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Harrison Ford  em cena do filme

Harrison Ford em cena do filme "Os Caçadores da Arca Perdida", de 1981 Divulgação/Paramount Pictures

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Amy Nicholson
The New York Times

Oito meses depois de apresentar o mundo de Luke Skywalker, Princesa Leia e Chewbacca ao planeta, George Lucas convidou Steven Spielberg e o roteirista Lawrence Kasdan para uma reunião na casa de seu assistente em Los Angeles, onde lhes propôs um nome para uma nova aventura.

"Indiana Smith", disse Lucas. "Bem na tradição americana, bem quadradão." Spielberg resmungou: "Odeio essa ideia, mas vá em frente". Nos cinco dias seguintes, de acordo com uma transcrição da reunião de roteiro, os três criaram um arqueólogo aventureiro que combinava Humphrey Bogart a James Bond.

Eles deram a Indy um chicote e um passaporte —e por fim mudaram seu nome. "Jones", Lucas, enfim, aceitou. "As pessoas o chamam de Jones."

Essa reunião resultou, é claro, em "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida", que celebra seu 40º aniversário neste mês. Quatro décadas mais tarde, o emblemático hit se tornou o ponto de conexão e de inflexão entre o passado e o presente do cinema.

As fugas miraculosas de Indy dos nazistas, os rochedos que despencam, os dardos venenosos, os caminhões em alta velocidade e, é claro, a profusão de cobras parecem um aceno aos seriados de aventura da década de 1930 —as aventuras para crianças que tanto influenciaram os criadores do novo sucesso, cuja nostalgia foi calibrada na forma de um blockbuster promovido em múltiplas mídias que definiria o futuro de Hollywood.

"O que estamos fazendo aqui é criar um brinquedo para a Disneylândia", disse Spielberg na primeira reunião. Palavras proféticas. Mas, como as aventuras de Indy em todo o planeta, a história de produção do filme é, ela mesma, uma trama de erros, lances de sorte e momentos de inspiração.

A seguir, quatro segredos sobre as filmagens.

1. O compromisso de Spielberg para com efeitos especiais práticos nada tinha de prático

Parte do depósito é uma pintura fosca feita por Michael Pangrazio
Parte do depósito é uma pintura fosca feita por Michael Pangrazio - Divulgação/Paramount Pictures

Os seriados em branco e preto, como "Tarzan" e "Jim das Selvas", não tinham como eletrizar suas atrações por meio de computação gráfica. "Caçadores da Arca Perdida" seguiu o mesmo caminho. Todos os cenários do filme, das locações às armadilhas, eram templos ao velho e bom artesanato de Hollywood.

A decolagem do hidroavião de Indy, o saloon perdido em meio às neves do Nepal e os despenhadeiros periclitantes do Cairo foram todos criados como fundos pintados. Esse tipo de fundo, em geral, só consegue resistir à atenção dos espectadores por alguns segundos antes que alguém descubra o truque.

Mas o grande armazém que aparece na tomada final do filme tinha de dominar a tela por quase meio minuto, e o artista Michael Pangrazio precisou de três meses para a pintura.

Para a perseguição inicial dos rochedos, Spielberg encomendou um rochedo de gesso e fibra de vidro de 3,5 metros de altura, montado sobre um trilho de 40 metros. Mesmo com peso de modestos 130 quilos —modesto se comparado às 80 toneladas de um rochedo de granito genuíno—, a engenhoca esmagava as falsas estalagmites espalhadas por seu caminho, e elas tinham de ser substituídas depois de cada tomada.

E o rochedo poderia ter esmagado o astro Harrison Ford, se ele não tivesse corrido mais do que ele nas dez tomadas realizadas. "Ele teve sorte", disse Spielberg à revista American Cinematographer, "e eu fui um idiota por permitir que ele tentasse".

2. A filmagem no deserto acabava com o moral

Enquanto Ford e Karen Allen fogem do Poço das Almas, outra figura está no chão no tiro
Enquanto Ford e Karen Allen fogem do Poço das Almas, outra figura está no chão no tiro - Divulgação/Paramount Pictures

No pior período das filmagens na Tunísia, a equipe deve ter desejado que toda a porção do filme passada teoricamente no Egito tivesse sido realizada com fundos falsos. A temperatura passava dos 50°C e todo mundo, exceto Spielberg, terminou derrubado por um envenenamento alimentar. (Spielberg levou com ele um caixote de comida enlatada, que ele comia no café da manhã, almoço e jantar, muitas vezes sem nem esquentar os pratos.)

No artigo que escreveu para The Washington Post para recordar o tempo que passou acompanhando a filmagem, a fotógrafa Nancy Moran afirmou ter visto Spielberg se lamentando e dizendo que queria muito estar em casa, e que ele tinha medo de que Lucas, queimado de sol e exausto, "logo vai entrar aqui usando caixas vazias de Kleenex como chinelos".

O sofrimento deles serve como desculpa para os erros de continuidade na sequência do poço das almas, na qual tijolos, pedras e até mesmo um caminhão mudam de lugar no enquadramento como se eles também estivessem desesperados por um chá gelado à beira da piscina do hotel.

A mancada mais grotesca acontece quando Indy e Marion irrompem pelo poço das almas a meio metro do que parece ser um homem desmaiado, de camisa azul. O homem talvez seja um vestígio de uma cena anterior de luta, ou uma tentativa frustrada de humor visual na qual um trabalhador se surpreende tanto ao ver cadáveres exumados de uma tumba selada durante mil anos que ele cai morto de susto.

O mistério de suas origens se soma a um segundo enigma: por que uma tumba selada mil anos atrás está cercada de andaimes de construção?

3. A fraqueza de Indy se torna sua força

Harrison Ford com Terry Richards em uma cena de duelo
Harrison Ford com Terry Richards em uma cena de duelo - Divulgação/Paramount Pictures

Ford também estava sofrendo de disenteria quando chegou a hora de filmar um duelo épico entre espada e chicote ao qual Spielberg tinha reservado um dia e meio de filmagem, de acordo com a biografia "Spielberg: The Man, the Movies, the Mythology" (1996).

Ford perguntou se não seria possível rodar a cena em uma hora. "Só se você o matar com um tiro", brincou Spielberg. Foi o que eles fizeram, e a brincadeira visual resultou em uma das maiores risadas do filme. Mas em momentos mais saudáveis, Ford realizou cenas de comedia física igualmente dignas de aplausos.

A melhor demonstração de sua flexibilidade atlética, que lembra a de Buster Keaton, pode ser vista em seu duelo contra o mecânico de aviões nazista interpretado por Pat Roach, que tira a camisa e exibe um físico invejável.

Diante de toda aquela musculatura teutônica, Ford se agarra firmemente à asa voadora, como um urso polar agarrado a um iceberg. Ele hesita antes de tentar um soco. E erra. Seus joelhos amolecem quando ele leva uma pancada.

Indy está em tamanha desvantagem que, quando Roach acerta uma bofetada em sua bochecha direita, Ford gira com a pancada até sair do quadro, desafiando as leis da física. Porque o adversário é muito mais forte, Indy decide que vai jogar sujo.

Ele recorre a mordidas, joga areia, tenta acertar o alemão na virilha e termina resgatado por uma hélice de avião. Comparado aos heróis modernos, que mal pestanejam quando um arranha-céus cai sobre eles, a fragilidade de Indy o torna humano —e torna sua sobrevivência muito mais emocionante.

4. Um improviso envolvendo um inseto continua a gerar controvérsia

Paul Freeman, em primeiro plano, e a mosca em seu lábio inferior
Paul Freeman, em primeiro plano, e a mosca em seu lábio inferior - Divulgação/Paramount Pictures

Outros improvisos? O desempenho dos animais, uma consequência natural de escalar cobras e tarântulas em lugar de cachorrinhos. Além de algumas picadas nos tornozelos de Steve Edge, o treinador de animais, que depilou as pernas para servir como dublê de Karen Allen, as cobras —6.500 delas—, em geral, se comportaram, a tal ponto que Spielberg, em momentos de ansiedade, segurava uma cobra nas mãos como se ela fosse um rosário.

O mesmo não se aplica ao traiçoeiro macaco capuchinho, que, apesar de ter sido treinado para fazer uma saudação nazista, desperdiçou 50 tomadas e só fez a cena quando o irritado Lucas, que a estava dirigindo, pendurou uma uva de uma linha de pesca diante dele.

Quanto ao rato fantasmagórico que rodopia em torno da arca da aliança, o animal simplesmente tinha um problema de equilíbrio. No momento improvisado mais nervoso do filme, quando Paul Freeman, no papel de Belloq, o adversário francês de Indy, grunhe que "sua persistência surpreende até a mim", uma mosca pousou no lábio inferior do ator e, aparentemente, entrou em sua boca.

Freeman comeu a mosca? Muita gente já lhe fez essa pergunta, e ele diz que a fuga do inseto foi cortada na edição. Mas Spielberg discorda. "Inspecionei aquelas cenas com a mesma atenção que algumas pessoas dedicaram ao filme de Zapruder", disse o cineasta à revista Empire.

"A mosca entrou na boca de Paul e ele estava tão absorto que nem percebeu e a engoliu." Indiana Jones concordaria que algumas histórias funcionam melhor como mitos.

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