Porta dos Fundos anuncia iniciativa para financiar diversidade
Grupo celebra 10 anos em busca patrocínio para formar profissionais de cores e gêneros diversos
Ao comemorar 10 anos de existência e uma trajetória de sucesso internacional, o Porta dos Fundos, maior fenômeno de humor surgido no Brasil neste milênio, anuncia a criação de um fundo para financiar a formação de profissionais que contemplem um perfil inexistente entre os cinco sócios-fundadores, todos homens brancos cisgênero.
A aposta mais urgente visa a acelerar a chegada de mais negros e negras à criação, ao desenvolvimento e à produção de conteúdo audiovisual. "Chega de dizer que não existem roteiristas negros, que não existem diretores negros", anunciou Fábio Porchat em vídeo exibido durante um painel do grupo durante a Rio2C, conferência que reúne profissionais de TV, streaming, música e games.
O projeto ainda tem seu funcionamento em fase de definição e deve ter mais detalhes anunciados em breve. Segundo Porchat, a proposta já atrai a atenção de algumas marcas procuradas pelo Porta dos Fundos para participar do novo fundo. A ideia é promover e patrocinar cursos de roteiro, direção, produção e interpretação cênica.
O Porta mantém boa relação com o mercado anunciante, tendo sido o time que mais protagonizou ações de branded content (propaganda embutida em conteúdo de entretenimento) em 2021, com 37 filmes publicitários exibidos na TV, YouTube e redes sociais.
A pesquisa mais recente feita pela Todxs, da Aliança sem Estereótipos da ONU Mulheres, aponta que o avanço da presença de negros e negras diante e por trás das câmeras tem patinado perto dos 20% do bolo de publicidade produzido no Brasil, um país onde mais de 54% da população é composta por descendentes de africanos.
Antônio Tabet, Porchat, João Vicente de Castro, Gregório Duvivier (colunista da Folha) e Ian SBF já vêm buscando há alguns anos um olhar feminino para balizar os roteiros de suas esquetes, filmes e programas. A maior parte dos funcionários da produtora é feminina. Mais recentemente, o grupo incorporou ao elenco alguma negritude, com as presenças de Noêmia Oliveira e Nathalia Cruz, e novos sotaques, com os alagoanos Ed Gama e Macla Tenório, vencedora do reality show promovido pelo YouTube Originals, no ano passado.
Roteirista da série "As Seguidoras", que foi produzida pelo Porta e está no ar pelo streaming da Paramount+, Manuela Cantuária contou, durante o painel na Rio2C, que é muito "bonitinho" ver os humoristas lhe consultando sobre roteiros suspeitos de preconceitos e estereótipos de gênero. "Eles chegam e perguntam: 'Manu, isso é machista?' E eu digo: 'É'. E então eles mudam o texto", revelou.
Ainda em franca minoria no staff do grupo, negros também são eventualmente chamados a opinar sobre determinados scripts.
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