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Zapping - Cristina Padiglione

Mãe de Paulo Gustavo pede respeito a bolsonaristas pelo significado de 'luto'

'Pessoas estão sofrendo e você está brincando de luto por causa de um candidato', diz texto publicado por Dona Déa

Paulo Gustavo e dona Déa Lúcia no doc 'Filho da Mãe'
Paulo Gustavo e dona Déa Lúcia no doc 'Filho da Mãe' - Divulgação
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São Paulo

Mãe do ator Paulo Gustavo, uma das mais de 680 mil vítimas fatais da Covid-19, dona Déa Lúcia publicou em seu perfil no Instagram um texto em que explica o que é de fato o luto. O termo tem sido muito adotado por bolsonaristas para definir o sentimento de terem sido derrotados nas eleições presidenciais do último domingo, 30 de outubro. E tem sido adotado inclusive por famosos como o ex-jogador Rivaldo.

"O luto merece ser respeitado. Pessoas estão sofrendo de luto de verdade e você está brincando de luto por causa de um candidato. Se você sentisse a dor do luto, parava de brincar. O Brasil segue vivo. Não seja um filho mimado. Respeite o outro. Somos um país democrata."

Dona Déa diz que o texto tem autoria desconhecida e foi recebido por ela via WhatsApp. "Mais empatia e respeito com quem realmente está de luto", disse ela. "Em nome de todos que perderam seus entes queridos".

Paulo Gustavo morreu em 4 de maio de 2021, quase dois meses depois de ter contraído o vírus. O humorista é uma das vítimas que poderiam ter sido salvas caso o cronograma de vacinação contra a Covid no Brasil não tivesse sofrido tanta resistência do governo federal.

A primeira vacina no Brasil foi aplicada em janeiro de 2020, dois meses depois de o Reino Unido já ter iniciado a imunização de sua população. O processo teve de obedecer à ordem de prioridades, começando pelos mais velhos e pelos profissionais de saúde.

Confira abaixo o texto completo publicado por Dona Déa:

"Tá de luto, querida? Vem comigo e vamos falar sobre o luto. Luto é uma dor forte, dilacerante e rasga a alma. Luto é preparar o café e esperar pelo outro, é perceber que aquele lugar está vazio, é as velas apagadas das datas comemorativas, é bater palmas para um ser invisível.

É pegar o celular e aguardar aquela ligação, rever aquela foto, é abrir os braços e não ter quem abraçar. É passar a mão no colchão e não sentir mais o calor daquela pessoa, ver o quarto intacto e se perguntando quando ele para bagunçar. É sentir-se culpado por tentar ser feliz de novo.

Luto é você acordar desesperado na madrugada com crise de pânico pedindo a Deus para trazer o outro de volta, é não saber o que fazer com as roupas, o perfume, a comida de que o outro gostava. Luto é você tentar comer e a comida não descer, perder peso, isolar-se e recusar a viver. Luto é você guardar uma lembrança e chorar toda vez que escuta aquele nome. Luto é conversar com um concreto esperando que ele responda, é imaginar o outro do seu lado mesmo não estando. Você não está em luto, só está magoado porque suas vontades não foram atendidas.

O luto merece ser respeitado, pessoas estão sofrendo de verdade e você brincando de luto por causa de um candidato. Se você sentisse a dor do luto, parava de brincar. O Brasil segue vivo, não seja um filho mimado, respeite o outro, somo um país democrata. Sem mais! Autor desconhecido"

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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