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Zapping - Cristina Padiglione

Daniella Perez: depoimento de Roberto Carlos é ponto fora da curva no documentário

Presença do cantor na 2ª parte da série da HBO nada acrescenta à boa produção

O Roberto Carlos no doc sobre Daniella Perez
Roberto Carlos em depoimento ao documentário 'Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez', da HBO Max - Reprodução HBO Max
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São Paulo

Ao dividir em duas partes o lançamento da série documental "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", a HBO Max ampliou o buzz da produção, ou seja, o tempo e volume de burburinhos e comentários sobre o assunto. Não que o tema, por si só, já não tenha apelo para larga repercussão, mas a estratégia de fato potencializou o eco sobre a produção.

Na quinta-feira (28), desembarcaram na plataforma os três últimos dos cinco episódios da série, dando ao espectador enfim uma noção completa da obra, que vale muito a pena ser vista.

Mas os dois primeiros capítulos têm mais essência, mais objetividade que os três últimos, sem contudo desvalorizar a emoção humana do caso, como aqui já foi dito.

Essa é uma qualidade que se dilui nos três últimos episódios, especialmente por trazer elementos que soam como tecido adiposo em uma história tão repleta de elementos macabros. O mais evidente deles é a presença de Roberto Carlos, amigo de Glória Perez, mãe da vítima, entre os depoimentos.

Entende-se que seria um desperdício desprezar uma fala qualquer do Rei, mas ela não acrescenta nada ao assunto ali enfocado e descredencia justamente a objetividade de toda a documentação sobre o caso Daniella Perez, morta por punhal por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz em 28 de dezembro de 1992.

Roberto aparece para elogiar a força da amiga e o orgulho que tem dela.

Já a abertura de espaço para as origens e o método de trabalho de Glória, autora do folhetim que levou Pádua a se infiltrar no seu universo e a contracenar com sua filha, não é e todo desnecessária. Vale para contextualizar a trajetória daquela mulher que iniciava ali, com a novela "De Corpo e Alma", palco da tragédia, a grande virade de sua carreira.

Mas também isso se excedeu na edição. Os excessos cometidos pela imprensa na cobertura do caso, viés que rende um outro documentário, poderia ter sido também melhor abordado.

EM COMPENSAÇÃO

A controvérsia sobre o fato de o documentário não ter ouvido os condenados ao crime se arrefece nesses últimos episódios, já que o último capítulo traz declarações, imagens e até uma entrevista de Pádua ao Programa de Ratinho, evidenciando que ele jamais foi capaz sequer de se desculpar pelo ato e segue procurando justificativas para tanto, de preferência, culpando a vítima. Está lá. Não era necessário procurá-lo de novo para corroborar um discurso inaceitável.

Apesar desses poréns, "Pacto Brutal" tem merecidadamente sido assunto bastante comentado nas redes sociais e publicações na imprensa desde a última semana, louvando sobretudo a coragem desta mãe, que ao longo desses 30 anos se uniu aos seus pares na luta pelo luto digno a filhos assassinados.

Nesses episódios finais, ficamos sabendo como, afinal de contas, Pádua foi parar no produto mais consumido do entretenimento no Brasil, a novela das nove e outros indícios de seu descontrole psicológico. O documentário não informa, mas o caso levou a Globo a adotar outros filtros para levar novos atores ao set, com ênfase para entrevistas com psicólogos.

O papel de Bira, que levou Pádua a "De Corpo e Alma", estava reservado a Alexandre Frota, que não foi liberado da novela das sete então em exibição para abraçar o novo personagem. Na urgência, a equipe de Roberto Talma recorreu a um longo cadastro de atores de que a Globo já dispunha na época.

A autora descreve ainda detalhes cruéis sobre telefonemas e recados anônimos capazes de agigantar seu pesadelo, com informações falsas sobre a própria investigação e até a respeito do túmulo da filha. O mundo é bom, mas tem muita gente ruim.

De Tatiana Issa e Guto Barra, "Pacto Brutal: o Assassinato de Daniella Perez" tem cinco episódios e está em cartaz na HBO Max.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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