Colo de Mãe

Parabéns para a mãe que também assume a paternidade de quem falha, falta e vai embora

Abandono paterno ainda assusta

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Entra ano, sai ano e as estatísticas continuam cruéis para muitos filhos e suas mães. Segundo dados da Anoreg/BR (Associação dos Notários e Registradores do Brasil), 109.082 crianças não receberam o nome do pai no registro de nascimento em 2018.

O abandono paterno é uma realidade tão cruel e tão aceita pela sociedade que há um programa do Ministério Público de São Paulo chamado “Encontre seu Pai Aqui”. Na minha infância, eu achava que não ter pai era coisa comum, pois via muitos casos de filhos com pais que iam embora ou, quando havia uma separação entre o casal, coisa rara no início dos anos 1980, o pai não fazia o seu papel de estar presente.

Eu cresci e as coisas pouco mudaram. Ainda vejo muitos homens, principalmente jovens, que deixam seus filhos para trás. E a sociedade, de forma geral, passa a mão na cabeça. É comum ouvir alguém justificar a ausência de um pai jovem dizendo que, para o homem, a maturidade demora a chegar e que ter filho assusta.

Nós mães não temos as mesmas escolhas. Não importa se você é muito jovem ou teve sonhos tolhidos por uma gravidez indesejada. Não importa se você teve depressão pós-parto e tem problemas profundos a resolver consigo mesma. Na hora em que engravidamos, o único caminho que nos dão é assumir o filho. E assumir a maternidade é pesado. Imagina no caso das mães que também assumem a paternidade de quem falha, falta e vai embora.

Eu sou uma defensora do Dia da Família nas escolas. Defendo essa ideia e esse projeto porque falar de família é algo muito mais abrangente do que falar de mãe ou de pai. Há filhos, inclusive, que perdem seus pais para a morte (seja por doença ou acidente), para quem Dia dos Pais ou Dia das Mães dói muito. Quando fazemos a festa da família na escola, a possibilidade de que uma criança se sinta incluída e amada é maior.

Não vivi a realidade do abandono paterno porque “Seo Marcos”, meu pai, é um pai com “P” maiúsculo. Sempre esteve presente, desde as broncas às reuniões de escola. Hoje, é um avô maravilhoso. Compreensivo como é, tem sempre um bom conselho para os filhos (somos três) e um abraço apertado para as duas netas, que são minhas filhas, e o único neto, filho do meu irmão.

Minhas filhas também foram agraciadas com um pai presente. Posso ter errado em muita coisa nesta vida, mas o companheiro que escolhi e com o qual divido a aventura de criar filhos é um pai e tanto. Coloca para dormir, acolhe, dá bronca e abraço. Falha, poderia fazer mais, mas é o melhor pai que as meninas poderiam ter.

Infelizmente essa sorte não é de todos. Por isso, admiro e parabenizo a mãe que é pai. A mãe que trabalha, não deixa nada faltar, que consola, dá remédio, leva à escola, ao médico, passeia e cria filhos com maestria. Para essas mulheres, eu tiro meu chapéu e peço uma salva de palmas.

Para os pais que se ausentam, deixo o meu lamento. E para as mães que afastam os filhos dos pais, fazendo alienação parental ou descontando nos filhos as dores de um relacionamento frustrado, a minha incompreensão. Porque paternidade importa, sim. E muito. E, dentre os papéis da mãe, também está o de permitir que filhos convivam com pais.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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