Museu com objetos e roupas de Taylor Swift vira rota obrigatória de fãs em Londres
Trajes e recordações do arquivo pessoal da estrela pop estão em exibição no Museu Victoria and Albert até 8 de setembro
"Amor Desapontado", pintado em 1821 pelo artista irlandês Francis Danby, é uma cena de melancolia adolescente, com códigos visuais tão legíveis quanto eram naquela época. Uma jovem senta-se à beira de um rio, lacrimosa e desolada, com a cabeça entre as mãos, seu vestido branco se acumulando ao redor das pernas. Na água, páginas de uma carta rasgada flutuam entre os lírios. Ao seu lado estão adereços de feminilidade: um chapéu de palha, um xale vermelho brilhante e um retrato em miniatura do homem que a magoou.
A obra está na coleção do Museu Victoria and Albert em Londres, em uma galeria de paredes vermelhas lotada de pinturas georgianas e vitorianas. Recentemente, a beleza chorosa de Danby ganhou uma nova vizinha: um vestido creme franzido da Zimmerman usado por Taylor Swift no videoclipe de "Willow", de seu álbum de 2020 "Evermore".
O vestido é um dos mais de uma dúzia de itens do arquivo pessoal de Swift apresentados em instalações por várias galerias do V&A. A pintura de Danby é "totalmente o estilo dela", disse a curadora Kate Bailey sobre Swift, apontando para a garota apaixonada e sua variedade de bugigangas —"o vestido, o lenço".
Ainda não era 12h em um dia abafado de julho, e no entanto Bailey, uma curadora sênior no departamento de teatro e performance do V&A, já havia registrado mais de 8.000 passos em seu pedômetro do iPhone enquanto corria pelo museu supervisionando a instalação de Taylor Swift. A exposição "Taylor Swift: Songbook Trail", estará aberta ao público até 8 de setembro.
"De quem foi a ideia de fazer um roteiro por todo o museu?" Bailey perguntou ao chegar, alegre e ofegante, na suntuosa Sala de Música Norfolk House. O V&A adquiriu a sala em 1938, quando a Norfolk House foi demolida, e a reassemblou em sua totalidade, painel por painel, em 2000.
"Speak Now", de Swift, tocava nos alto-falantes, e seu vestido de tule iridescente, usado na contracapa do álbum, estava em um manequim em uma vitrine no centro da sala, como uma bailarina em uma caixa de música gigante.
Em outro lugar, Bailey havia colocado o vestido vermelho de mangas bufantes de Tadashi Shoji que Swift usou no vídeo de "I Bet You Think About Me" ao lado de uma colossal cama com dossel de veludo, encomendada pelo Conde de Melville em 1700 para transmitir status e sucesso político. Os trajes da Reputation Tour de Swift, incluindo botas Gucci decoradas com cobras, estavam em um local normalmente ocupado por "As Três Graças", a escultura de mármore branco de Antonio Canova que retrata as três filhas de Zeus entrelaçadas em um abraço fraternal.
"Mestres antigos, novos mestres", disse Bailey enquanto instaladores posicionavam um collant de lantejoulas de Zuhair Murad da turnê "1989" de Swift ao lado dos Cartoons de Rafael, encomendados em 1515 pelo Papa Leão X para a Capela Sistina.
As obras, alguns dos exemplos mais preciosos da arte renascentista, pertencem ao rei, "então obviamente tudo o que é feito tem que ser muito respeitoso", explicou Bailey enquanto ajustava uma camada de tecido protetor para proteger o visual de carne-tonalizada com lantejoulas de Swift.
"Estou me sentindo bastante positiva, porém, porque William e a família foram à turnê", disse ela. (O príncipe foi filmado com seus filhos em uma apresentação da Eras Tour em junho, dançando ao som de "Shake It Off".)
O formato de "roteiro" da exposição, disse Bailey, é uma homenagem aos famosos "ovos de Páscoa" da cantora, seu hábito de espalhar mensagens sutis e pistas em seus visuais e letras. O número de exposições exibindo seus vestidos e trajes é 13, o número da sorte de Swift. Nada disso passará despercebido pelos fãs de Swift que adotam uma abordagem de análise visual que oscila entre o forense e o fantasioso, ou até mesmo o divertidamente paranoico.
A ideia de uma exposição temática de Swift ocorreu a Bailey em abril, logo após o início da Eras Tour. A turnê já estava impulsionando as economias nacionais, tornando-se a primeira a atingir US$ 1 bilhão.
"Sabíamos que teríamos que ser criativos", disse Bailey, observando que o museu teve que reutilizar várias vitrines existentes por causa da pressa. "Foi o projeto que mais rápido se moveu em que trabalhei."
Agora, enquanto percorre as galerias, ela vê a coleção do V&A através do prisma de Swift, atenta à abundância de gatos entre os objetos, à aparição de várias cobras ou violões.
Ao confrontar artefatos swiftianos com tesouros históricos, a curadoria de Bailey torna explícitas as intenções do projeto: trazer sangue novo entre o antigo. A equipe curatorial do V&A espera que, enquanto admiram o cardigã de "Folklore" —exibido em uma elegante galeria dedicada a paisagens—, um novo público possa lançar os olhos sobre um Constable ou Turner vizinho e sentir alguma, se não um nível igual de, excitação.
O show de Taylor Swift marca um momento de associação explícita com celebridades para o museu. Outras exposições atuais são dedicadas à modelo Naomi Campbell e à coleção fotográfica de Elton John. O museu, como muitos outros, está em busca de exposições que agradem ao público. O número de visitantes, embora em crescimento, ainda está bem abaixo dos números de público pré-pandemia. A exposição de Swift é gratuita, destinada a atrair adolescentes e jovens de vinte e poucos anos que assistirão à próxima etapa da turnê Eras em Londres em agosto.
De volta ao andar de baixo, a saia e blusa de couro falso no estilo vitoriano de Swift, usadas no vídeo de "Fortnight" do álbum "The Tortured Poets Department", estavam ao lado do mármore de Foggini de Sansão matando um filisteu com a mandíbula de um jumento.
Não é todo mundo que vai "entender" a exposição, reconheceu Bailey. Algumas de suas justaposições fazem referência às críticas que Swift enfrentou ao longo de sua carreira. Em uma das primeiras paradas do percurso, a camisa Versace, peruca cortada e barba postiça que Swift usou no vídeo de "I'm the Man" -no qual ela desafia os duplos padrões sexistas nos campos criativos- são posicionados na frente de retratos em mosaico de alguns dos grandes homens da arte dos anos 1860 e 1870: Hans Holbein, Sir Joshua Reynolds, Sir Christopher Wren. As figuras brilham, olhando para baixo imponentemente do alto.
De maneira geral, Swift pode ser algo como um sonho para os curadores, dada sua fascinação por objetos. Ela exibe seu impulso colecionador, e sua história -e várias reinvenções- estão inextricavelmente ligadas a uma série de artefatos.
"Há uma maneira realmente ótima como ela se relaciona com as coisas, seja espelhos, cobras, cardigãs ou outros objetos", disse Bailey. Seu uso de objetos e emblemas como meio de comunicação -parte de seu arsenal de armas em disputas ou batalhas de reputação- é adequado a um espaço dedicado a códigos visuais tornados tangíveis, aos objetos preciosos dos grandes e poderosos.
Taylor Swift deve ser refrescante, refletiu Bailey, para um público tão frequentemente preocupado com o digital. "Ela os coloca em um lugar que parece real", disse ela.
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