso ainda muito lembrada e citada.​

Dessa forma, Martha, naquela época, consagrou um caminho bastante conhecido no meio artístico brasileiro: o da beleza dando acesso a um mundo de possibilidades. Afinal de contas, quantos artistas do cenário nacional hoje já foram misses ou misters? Exemplos é o que não falta. É possível, quem sabe, até fazer uma associação com o mundo das redes sociais, que junta seguidores para admirar a beleza alheia, monetizada com publicidade.

Seja lá qual tenha sido a real razão de Martha não ter sido a coroada no evento em Long Beach, na Califórnia (EUA), o resultado não poderia ter sido melhor. Ela virou uma grande estrela no Brasil e, idolatrada por todos, consagrou o concurso que, alguns anos depois, passou a ser realizado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para mais de 30 mil pessoas. Não havia quem não soubesse quem era Martha Rocha.

E hoje, para a maioria das pessoas para quem perguntar sobre uma miss brasileira, o primeiro nome que vem à mente é o de martha Rocha. E esse feito, não há estratégia de marketing que supere uma boa lenda.

De faixa a coroa

Fábio Luís de Paula é jornalista especializado na cobertura de concursos de beleza, sendo os principais deles o Miss Brasil, Miss Universo, Miss Mundo e Mister Brasil. Formado em jornalismo pelo Mackenzie, passou por Redações da Folha e do UOL, além de assessorias e comunicação corporativa.
Contato ou sugestões, acesse instagram.com/defaixaacoroa e facebook.com/defaixaacoroa

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