'Halo' tenta repetir sucesso do game em série sobre origem de Master Chief
Primeira tentativa de adaptar jogo foi em 2005, mas só agora chega às telas
Primeira tentativa de adaptar jogo foi em 2005, mas só agora chega às telas
Pablo Schreiber, 43, costumava jogar videogames na casa dos amigos depois da escola, mas não chegava a ser um grande conhecedor desse universo. Foi só depois de ser escalado como protagonista de "Halo", série baseada em uma das maiores franquias do gênero, que ele entendeu o desafio que teria pela frente.
"Após conseguir o papel e começar a pesquisar foi que entendi o significado", conta em entrevista ao F5, realizada na Cidade do México, onde foi promover o trabalho. "Aprender a mitologia e a história que já havia sido estabelecida pelos games foi a minha primeira missão, mas também foi algo que abriu meus olhos."
"Eu entendi o que o jogo significava para tantas pessoas e o quanto elas eram apaixonadas por aquilo", diz. "Tem sido maravilhoso começar a sentir que faço parte dessa comunidade. E, aí sim, eu voltei a jogar com a Xbox e o controle especial que mandaram para a minha casa (risos)."
Ele diz que ainda está aprendendo a jogar, mas que, como ator, se interessa mais pela narrativa do que pelas cenas de ação que são marca registrada do game. Embora também se divirta matando os monstros alienígenas que aparecem a todo momento na tela.
Agora, na pele de Master Chief, ele também fará isso na série, que estreia nesta quinta-feira (24) com exclusividade no serviço de streaming Paramount+. Também conhecido como John, o personagem é o líder dos Spartans, um exército da UNSC (o fictício comando espacial das Nações Unidas, na sigla em inglês).
"Ele é a última esperança da humanidade contra uma invasão iminente que começou recentemente", adianta o ator. "É um super-soldado que vive muito dentro de seu quadrado, não tem muita expressão humana, emoções ou sentimentos, até que ele encontra um artefato que muda tudo."
No game, o jogador enxerga tudo pelo olhar de Master Chief. Ou seja, o personagem está sempre no meio da ação. Fora dele, ultrapassou barreiras, sendo conhecido não só por fanáticos da franquia, mas como uma figura pop, que até já estrelou campanhas publicitárias nos Estados Unidos.
"Isso certamente deixa tudo mais interessante", avalia Schreiber. "Tem muita gente interessada e com sentimentos intensos sobre o que vamos apresentar. Não vejo como uma pressão adicional, mas como um incentivo."
Ele lembra, no entanto, que na série o personagem será visto em um meio diferente. "Temos muita gente trabalhando duro para garantir que lembre o game, que passe a mesma sensação, mas claro que no fim do dia é uma experiência diferente", afirma. "Estamos fazendo uma série de TV, a imagem não será exclusivamente sob a perspectiva dele."
A produtora executiva Kiki Wolfkill foi uma das responsáveis pela transposição da história para as telas. Ela levou a experiência de encarregada pelos games da franquia na produtora 343 Industries para tentar fazer com que a adaptação agrade aos fãs, sem deixar de ter a própria cara.
"Temos a sorte de contar com uma base de fãs muito apaixonada", admite. "O desafio foi tentar garantir que todos estivessem contentes, mas a realidade é que isso é quase impossível porque são muitas perspectivas diferentes."
"As pessoas amam 'Halo' por diferentes motivos, e todos se sentem, de certa forma, donos do jogo, ou pelo menos do que eles entendem como sendo o jogo", avalia. "Acho que isso é parte do que é tão mágico nessa franquia, mas acaba criando esse desafio de cada fã ter a sua própria opinião, seja do que eles gostariam de ver em uma série ou em novos games."
Talvez justamente por isso uma adaptação em live-action da franquia tenha demorado tanto a se concretizar. A primeira tentativa foi em 2005, com nomes como Peter Jackson ("O Senhor dos Anéis") e Neill Blomkamp ("Distrito 9") envolvidos.
Em 2013, Steven Spielberg tentou investir em uma série da franquia, mas ela acabou no limbo. A ideia foi retomada cinco anos depois, com outro time, e, após diversas mudanças de equipe, finalmente saiu do papel.
Para Wolfkill, a melhor forma de fazer essa adaptação foi "olhando com respeito para as opiniões dos fãs, levando em conta o nosso próprio amor pela franquia e tentando levar adiante os aspectos que estão lá desde o começo". "Nós escolhemos uma história que ficamos encantados de contar e esperamos que as pessoas embarquem com a gente", afirma.
"Todos os dias, quando estão jogando, as pessoas estão criando suas próprias histórias", lembra. "Esperamos que as pessoas entendam que estamos contando uma entre um milhão de possibilidades que poderiam ser contadas."
Ela antecipa que a trama não faz parte de uma linha do tempo específica dentro do universo de "Halo". "É como se fosse uma rama diferente da dos games", explica. "Tem muitos elementos que fazem parte do cânone e outros aspectos que foram sutilmente mudados por causa do contexto."
"Quisemos contar uma história sobre o Master Chief e também do John se reconciliando com quem ele é", afirma. "A ideia é entender o que é ser o Master Chief e reconhecer a origem e o papel que esse personagem desempenha nesse conflito."
Para Pablo Schreiber, essa foi uma decisão acertada. "Isso deu aos criadores mais liberdade para que tanto a série quanto o game tenham seus próprios universos", avalia. "Eu estou fazendo a minha versão do John e do Master Chief, mas isso não tira de forma alguma o que já está estabelecido ou a experiência que você pode continuar tendo quando joga. Na verdade, espero que a série realce a experiência do game."
O ator foi elogiado pela produtora. "Trazer esses personagens para a realidade era um desafio grande", comenta Wolfkill. "Tentamos pegar a essência deles e ver quem poderia incorporar aquilo. Pablo foi muito focado e intenso ao apresentar a visão dele do Master Chief, e essas eram características desejadas para o papel."
"Ele estava tão empenhado em encarnar esse personagem de uma forma que nós nunca poderemos ver nos videogames que acabou sendo uma escolha natural", diz. "Ele também trouxe um aspecto físico incrível, um conhecimento do próprio corpo e uma habilidade de se mover de modo calculado que eram críticos para o papel. Foi uma escolha muito clara para nós."
O ator conta que não chegou a conhecer Steve Downes, que emprestou a voz ao personagem em quase toda a franquia. "Tenho muito respeito por Steve e pelo que ele fez, trata-se de uma das maiores vozes da indústria e virou uma lenda pelo que fez com esse personagem", reconhece. "Conheço o trabalho dele de trás para a frente e quero muito conhecê-lo porque sou tão fã quanto todo mundo."
Outra artista da voz, no entanto, acabou sendo aproveitada no elenco da série. Trata-se de Jen Taylor, que assim como nos games dará vida a Cortana, a inteligência artificial que interage com Master Chief (e inspirou a assistente de voz da Microsoft). "Jen tem sido a voz da Cortana e conhece a personagem incrivelmente bem. Como estávamos criando um personagem digital, ter a experiência dela era incalculável", avalia Wolfkill.
A produtora executiva conta que foi interessante introduzir a personagem de forma holográfica dentro do ambiente real. "Ter a personagem ali, com a possibilidade de as pessoas se relacionarem com ela, em vez de apenas com uma representação dela no espaço, foi muito legal de desenvolver", comemora.
"Ela é claramente um holograma, embora com aparência humana", esclarece. "A intenção foi pensar em como seria um holograma com quem eu e você poderíamos estar falando diariamente e também o que significava para alguém ser formado apenas de luz."
Após a longa jornada para chegar às telas, a série já teve a segunda temporada confirmada pela Paramount+ antes mesmo de estrear. "Fazendo uma analogia aos games, assim que você consegue terminar um jogo, você já está com uma lista na cabeça de coisas que quer fazer na próxima partida, seja porque não teve a oportunidade ou porque aprendeu um jeito melhor de fazer", compara a produtora.
"Aprendemos muito com o processo da primeira temporada e vamos aprender muito quando ela estiver disponível, com a reação das pessoas", afirma. "Ainda não mapeamos tudo o que queremos contar, mas temos histórias para fazer 10 a 12 temporadas, com certeza."
O jornalista viajou a convite da Paramount+
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