Colo de Mãe

Nenhuma criança merece ensino a distância

Escola é local de convívio com as diferenças e de aprender respeito

Desenho feito por Bryan Souza Zanin, sete anos, vencedor do concurso do CPP (Centro do Professorado Paulista)
Desenho feito por Bryan Souza Zanin, sete anos, vencedor do concurso do CPP (Centro do Professorado Paulista) - Arquivo Pessoal
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A cena é comum. Você deixa seu filho na porta da escola no primeiro dia de aula e o coração aperta. Quando a criança é apenas um bebê, é difícil que haja choro. O que ocorre é um adoecimento maior por causa do convívio com outros “seres humaninhos”. 

Quando o filho é um pouco maior, a separação parecer ser traumática. Mãe com o coração apertado de um lado, filho chorando aos berros do outro.

Luiza foi aos quatro meses e meio para a escolinha. Sem traumas. Não chorou nem resmungou, só sorriu. Laura foi aos dois anos e meio. Chorou horrores. Chorou por uma semana seguida e passou os próximos três anos dizendo quase diariamente que não queria ir para a escola.

Eu só não a retirei porque tinha certeza de que o local era adequado, de que ela estava sendo bem cuidada e de que ir para a escola era essencial na vida de minha filha. Porque a escola é o primeiro microcosmo social do qual a criança participa.

É onde os pequenos seres começam a lidar com as diferenças. De cor, de raça, de tamanho, de gostos, de vontades e de famílias. Há cabelos diferentes, olhos diferentes, bocas diferentes. O funcionamento também ocorre de forma diferente. São outros horários, há limites na alimentação, no brincar, no estudar e no respeitar os mais velhos.

A escola é essencial para esse desenvolvimento humano, e tentar fazer com que o ensino fundamental se dê a distância é uma ideia péssima.

Pensem bem: primeiro, você leva seu pequeno ou sua pequena para a pré-escola e faz toda aquela terrível e dura adaptação. Adaptação de horários, de sentimentos, de convívio e de adoecimento. Daí, quando a criança já está mais do que integrada, o ensino não é mais presencial e, sim, a distância, afastando-a do convívio diário com os amiguinhos.

Pode até resolver um problema de falta de vagas em creches, de trânsito nas grandes cidades ou de distância nos sertões, onde se anda quilômetros, mas acaba de vez com a humanidade. 

E, meus caros, para mim, a escola é feita principalmente disso: de convívio e respeito às diferenças. É o local do debate de ideias. É o espaço onde minha Luiza apresenta a escritora Maria Ribeiro para os amigos que ainda não a conhecem. É o local em que minha pequena Laura leva seus gibis da Turma da Mônica nesse início de alfabetização.

É onde Luiza aprende a ser competitiva no xadrez e descobre se quer ou não fazer parte da academia de letras da escola. É o espaço no qual Laura aprende que não pode repetir uma comida mais do que duas vezes. É onde ela sabe que tomar suco de limão natural é muito melhor do que qualquer suco de caixinha.

Em tempos de solidão, de redes sociais ganhando espaço no convívio das famílias e de cada vez mais gente trancada em casa, eu não abro mão do convívio social. Nunca. Por isso, vou brigar até o fim por uma escola de qualidade para os brasileirinhos e as brasileirinhas deste país.

 

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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