'Crô em Família' traz situações improváveis e aposta em humor simplista
Comédia estrelada por Marcelo Serrado estreia nesta quinta (6)
Um professor de etiqueta que, certo dia, recebe em casa sua família até então desconhecida, muito diferente dele. Este é o principal mote de "Crô em Família", filme dirigido por Cininha de Paula que estreia nesta quinta (6) nos cinemas.
O protagonista, já conhecido do público, é interpretado por Marcelo Serrado, que deu vida ao personagem na novela “Fina Estampa” (2011) e no primeiro longa, “Crô: O Filme”, ambos escritos por Aguinaldo Silva. A sequência, também roteirizada pelo dramaturgo, teve o enredo descolado da novela e do filme anterior.
“Esse filme é mais leve e divertido do que o primeiro. Foi pensado para o grande público e não deixa nada a desejar às comédias brasileiras”, antecipa Serrado. "Marcelo trouxe um universo com mais humanidade para o personagem. Passamos a conhecê-lo não só pela ótica do hilário”, completa a diretora, Cininha de Paula.
No longa, o dono da escola de boas maneiras passa por um divórcio conturbado, quando seus supostos pais, interpretados por Arlete Salles e Tonico Pereira, aparecem em sua casa. E vem com eles o resto da família: João Baldasserini como irmão de Crô, Karina Marthin como a cunhada, e Mel Maia e João Bravo como seus sobrinhos. Todos, no entanto, são bem diferentes de Crô: nos gostos e no estilo.
A governanta Almerinda, personagem de Rosi Campos, faz o contraponto da loucura familiar. "Ela é essa pessoa que acolhe o Crô e tem esse caráter amoroso, de dar carinho e afeto. Por isso, tinha que ser muito séria. Foi um contraste interessante”, conta a atriz. Assim como ela, Geni (Jefferson Schroeder), melhor amiga de Crô, estranha o súbito aparecimento da família e sugere um teste de DNA.
O humor, construído em torno de situações improváveis e maquiavélicas, beira o ingênuo. No começo, a briga no divórcio pela guarda da filha é, na verdade, pela guarda de uma cachorra. Em outro momento, o plano é fazer com que Crô caia da escada pisando em cima de um skate.
A comédia é complementada por jargões e gírias que são típicas do universo gay, bem estereotipado na figura de Crô. No entanto, o exagero pode incomodar aqueles que conhecem a luta LGBT: até quando um homossexual com trejeitos afeminados será uma figura engraçada?
'MASHUP' DE PERSONAGENS
Em “Crô em Família”, convidados especiais reúnem, em uma mistura maluca, diferentes histórias já conhecidas do público brasileiro. Fabiana Karla, famosa por suas personagens do “Zorra”, vira uma aluna da escola de etiqueta que é grande fã de Crô.
Seu Peru (Marcos Caruso), da “Escolinha do Professor Raimundo” (Globo), Ferdinando (Marcus Majella), do “Vai que Cola” (Multishow), e Dorothy (Luis Miranda), da novela “Geração Brasil” (2014, Globo), são amigos próximos de Crô e se encontram ao longo da trama para debater as fofocas.
Além deles, Preta Gil e Pabllo Vittar fazem um show em uma balada, onde o protagonista encontra David Brazil e Gominho. “Está difícil levar o público ao cinema e a gente quer que esse filme seja visto. Para isso, tive a ideia de reuni-los num 'Chá das Bicha'”, diz Serrado.
CRÔ SOBREVIVE HÁ SETE ANOS
Crodoaldo Valério, ou Crô, foi criado em 2011, por Aguinaldo Silva, autor de “Fina Estampa” (2011-2012). Na trama, ele era mordomo de Teresa Cristina (Christiane Torloni), uma socialite mau-caráter e ambiciosa. Fiel e devotado à patroa, sua única ligação familiar era com a sobrinha Vanessa (Milena Toscano), cujas despesas entravam na conta de Teresa Cristina (carinhosamente apelidada de Jacaroa do Nilo).
No final da novela, Tereza Cristina é dada como morta e Crô herda toda sua fortuna. O primeiro filme “Crô: O Filme”, produzido em 2013, começa a partir daí, continuando a história do personagem, que busca uma nova madame para adorar.
Nele, o ex-mordomo, que havia herdado uma fortuna de sua antiga patroa, sai em busca de uma nova ricaça para bajular –dentre as quais estavam Ana Maria Braga, Gaby Amarantos e Ivete Sangalo. O enredo, apesar da recepção desfavorável por parte da crítica especializada, agradou ao público.
O orçamento de R$ 3,2 milhões foi logo batido. O filme alcançou o primeiro lugar nas bilheterias do Brasil, enquanto estava em cartaz, faturando mais de R$ 14,1 milhões, e visto por cerca de 1,6 milhão de pessoas. O personagem ficou tão conhecido que Serrado é chamado de Crô nas ruas: “É maravilhoso. Que ator não gostaria de fazer um papel que vai além de você?”
O cabelo sempre arrumado em um topete, o gosto refinado para roupas e a pose de socialite foram criações de Aguinaldo Silva, mas a inspiração para a interpretação de Marcelo Serrado é de carne e osso. “Eu vi o Crô verdadeiro em uma boate. Um cara, com aquele cabelo, os trejeitos. É uma pessoa real."
Esse exagero, no entanto, não parece um problema para Serrado. “Tem uma galera que levanta a bandeira LGBT e o adora. Nunca tivemos nenhum problema, acho que a bicha tem carisma”, diverte-se.
Questionado sobre a possibilidade de voltar a interpretar Crô na TV, Serrado diz que não arriscaria desgastar a imagem de sucesso nos cinemas. "Procuro fazer o personagem episodicamente, é um papel para de vez em quando, justamente por ser tão forte."
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