'A Escada' recria história real de morte que até hoje não foi esclarecida
Colin Firth, Toni Collette e Juliette Binoche compõem o elenco da série
Colin Firth, Toni Collette e Juliette Binoche compõem o elenco da série
Em 2001, o escritor americano Michael Peterson, então com 58 anos, ligou para a central de emergências pedindo ajuda porque sua mulher, Kathleen, havia caído da escada. Ao chegar ao local, a polícia enxergou ali a cena de um crime, do qual ele seria considerado o principal suspeito.
Dois anos depois, após diversas reviravoltas e uma verdadeira guerra de narrativas entre a acusação e a defesa, ele foi considerado culpado por um tribunal do júri, sendo condenado à prisão perpétua. A história foi contada na série documental "The Staircase", do premiado diretor francês Jean-Xavier de Lestrade, 58, após a qual muitas pessoas passaram a acreditar na inocência de Michael.
Agora, uma minissérie ficcional, que estreia na HBO Max nesta quinta-feira (5), recria os principais acontecimentos que envolveram a família Peterson antes e depois do ocorrido com Kathleen. Sem escolher lados, a produção mostra as diversas possibilidades e teorias para o que pode ter ocorrido na fatídica noite.
"Eu diria que se você estiver procurando por respostas claras, não vai achá-las", diz o criador da série, o nova-iorquino Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes. "No final da série, pode ser que se tenha uma ideia melhor de como nós nos sentimos com relação ao caso. Acho que nós apresentamos os fatos do jeito mais próximo do real que alguém poderia fazer."
Campos, que também é roteirista, produtor e diretor da minissérie, trabalhava no projeto desde 2008, quando conheceu a história. "Sempre fui fã do gênero true crime e fiquei fascinado quando alguém me mandou o documentário sobre o caso", lembra. "Mas o que começou como uma obsessão clássica com um crime real se tornou algo muito mais intrincado ao longo dos anos. Ainda sinto que há coisas por descobrir nessa história."
Para Maggie Cohn, que assina o roteiro e a produção executiva com ele, a ficção tem uma vantagem sobre o documentário, o fato de terem podido usar efeitos especiais e dublês para replicar a realidade. "Isso significa que provavelmente chegamos muito próximo do que pode ter acontecido naquela noite", diz.
"O mais interessante é que a maioria das séries sobre crimes reais estão tentando te dar uma resposta, te levar a pensar que há uma única verdade lá fora", conta. "A nossa investigação é baseada na ideia de que não há uma verdade universal, então nós damos uma resposta, mas ela pode ser pouco convencional."
Para a série, foram construídas três escadas com as mesmas proporções da que havia na casa dos Petersons. Michael é vivido por Colin Firth (vencedor do Oscar por "O Discurso do Rei"), enquanto Kathleen é interpretada por Toni Collette. Juliette Binoche faz uma participação como a editora do documentário de Lestrade, cujos bastidores também são explorados.
A trama arranca com a tensão em alta, mostrando a chegada de Todd Peterson —filho de Michael com a primeira mulher— em casa. Em meio a carros de polícia e ambulâncias, ele encontra o pai atônito. Patrick Schwarzenegger, 28, é quem dá vida ao jovem.
"Foi obviamente uma cena muito intensa, filmada em plano-sequência da hora que eu saio do carro bêbado e vejo as sirenes", conta o ator, filho de Arnold Schwarzenegger. "Depois eu entro na casa e a cena ainda continua por uns 3 ou 4 minutos. Foi muito difícil de fazer, porque muitas coisas tinham que acontecer no momento exato para ficar perfeito. Pelo que me disseram, o que entrou na série foi o nosso primeiro take."
Patrick diz que, em alguns momentos, ficou intimidado com o parceiro de cena. "Foi muito desafiador trabalhar com alguém como o Colin Firth, embora fosse muito gostoso vê-lo em ação", lembra. "Colocaram essa cena no cronograma depois de um mês que já estávamos gravando, acho que para que já estivéssemos confortáveis um com o outro e também com o ambiente."
Conhecida pelo papel de Sansa Stark na série "Game of Thrones", a atriz Sophie Turner, 26, vive Margaret Ratliff, uma das filhas adotivas de Michael com a primeira esposa. Ela brinca sobre a transição entre uma série de fantasia e outra baseada em fatos reais: "Espera, você está me dizendo que 'Game of Thrones' não tinha base na realidade? (risos)".
"Por sorte, ficamos tantos anos fazendo 'Game of Thrones' que os personagens acabaram tendo um ciclo de vida, mas nós estudávamos para chegar àquelas construções", compara, mais séria. "Nesse caso de agora é como se parte do trabalho já tivesse feito porque é uma pessoa real, que você pode dar um Google e achar em vez de tentar imaginar sozinho como ela seria."
"O desafio foi encontrar o equilíbrio entre o que eu ia inserir do que achei sobre a personagem e o que ia levar da minha interpretação sobre o que ela viveu, para tentar fazer com que a personagem fosse, de fato, minha", diz. "Você quer ser respeitosa e fazer justiça à pessoa real, então é diferente, mas também divertido."
Os atores contam que receberam muitos detalhes sobre seus personagens diretamente de Antonio Campos, que teve contato direto com a família retratada. Porém, respeitaram a negativa para falar com quem iriam retratá-los na ficção.
"Eu teria gostado de conversar com ele, se ele tivesse querido falar comigo", comenta Dane DeHaan, 36, que interpreta Clayton Peterson, o outro filho de Michael. "Eu senti que ele não queria me responder, então achei importante honrar isso."
"O que essa família passou ainda está muito vivo para eles e eu não queria invadir a privacidade dele de um modo que ele não gostaria", completa. "Isso, de certa forma, me deu mais liberdade para fazer o personagem do jeito que interpretei na série."
Odessa Young, 24, que interpreta Martha Ratliff, outra das filhas adotivas de Michael, diz que tinha opiniões muito estabelecidas sobre o caso quando assistiu ao documentário, mas que agora não sabe mais o que pensar. "Acho que prefiro assim, especialmente por estarmos falando de pessoas reais, de uma família que existe", afirma.
"O que mais me pega nessa história é que ela é uma fábula moral sobre suposições e presunção", avalia. "Acho que um perigo para qualquer documentário, podcast ou notícia sobre um crime real é ter um viés. Isso pode ser incrivelmente infeliz para as pessoas envolvidas."
Isso se aplica ao documentário que originou a série, no qual algumas pessoas-chave são mostradas de forma pouco amigável. Uma delas é Caitlin Atwater, única filha biológica de Kathleen e também a única que se volta contra Michael, seu padrasto, durante o julgamento.
"Kathleen era uma mãe para todos na família, mas foi ela quem deu à luz Caitlin", comenta sua intérprete, Olivia DeJonge, 23. "Acho que ela fica numa posição muito difícil. Não quero falar por ela e dizer por que ela fez ou não fez alguma coisa ou mesmo quais eram as ideias dela sobre o caso, mas acho que ela foi colocada numa situação insondável e fez o que achava que era certo."
Considerada "vilã" por muitos os que assistiram ao documentário, a irmã de Kathleen, Candace Hunt Zamperini, é outra cuja intérprete, Rosemarie DeWitt, acha que não foi retratada de forma equilibrada. "Acho que ela é muito clara no documentário, que tem um farto material sobre ela, então eu tinha uma ideia muito forte de como ela estava se sentindo", avalia.
"Como uma mulher que tem mais ou menos a mesma idade que ela, tenho uma opinião forte sobre ela ter se tornado a vilã da história sendo que a família dela era a vítima de algo, fosse de um crime ou de um acidente trágico", comenta. "Consigo imaginar o que é estar no lugar dela."
A maior parte dos personagens passou por um processo de caracterização que os deixou de fato muito parecidos com as pessoas que estão interpretando. É o caso de David Rudolf, advogado de Michael Peterson, vivido na série por Michael Stuhlbarg, 53.
"Se você nos colocar lado a lado, você vai perceber que não somos tão parecidos", afirma o ator. "Não acho que para contar a história eu precisava ser igual a ele, mas eu certamente tentei me aproximar ao máximo, deixando a barba crescer, usando perucas e outros artifícios. Normalmente, demorava de 30 a 45 minutos para ficar pronto antes de filmar, depende da época a que pertencia a cena, já que a série abarca um período de quase 20 anos."
Já Vincent Vermignon, 39, não precisou se preocupar com isso. O ator, que é negro, foi escalado como o cineasta Jean-Xavier de Lestrade, que é branco. Esse tipo de escalação vem se tornando mais comum nas grandes produções desde que "Bridgerton" chamou a atenção em 2020 com seu elenco "color-blind".
"Acho isso fantástico", comemora o ator, que conversou com o documentarista francês —também co-produtor executivo da série— por telefone. "O mundo é um lugar diverso, então quanto mais pudermos nos ver na tela, mais feliz estarei. Estou contente de viver agora e ver que estamos mudando."
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