Olhar a Globeleza só pelo corpo é uma forma pobre e triste de vê-la, diz atual dona do posto
Erika Moura diz que personagem representa a beleza natural
Erika Moura diz que personagem representa a beleza natural
A dançarina Erika Moura, 26, é o rosto (e o corpo) da Rede Globo no Carnaval há cinco anos. Fã declarada das vinhetas desde o reinado do corpo pintado de Valéria Valenssa, nos anos 1990, ela defende que a Globeleza representa a diversidade e a alegria do Carnaval e não deve ser vista como um símbolo sexual.
“Nunca vi a Globeleza como símbolo sexual, eu a vejo desde pequena como uma beleza artística. Olhar apenas o corpo é uma maneira pobre, triste de vê-la”, diz Erika, primeira paulistana a assumir o posto, em 2015.
Não à toa, ela analisa positivamente a mudança de tom da vinheta carnavalesca desde 2017. Em vez do corpo coberto apenas de tinta, a dançarina surge em figurinos de danças típicas de diversas partes do país, como frevo e marchinha, ao lado de outros 30 bailarinos e instrumentistas. "Agora estamos trazendo a parte da diversidade cultural", avalia, em uma das diversas vezes que citou o termo ao longo da entrevista ao F5.
Para ela, ser a Globeleza é justamente levar diversidade cultural à TV, além, claro, de representar o Carnaval. "Amo a dança, independentemente se estou nua ou vestida, o legal é levar a diversidade e a alegria do Carnaval."
Dona do título já muitas vezes criticado de "mulata Globeleza", Erika diz que prefere focar na valorização de todas as mulheres, como ao comentar o caso da jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, que foi a primeira mulher negra na bancada do Jornal Nacional no sábado passado (16).
"Somos todos iguais, temos que valorizar a mulher que está entrando mais no mercado e não só a mulher negra. Temos que ficar feliz por ser mais uma mulher, não podemos fazer essa segregação como branca, indígena, parda. Ela está abrindo porta para outras meninas", avalia.
Como toda musa de Carnaval, Erika conta que mantém a dieta balanceada e os exercícios em dia o ano todo. Na época da gravação das vinhetas, que acontece no final do ano, antes do Carnaval, ela reforça os cuidados e se policia ainda mais para não comer doces, nos quais diz ser viciada.
“Sei que tenho que estar bonita, que tenho que cuidar da aparência já que represento um papel de beleza”, conta a dançarina, que mantém 55 kg em seu 1,67 m de altura. Seus únicos “deslizes” são as duas tatuagens (um trevo no ombro direito e a data de nascimento da prima Vanessa em romano com a frase “Respeito e amor, devido valor” na coxa direita), que são cobertas com maquiagem nas vinhetas.
“O bacana é se manter sempre ao natural, já que a Globeleza representa naturalidade”, diz Erika, que não descarta, contudo, uma cirurgia plástica em um futuro distante. “Talvez depois que tiver filhos, pense em colocar silicone. Minha mãe diz que ter filhos muda o corpo todo, quem sabe não venha a vontade de colocar silicone? Mas não é algo sobre o que penso agora.”
Uma veterana no cargo, em seu quinto ano, Erika afirma ainda sentir nervosismo antes de encarnar a Globeleza. “Quando não causa mais aquele frio da barriga é porque a pessoa não gosta mais do que está fazendo.”
Ela conta que descobre o tema da vinheta não muito antes dos telespectadores. Cerca de uma semana antes da gravação, a equipe responsável mostra a ela como será a produção. Ela faz testes das roupas para eventuais ajustes no caimento, mas nunca pede mudanças. “Eu sempre gosto. É sempre muito colorido, e eu gosto dessa coisa colorida.”
Nos dias de gravação, a rotina é puxada. Ela começa os preparativos de maquiagem, cabelo e figurino às 9h e grava até às 23h. Nesse ínterim, passa por todas as trocas de roupa para representar os diferentes ritmos de Carnaval no país que inspiraram a vinheta da rede Globo de 2019.
Para não perder a energia, ela diz que sempre come uma fruta ou outra durante as gravações e uma balinha “para elevar o açúcar no sangue”. Ela só evita tomar muita água, para não atrapalhar as gravações com idas constantes ao banheiro.
Antes de assumir o posto de bela do Carnaval da Globo, a paulistana Erika passava os Carnavais no Anhembi, onde desfilou pela Tom Maior e pela Mocidade Alegre. No posto de Globeleza, ela não pode desfilar por nenhuma escola.
Então o que faz a musa do Carnaval nos outros 11 meses do ano? Termina seu bacharel em educação física na Unip (Universidade Paulista) e participa de projetos da Globo, como o Ação Global, que leva serviços gratuitos de educação, documentação e lazer para a população, além de ser madrinha do projeto de divulgação da TV Digital pelo país.
Embora ainda não tenha planos de se aposentar do posto, Erika diz que já se prepara para os dias em que não for mais chamada de “Globê” ou “Glo” pelas ruas. “A gente tem que pensar que tudo tem um começo, um meio e um fim e nesse fim tenho que deixar portas abertas para outras áreas”, afirma.
Como boa dançarina, ela planeja um passo por vez. Primeiro, quer passar no TCC (Tese de Conclusão de Curso) da faculdade de educação física. Depois, juntar experiência dando aulas, para, então, pensar em abrir uma academia.
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