Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Zapping - Cristina Padiglione
Descrição de chapéu Pelé, o Edson

Pelé e as cenas que a TV e o cinema tornaram antológicas

Da 'Família Trapo' ao programa de Maradona na Argentina, Rei sempre foi bajulado pelos holofotes

Pelé e Maradona duelam no palco com a bola
Pelé foi o convidado de estreia de La Notche del Diez, programa de Diego Armando Maradona na TV aregentina, pelo canal Trece - APF
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Como toda figura habituada a ser bajulada pelas câmeras, Pelé não se fazia de rogado diante dos holofotes, ao contrário. Tampouco procurava por eles, mas, com astro mundial que era, colecionou inúmeras propostas para dar o ar da graça em filmes, novelas, séries e outros programas de TV.

Logo mostraria que não atuava --nem cantava, como gostaria-- com um décimo da habilidade demonstrada com a bola, mas a televisão e o cinema tiravam dele a casquinha que era possível, de preferência recebendo Edson Arantes do Nascimento naquele mesmo papel de sempre, o do Pelé.

Um dos raros episódios da "Família Trapo" que sobreviveu aos incêndios que atingiram o acervo da Record sucessivas vezes nos anos 1960 é justamente com Pelé, o gênio do futebol, contracenando com dois gênios do humor, Ronald Golias e Jô Soares.

No enredo, de 1967, disponível no YouTube e reproduzido abaixo, Bronco, personagem de Golias, não se conforma de ter de ceder sua posição em campo no jogo de futebol do bairro. O sujeito que aparece para substitui-lo é o Rei, mas Golias o trata como um qualquer e passa boa parte da história desafiando Pelé a chutar uma bola como ele, Bronco, que se acha muito bom, para desespero de Gordon (Jô) e Sócrates (Ricardo Côrte Real).

Gordon chega a defender uma simulação de pênalti de Pelé, que entra com absoluta humildade na brincadeira e se rende à comédia escrita por Jô e Carlos Alberto de Nóbrega.

Outra cena icônica do Rei em TV, bem mais recente, é de 2005, quando ele aceitou convite do amigo pessoal, mas adversário no simbólico duelo de melhor jogador do mundo de todos os tempos-- Diego Armando Maradona. Vários hinos de torcida se encarregam de promover uma rixa entre os dois ao longo de décadas, mas eles nutriam, ao menos na esfera pública, grande respeito e admiração um pelo outro.

Ao receber o Rei na estreia de "La Notche del Diez" ("A Noite do Dez"), no canal argentino El Trece, Maradona viu o Rei cantar uma canção em sua homenagem, que dizia assim: "Quem Sou eu Maradona? / "Quem é Você? / "Você quer ser eu, Maradona" / "E eu quero ser Você".

O auditório presente vibrou, e a cena ganhou uma repercussão mundial que hoje poderia ser definida como a tal da "viralização". Na morte do craque argentino, há dois anos, o brasileiro disse: "Um dia vamos bater bola no céu".

Pelé também contracenou com o quarteto liderado por Renato Aragão em "Os Trapalhões e o Rei do Futebol" em 1986, sob direção de Carlos Manga, em longa-metragem feito para celebrar os 20 anos dos Trapalhões.

Nos intervalos comerciais, esteve em diversos filmes publicitários, anunciando de tudo um pouco, até em campanhas fora do Brasil, como uma propaganda para o jogo Atari na Espanha. Anunciou pilha, café, bicicletas, vitaminas, bancos, rede de fast food e rede de farmácia, entre produtos de outros segmentos.

No cinema, esteve presente nos filmes "O Barão Otelo no Barato dos Bilhões", em tom de participação especial, e "Os Trombadinhas", como protagonista. Tratava-se de um filme policial e de aventura brasileiro, de 1979, dirigido por Anselmo Duarte. O roteiro era de Carlos Heitor Cony, com colaboração, veja só, do próprio Pelé.

Esteve ainda em "Pedro Mico", "Fuga para a Vitória" e "A Marcha", sem falar na participação especial em "Fuga para a Vitória",em que contracena com Sylvester Stallone, disponível na HBO Max.

Foi alvo dos documentários "Isto é Pelé", "Pelé Eterno" e "Pelé".

É TETRA!

Merece um capítulo à parte a sua atuação como comentarista.

Em 1970, ele esteve em campo para o tri. E em 1990, voltou a atuar nos mundiais, então como comentarista das transmissões da Globo, papel que desempenhou até a Copa de 1998. Deu sorte em 1994, quando quebramos um jejum de 24 anos sem título mundial. A seu lado, na cabine de transmissão do jogo, estava um Galvão Bueno que se impacientou com a verborragia do Rei.

Em imagens que vazaram da mesa de transmissão de um dos jogos nos Estados Unidos, Galvão conversa com alguém pelo fone de ouvido, explicando que não consegue conter Pelé: "Você passou o jogo inteiro no meu ouvido, [dizendo] 'fala pro Pelé não falar, fala pro Pelé diminuir'. Só se eu matar ele, cara, só se matar. Ele vem aqui, mete a mão no microfone, tum, abre e fala. Quem contratou que converse [com ele], eu vou dar uma marreta na cabeça dele, pô. Você vai me enlouquecer. Eu no ar não posso falar, eu tô fechando o microfone dele, é a única forma de evitar é fechar. Eu fecho, ele vai e abre de novo, como eu faço?"

Para a alegria da história, essa cena grotesca quase quase foi esquecida pela icônica gritaria de Galvão no momento da vitória do Brasil --"É tetra! É tetra!", bradava o locutor, abraçado a Pelé, com quem pulava diante das câmeras. A imagem de Galvão impaciente só não foi totalmente esquecida porque o YouTube tudo resgata e a imagem aí está.

Nesta quinta-feira, 29, dia em que o mundo perdeu Pelé, Galvão celebrou em vídeo a chance de ter narrado vários jogos tendo o Rei como comentarista, a seu lado.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem