Rafael Cortez inaugura nova seção da coluna: 'Três Perguntas Para...'
Apresentador do 'Matéria Prima' fala sobre humor, música e política
Responsável por resgatar o "Matéria Prima", título criado por Serginho Groisman na TV Cultura dos anos 1990, Rafael Cortez, 45 anos, é humorista, jornalista e músico. Ganhou fama pelo programa "CQC", um celeiro de talentos produzido pela Band, e passou também pelo "Vídeo Show", na Globo.
Durante a quarentena, criou seu terceiro solo de comédia stand-up, "Antivírus, o show", que fala sobre o isolamento social em decorrência da Covid-19 e a onda de lives no Instagram.
No início do mês, Cortez lançou o CD independente "Que Sorte a Minha", com direção de Pedro Mariano e 11 faixas de MPB assinadas por ele.
Rafael Cortez foi convidado a inaugurar uma nova seção desta coluna, disposta a bater uma bola com figuras que tenham repertório e e algo a dizer: "Três Perguntas Para...".
No caso dele, ficamos em três questões, mas apenas duas respostas, liberdade naturalmente concedida aos inquiridos do novo espaço. Sob o pretexto de que muito já falou sobre a associação entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, e a vitrine que lhe era oferecida, ainda que fosse em tom de crítica, no "CQC", pediu licença para se abster de comentar a nossa provocação.
Eis o que ele nos diz:
Olha, há contas boas e ruins a se pagar quando se é comediante. Vou começar pelo aspecto negativo. Ser comediante neste Brasil de hoje, com esse governo, com as coisas que estão acontecendo agora, com a depauperação da cultura, com a fome, com a crise, e a gente também apanhando de uma pandemia, é claro que é uma conta negativa. Mas a conta positiva é a que fico tentando visualizar o tempo inteiro na minha vida: muitas coisas boas aconteceram para mim, como artista, como cidadão, como ser humano, a partir do holofote que a comédia me deu. A comédia me transformou de um cara provinciano, para um cara conhecido, então a conta positiva é que mais está sendo honrada agora.
Você acredita que o "CQC" ajudou a projetar Bolsonaro para a presidência? Se sim, em que medida?
Cris, eu tenho o maior carinho pelo seu trabalho, acho você uma jornalista brilhante. Eu já falei muito sobre essa questão aí, eu tô aqui focado em divulgar o meu disco, vim falar dos meus projetos.
Qual a maior dificuldade de se fazer música a partir do sentimento, em uma indústria que hoje prioriza o Tiktok?
A maior dificuldade é realmente chegar nas pessoas sem fazer concessões de qualidade. A dificuldade é você conseguir entregar bem, entregando cem por cento do que você quer, em um contexto em que as pessoas não necessariamente estão abertas para isso, porque estão consumindo uma série de coisas bem superficiais -- dancinhas de Tiktok, etc.--, a dificuldade é chegar nas pessoas. Mas é para isso que a gente trabalha tanto, que a gente se une a quem trabalha junto, e insiste, e persiste. Eu vejo que a gente está numa fase de fazer, temos que fazer as coisas, temos que fazer. Seguir fazendo. E não condicionar a realização às performances, aos números, às expectativas dos outros, às pressões, a gente segue fazendo. A minha carreira é uma prova viva disso: com ou sem mídia, chegando maciçamente, ou não, nas pessoas, de uma maneira muitas vezes quase marginal, em outras vezes midiática, legal, investindo nas pessoas. Porque eu nunca me neguei a continuar fazendo, em qualquer situação. E é isso que a gente tem que seguir: fazendo, fazendo, fazendo, a despeito de todas as modas e de tudo o que está acontecendo.
Onde acompanhar
Apresentando o programa "Matéria Prima", que vai ao ar aos sábados, às 20h, na TV Cultura.
No álbum "Que Sorte a Minha", lançado em 5 de novembro, em todas as plataformas digitais.
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