Jorge Vercillo diz que mercado digital de música 'paga mal e explora artistas'
Artista afirma sobreviver de rádio e execuções públicas
Artista afirma sobreviver de rádio e execuções públicas
Com a chegada da Covid-19, músicos e artistas precisaram ficar longe dos palcos e se adaptar com a divulgação de seu trabalho nas plataformas de streaming. Não foi diferente para o cantor Jorge Vercillo, 52, que diz ter gravado músicas na pandemia para “entender e tentar transformar essa realidade do nosso mercado digital”.
O artista diz que, apesar de ser democrático e próspero, o mercado digital "paga muito mal e explora todos os artistas do planeta”. Vercillo afirma usar serviços como Spotify, e pondera que é grato pela oportunidade de lançar seus projetos, como a música “Raça Menina”.
“Mas só quem está ganhando dinheiro são as grandes gravadoras. E as próprias plataformas. Ninguém mais está conseguindo sobreviver de música no mercado musical”, lamenta.
O artista cita o movimento liderado pelo ex-Beatle Paul McCartney, 79, que pede melhorias nos pagamentos dos serviços de streaming. Ao lado de artistas como Jimmy Page, Robert Plant, Noel Gallagher, Sting e Chris Martin, McCartney e outros 150 nomes assinaram uma petição enviada ao premiê britânico Boris Johnson pedindo medidas que possam melhorar o modelo econômico de plataformas como Spotify e Apple Music.
“Temos esperança de que a ficha vai cair em pouco tempo, ainda mais com essa movimentação no Reino Unido”, diz Vercillo.
Na proposta feita pelos artistas internacionais, o objetivo é alterar uma lei chamada “Copyright Act”, que está em vigor desde 1988. No Reino Unido, os royalties (quantia paga por alguém a um proprietário pelo direito de uso, exploração e comercialização de um bem) são distribuídos de uma forma chamada “remuneração equitativa”.
Nesta modalidade, uma empresa coleta os direitos autorais, e a ideia é que sejam feitas alterações para que isso também ocorra nos streamings de áudio. Segundo um estudo da Recording Industry Association of America (RIAA), as plataformas digitais são responsáveis por 85% da receita da indústria fonográfica, apenas no mercado americano.
No primeiro semestre de 2020, dado mais atual, o setor arrecadou US$ 5,7 bilhões nos Estados Unidos (cerca de R$ 29 bilhões). O número representa alta de 5,6% em relação ao mesmo período de 2019, e apenas os serviços de streaming ficaram com US$ 4,8 bilhões (cerca de R$ 25 milhões).
Vercillo diz que atualmente está “sobrevivendo de rádio e execução pública" --ele também retornou aos palcos com shows presenciais, respeitando os protocolos contra a Covid-19.
Dono de sucessos como “Homem Aranha” (2002), “Monalisa (2003) e “Ela Une Todas as Coisas” (2007), ele afirma que a execução de músicas nas rádios acontece para artistas que têm uma carreira mais consolidada no mercado.
Atualmente no Brasil, a divisão da receita da indústria da música passa por uma distribuição de direitos que envolvem desde o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) até gravadoras, editoras, associações e autores.
Vercillo diz que vê muitos novos nomes surgindo em todos os cenários musicais e que fica feliz com artistas regravando suas músicas clássicas com nova harmonia. Afirma, contudo, que “novos artistas precisam ser remunerados de uma maneira mais justa”.
Ele diz torcer por uma mobilização de músicos brasileiros.
“Não adianta os artistas ficarem com medo de desagradar, não falar ou dar opinião e ficar todo mundo calado e com medo, só querendo ganhar mais seguidores [nas redes sociais]. Isso não vai adiantar”, diz. “Precisamos de uma participação ética, sem demonizar ninguém, sem tornar inimigo ninguém, mas precisamos avançar”, conclui o artista.
Procurado pelo F5, o Spotify enviou a iniciativa Loud and Clear, que trata sobre o sistema de royalties da plataforma. "Nosso objetivo é ajudar músicos profissionais a viverem do próprio trabalho, e levamos isso muito a sério. Se por um lado nem todos os artistas no Spotify têm o mesmo sucesso, estamos trabalhando para criar oportunidades para que mais criadores alcancem novos fãs."
O Spotify pontua que não paga diretamente os artistas e compositores, mas sim os detentores dos direitos das músicas, como gravadoras, distribuidoras ou até mesmo instituições de arrecadação. "Cerca de ⅔ desse dinheiro vai para os detentores dos direitos das músicas."
A plataforma divide os royalties com base em uma "cota por streamings" de cada detentor de direitos, e o dinheiro não tem base em um valor fixo. A cota é calculada a partir da soma do número de vezes que as músicas foram ouvidas e pela divisão do resultado pelo número total de streamings nesse mercado.
Segundo o Spotify, o modelo adotado é melhor que uma taxa fixa por streaming porque "gera mais engajamento dos fãs e receita de mais lugares".
"Isso significa mais pagamentos do Spotify para os detentores de direitos. Fazemos algumas escolhas que reduzem a 'taxa por streaming', mas acreditamos que assim estamos maximizando a receita total, gerando o máximo de dinheiro possível para os detentores de direitos e seus respectivos artistas e compositores", conclui a empresa.
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