Viagem de mãe somente com os filhos dá medo, mas traz mais união e lembranças eternas
Medo inicial de partir sozinha com duas meninas se transformou em coragem
Quando Luiza, minha primogênita, tinha quatro anos, eu ganhei um livro de um colega de trabalho, Fábio Haddad, editor-responsável do jornal Agora, do Grupo Folha, que falava sobre viajar com crianças.
O livro trazia dicas de cidades e locais para ir com os pequenos, mas o que mais me chamou a atenção foi uma observação feita pelo pediatra da filha da autora: "não precisa ter medo de viajar com sua filha, em qualquer lugar do mundo há crianças. Elas dormem em berços e tomam leite".
Levei o conselho para a vida e Luiza, que já tinha uma longa caminhada na estrada (na época, eu morava no interior e viajava para ver meus pais, os avós paternos e minhas enteadas praticamente toda semana), passou a viajar mais ainda. Em uma de nossas aventuras, nos 300 km entre Araraquara e São Paulo, Luiza na cadeirinha e eu no volante, lembro-me de parar muito para amamentá-la.
Depois, veio Laura, a caçula, e a vida de excesso de trabalho na cidade grande nos fez viajar menos aos finais de semana e tornou nossas viagens de férias mais aventureiras. E, com o suporte do pai, tudo fica mais fácil.
Mas, há dois anos, Renê perdeu o emprego, foi contratado em uma nova empresa e, nas férias de janeiro, não poderia nos acompanhar. Eu não pensei duas vezes: comprei passagens de avião e reservei hotel para mim e minhas meninas no sul da Bahia, na cidade de Porto Seguro.
Na época, Laura tinha 5 anos e Luiza, 11. Foi nossa primeira aventura juntas. Só nós três. E que delícia de viagem! O medo inicial de levá-las sozinha para outra cidade deu lugar ao espírito aventureiro de querer conhecer todas as praias possíveis e cada cantinho da região.
O saldo da viagem foi de momentos de descanso e descoberta. Andamos de ônibus, carro, van e balsa. E nos apaixonamos por Coroa Vermelha, onde há comunidades indígenas. Fomos para o local em três dos nossos sete dias por lá.
Luiza fez amigos e Laura ganhou autonomia. Na região, os hotéis parecem casas de campo e, com isso, tive segurança para deixá-las mais à vontade em ambientes onde podiam confraternizar com outros hóspedes.
Houve momentos de cansaço, claro. Tive que "me virar nos 30" para ir ao supermercado e para pegar transporte público com as duas. Mas tudo valeu a pena.
Voltamos de nossa primeira viagem a três mais unidas do que nunca, com histórias na bagagem. As duas aprendendo a se virar sozinhas, carregar malas, cuidar das próprias coisas, prestar atenção para não se perder e entender que há muito mais regras na sociedade do que em casa.
Como na canção, a Bahia nos deu "régua e compasso", ótimas lembranças e coragem.
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