Daiane dos Santos, ex-atleta do clube onde Seu Jorge sofreu racismo: 'Não é aceitável'
Campeã mundial deu seus primeiros passos na ginástica no Grêmio Náutico União
O Grêmio Náutico União (GNU), de Porto Alegre, ficou sob os holofotes na semana passada, após viralizarem as imagens em que o cantor Seu Jorge, 52, é hostilizado com termos racistas durante um show. Porém, já era bastante conhecido de quem acompanha mais de perto a ginástica olímpica.
Isso porque foi lá que um dos maiores nomes do esporte no país deu seus primeiros passos como atleta. Daiane dos Santos, 39, havia sido descoberta fazendo traquinagem em uma pracinha e começou a aprender os aparelhos na Associação dos Amigos do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (AACETE), pouco tempo antes de ser chamada para treinar no clube privado.
Por isso, o racismo sofrido pelo cantor dentro das instalações que ela conhece tão bem poderia ter despertado alguns gatilhos na ex-atleta, que hoje se define como influenciadora esportiva. Atualmente, ela dá palestras motivacionais e se dedica à organização Brasileirinhos, um projeto para descobrir novos talentos do esporte que a eternizou.
Sobre o caso de Seu Jorge, ela conta que soube do ocorrido, mas que não se aprofundou no caso. Mesmo assim, faz questão de dar sua visão sobre o tema, se posicionando contra o racismo. "Nenhuma forma de preconceito é aceitável", afirma ao F5. "Seja de qual segmento for: racial, de gênero, de estereótipo corporal... enfim."
No entanto, prefere não polemizar com o clube onde o episódio ocorreu. "Eu acho que essas causas não são de agora, não são uma situação única, exclusiva, mas, sim, casos que estamos vendo acontecer cada vez mais no dia a dia", diz. Perguntada se já viveu ou presenciou situações de racismo no GNU, ela não respondeu.
Primeira ginasta do mundo a realizar o duplo twist carpado e o duplo twist esticado (que ficaram conhecidos no esporte como Dos Santos 1 e Dos Santos 2), ela diz que não há uma solução fácil para o problema. "Temos que entender o que podemos, como seres humanos, fazer para compreender mais o outro, se colocar no lugar do outro", avalia.
"Se eu quero respeito, preciso respeitar", continua. "É preciso entender que nem tudo é liberdade de expressão. A liberdade de expressão termina a partir do momento que ela fere. Falar o que a gente pensa de forma grosseira e agressiva não é liberdade de expressão, com certeza."
"Sou sempre uma apoiadora de lutar para ter um mundo mais igualitário para todos e no qual possamos viver com mais respeito para todas as pessoas", conta. "Que o ser humano possa entender isso e ter uma empatia maior pelo outro."
No momento, ela diz acreditar que se posicionar é necessário para quebrar o ciclo de agressões contra populações mais marginalizadas. "O preconceito precisa que todos nos expressemos contra ele de alguma forma", afirma. "Mais do que isso, é preciso que lutar contra ele todos os dias."
"Fica aqui meu manifesto de apoio a todas as lutas antirracistas e antipreconceito de todos os segmentos", diz. "Estamos aqui para viver num mundo melhor —e não um mundo pior— para todo mundo."
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