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Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora

Segundo ano sem festa junina, sem escola 100% aberta e com marcas na vida de nossos filhos

Que saudades de um São João

Escola municipal da capital paulista faz festa junina improvisada, em meio à pandemia de Covid-19, com máscara e distanciamento; tentativa é de alegrar os alunos e não deixar a tradição acabar - Rivaldo Gomes/Folhapress
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Agora

Eu não nasci no Nordeste, mas meus pais sim. Portanto, tenho sangue nordestino. E ter sangue nordestino significa amar uma única coisa: festa junina!

Em Pernambuco, terra dos meus, São João é coisa muito séria. Aliás, lá foi o único lugar em que ouvi “Feliz São João” em certo mês de junho, quando, ainda estudante, fiz uma viagem para um congresso de jornalismo.

As festas típicas do mês da chuva, quando a abundância vem ao sertão e se colhe o milho, são das coisas mais ricas de nossas tradições nacionais.

Eu fui criada com fogueira no quintal, pamonha, curau e milho assado na brasa. E, respeitando a tradição, ensinei minhas filhas amarem o São João tanto quanto eu.

Ocorre que a pandemia de coronavírus e a negligência do governo central (não comprou vacina, estimulou aglomerações, defendeu tratamento precoce e zombou de nossos mortos) nos tirou essa felicidade por mais um ano.

Não há festas juninas tradicionais, com aglomerações, comidas e danças típicas que crianças —e até adolescentes— amam.

Na última semana, minha filha caçula, de oito anos, veio chorando até mim. A escola ficará fechada após confirmação de três casos de Covid.

E, nas lágrimas da pequena, entendi que a frustração era por muita coisa: não ter aulas presenciais com frequência, não ter festa junina, não ter quadrilha nem comemorações.

Logo ela que, aos cinco anos, deixou de lado o tema de princesa para fazer “festa julina” e celebrar a nova idade ao som de Gilberto Gil.

Acolhi o choro da pequena, e pensei nas marcas que nossos filhos irão carregar.

Darei um jeito de fazer uma comemoração de São João possível, com música, comilança e roupa típica. Vai ter pipoca, milho cozido e bandeirinhas.

Mas não vai ter gente, não vai ter abraço nos amigos. E isso eu não posso mudar. Nem tudo as mães consertam.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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