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Zapping - Cristina Padiglione

Especial '70 Anos Esta Noite' revê a origem de novelas até antes da Globo

Programa homenageia os folhetins da TV com depoimentos de atores e reencontro de famosos

Patricia Pillar, Claudia Raia e Renata Sorrah se encontram no Especial "70 anos Esta Noite", da Globo
Patricia Pillar, Claudia Raia e Renata Sorrah se encontram no Especial "70 anos Esta Noite", da Globo - Paulo Belote dez.2021/Globo
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São Paulo

"Sua Vida me Pertence", produção da TV Tupi de (e com) Walter Forster, que marca o início da telenovela brasileira e justifica o aniversário de 70 anos do gênero neste 21 de dezembro, seria considerada hoje no máximo uma websérie.

Com só 15 capítulos de 20 minutos cada um, a novela ia ao ar duas vezes por semana, ao vivo, tendo marcado também o primeiro beijo da TV brasileira, um tímido selinho, entre Forster e Vida Alves. Só em setembro de 1963, com "2-5499 Ocupado", é que a telenovela viraria programa de segunda a sexta, depois estendida ao sábado. Com Tarcísio Meira e Glória Menezes, durou menos de três meses.

A telenovela avançou sete décadas suportando centenas de capítulos a cada título. A mais longa delas, "Redenção", de 1968, chegou a 596 episódios, na Excelsior. Já que a audiência brasileira tomou gosto pelas histórias episódicas, as emissoras foram testando espichar essa corda para reduzir custos --quanto maior a duração, maior a diluição de gastos com cenários.

Duzentos capítulos foi a média consensual de uma boa novela até duas décadas atrás, quando se reduziu o tamanho dos enredos, a ponto de termos hoje a segunda novela mais curta das nove, "Um Lugar ao Sol", de Lícia Manzo, com 107 episódios, ainda uma exceção devido à pandemia.

Com a pretensão da Netflix de produzir novelas no Brasil, só que em temporadas mais curtas, de até 30 capítulos, estamos de alguma forma voltando às origens, como observa Mauro Alencar, autor do livro "A Hollywood Brasileira".

O próprio Globoplay, ao anunciar "Verdades Secretas 2", como "a primeira telenovela feita originalmente para o streaming", empresta outra classificação às tramas de 50 capítulos, que vinham sendo tratadas como "superséries".

Para reverenciar um produto que já era paixão nacional desde o rádio, a Globo até mudou a programação regular e transferiu para segunda-feira a semifinal do The Voice a fim de ocupar a vaga com o especial "70 Anos Esta Noite", exatamente nesta terça, aniversário de "Sua Vida me Pertence". Vai ao ar após "Um Lugar ao Sol", a principal novela da TV nesta temporada.

A edição promete fazer jus à efeméride e não se restringir à história da telenovela só pela Globo, que soma 56 anos de vida e nem poderia ter testemunhado a primeira década e meia de novelas.

Único sobrevivente da primeira telenovela, o ator Lima Duarte, 91, que compareceu à inauguração da Tupi, conta como funcionava aquele negócio de filmar tudo ao vivo, em um espaço mínimo de estúdios onde era preciso revezar cenários com agilidade de gincana, durante os intervalos comerciais.

A homenagem da Globo se estende aos folhetins de Ivani Ribeiro e Janete Clair antes de chegarem à emissora. E a "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, considerada divisor de águas no gênero ao retratar mais Brasil e menos dramas de vizinhos latinos na figura do anti-herói vivido por Luís Gustavo, morto neste ano.

Também de fora da Globo serão mencionadas "Xica da Silva", da extinta TV Manchete, de onde vem também "Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa, que ganha remake da própria Globo no ano que vem.

A edição tem narração em primeira pessoa, como se a telenovela contasse sua história, na voz de Jéssica Ellen, e trata de promover grandes encontros em estúdio. São reunidos nomes que representaram sequências icônicas na história das telenovelas da própria Globo, como Carolina Dieckmann e Susana Vieira, que não se viam havia anos e relembram o sucesso em "Senhora do Destino", de Aguinaldo Silva.

Em vez de se apegar a uma narrativa cronológica, o especial faz recortes temáticos, como as heroínas, os vilões e vilãs, os casais românticos e as grandes matriarcas. Protagonistas de tantos dramas e comédias, Fernanda Montenegro, de 92 anos, e Lima Duarte se encontram para falar de tantas cenas memoráveis.

Tony Ramos e Antônio Fagundes relembram tipos genuinamente brasileiros como os coronéis, fazendeiros e homens do povo vividos por eles, com imagens de "Renascer", "O Rei do Gado", "Terra Nostra" e"Porto dos Milagres".

No bloco reservado aos malvados, vilões que a gente ama odiar, veremos as mulheres que exorcizaram os instintos negativos da audiência, ao darem vazão a crimes de toda ordem —enquanto elas fazem o diabo, o público esvazia o peito de seus piores pensamentos, como acontecia diante de Carminha, Laureta e Thelma, três facetas de Adriana Esteves, que se reencontra com essas personagens durante o programa.

Esteves também foi Nazaré quando jovem, mas, sobre a malvada de "Senhora do Destino", a própria Renata Sorrah falará. E Glória Pires lembra sua Maria de Fátima, de "Vale Tudo", obra de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères que figura em dez entre dez rankings de melhores novelas de todos os tempos.

Em meio a tanta naftalina, a Globo relembra sua primeira novela, "Ilusões Perdidas", de 1965, ano de sua inauguração, com Leila Diniz e Reginaldo Faria. A emissora começaria a marcar terreno nesse negócio como principal produtora do gênero no Brasil a partir de 1970, sendo "Irmãos Coragem", de Janete Clair, outro divisor de águas. Além da história em si, foi quando se passou a notar o peso da embalagem contida em cenografia, trilha sonora e abertura.

'70 Anos Esta Noite'

  • Quando Nesta terça (21), 22h40
  • Onde Globo

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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