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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Antes da entrevista de Oprah com Harry e Meghan, voam acusações na família real

Rede de TV CBS divulga trechos provocantes da conversa da apresentadora com o casal

Harry and Meghan são entrevistados por Oprah Winfrey - via Reuters
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The New York Times

O grande duelo só acontece no domingo (7), mas as provocações pré-jogo fervilham dos dois lados do Atlântico já há alguns dias. Quando o príncipe Harry e sua mulher, Meghan, apresentarem seu lado da história de um rompimento com a família real que causou sensação, em uma entrevista a Oprah Winfrey, o programa com certeza será um dos momentos mais aguardados, e mais promovidos, da história televisiva recente.

Em trechos provocantes que a CBS, responsável pela exibição em horário nobre do especial de duas horas de duração, está divulgando, e em acusações furiosas sobre Meghan que vazaram para um jornal britânico, a família real britânica e o casal que optou pelo exílio manobram furiosamente para direcionar a narrativa, antes que a entrevista vá ao ar.

Meghan foi vítima de uma família fria e nada hospitaleira, que a isolou cruelmente depois que ela se casou com Harry e agora tenta difamá-la? Ou ela sempre foi uma diva de Hollywood que tratava mal sua equipe, causou tumulto na Casa de Windsor, e provocou um rompimento entre a família real e um dos mais amados de seus jovens príncipes?

Tudo isso transcorre diante de um pano de fundo que abarca um patriarca adoecido, o príncipe Philip; uma rainha reverenciada mas cada vez mais idosa, Elizabeth 2ª; e uma família que está emergindo de um ano de isolamento causado pela pandemia e descobrindo que as feridas causadas pela partida abrupta de Harry e Meghan para uma vida nova na Califórnia continuam abertas.

O mais recente disparo nessa batalha de relações públicas surgiu na quinta-feira (4), quando a CBS divulgou um trecho de 30 segundos da entrevista, no qual Winfrey pergunta a Meghan como ela acha que o Palácio de Buckingham reagirá às revelações que ela está fazendo sobre seu casamento de conto de fadas com o príncipe Harry, em maio de 2018.

“Não sei como eles poderiam esperar que, depois de todo esse tempo, continuemos em silêncio, se existe um papel ativo ‘da firma’ em perpetuar falsidades sobre nós”, disse Meghan, se referindo à família real por um apelido muitas vezes usados para evocar as qualidades menos elogiáveis da monarquia.

“Se isso traz o risco de perder coisas”, ela disse a Winfrey, “bem, muita coisa já foi perdida”. O vídeo parecia calculado como resposta a uma explosiva reportagem do jornal londrino The Times, publicada na terça-feira (2), segundo a qual um antigo assessor de Meghan na equipe da família real fez uma queixa ao palácio em outubro de 2018 acusando-a de “bullying” contra membros de sua equipe, de levar alguns dos assessores de cargos mais baixos ao choro, e de forçar a saída de dois assistentes pessoais que trabalhavam para a família real.

Um porta-voz do casal classificou as acusações como “ataque” ao caráter das ex-atriz americana –um ataque ainda mais doloroso porque “ela mesma foi vítima de bullying”. O Palácio de Buckingham, no entanto, se declarou “muito preocupado” com as acusações, e disse que as avaliaria e convidaria ex-funcionários do casal a participar da investigação, “a fim de determinar se existem lições a ser aprendidas”.

O espetáculo da família real conduzindo uma investigação de recursos humanos sobre uma de suas mais famosas integrantes causou espanto a observadores veteranos da monarquia. Eles previram que isso resultaria em novas revelações embaraçosas, porque o palácio não agiu com relação às queixas no momento em que foram feitas, e outras pessoas que trabalhavam no palácio podem entender a postura como convite a que apresentem outras acusações de maus tratos.

“Eles mexeram em um tremendo vespeiro”, disse Peter Hunt, que costumava cobrir a família real na rede de TV e rádio britânica BBC. “Será que vão considerá-la culpada de ‘bullying’” Será uma investigação ao estilo #MeToo? Minha sensação é a de que os anarquistas tomaram o controle da instituição”.

Em alguma medida, as acusações e contra-acusações representam um choque de culturas: os vazamentos à imprensa tradicionais na mídia britânica –usados há muito tempo por membros da família real e seus aliados a fim de realizar acertos de contas– contrapostos à máquina de publicidade de uma rede de TV americana e de uma das figuras mais poderosas da mídia mundial.

A CBS e a Harpo Productions, a empresa de Winfrey, alimentaram as expectativas com relação à entrevista, que será transmitida no Reino Unido segunda-feira pela rede ITV, por meio da divulgação de vídeos curtos que mostram a apresentadora acomodada com Harry e Meghan em uma área aconchegante ao ar livre, mas permitem apenas vislumbres da conversa.

“Você manteve o silêncio ou foi silenciada?”, Winfrey pergunta em certo momento, e Meghan olha para ela mas não responde. “Você disse algumas coisas bem chocantes, em nossa conversa”, a apresentadora acrescenta, em outro trecho, enquanto uma trilha sonora dramática ganha volume ao fundo.

Harry, que participa da segunda metade da entrevista ao lado de Meghan, aparece rapidamente em um dos clipes e diz que “minha maior preocupação é que a História se repita”. É uma aparente referência ao destino da mãe dele, a princesa Diana, que morreu em um acidente de carro em Paris, em 1997, depois de tentar escapar em alta velocidade da perseguição de fotógrafos.

A experiência levou Harry a desenvolver uma profunda aversão à imprensa britânica. Ele e Meghan abriram processos contra jornais sensacionalistas por invasão de privacidade e, em entrevista recente no programa de James Corden, Harry mencionou as intrusões incansáveis da imprensa como um dos grandes motivos do casal para se transferir a Montecito, Califórnia.

Mas Winfrey promete mais do que repetir as queixas usuais do casal sobre a imprensa. Ela está prometendo revelações chocantes. “Quero deixar claro a todos que não há temas proibidos”, disse ela. Sua amiga, Gayle King, apresentadora do programa CBS This Morning, disse esta semana que “fui informada por fontes confiáveis, estou falando de Oprah, que essa é a melhor entrevista que ela já fez”.

George Schweitzer, antigo vice-presidente de marketing da CBS, disse acreditar que a rede não poupará esforços para promover a entrevista, que combina três palavras mágicas: “Oprah. Harry. Meghan”.

O horário de exibição da entrevista, logo depois do programa 60 Minutes, o principal título da CBS News, deve ampliar sua audiência, e o tema terá o mesmo efeito, atraindo telespectadores ansiosos por uma fuga depois de um ano de convivência com o coronavírus.

Em 1994, o príncipe Charles confessou ter traído Diana. Um ano mais tarde, Diana disse a um entrevistador que “nosso casamento envolvia três pessoas”. Em 2019, a defesa absurda pelo príncipe Andrew de sua amizade com Jeffrey Epstein, predador sexual condenado nos Estados Unidos, ajudou a remover o príncipe da vida pública.

Desta vez, porém, a reputação de Meghan no Reino Unido sofreu antes mesmo que ela pronunciasse uma palavra. A perspectiva da entrevista com Winfrey, que pode cimentar a narrativa sobre os sofrimentos que a família real causou à sua nova integrante, levou pessoas que trabalharam para ela a falar ao The Times sobre o tratamento que recebiam quando trabalhavam para o casal, de acordo com duas fontes informadas sobre a situação.

Em outubro de 2018, o secretário de comunicação do casal, Jason Knauf, notificou o secretário privado do príncipe William, o irmão de Harry, sobre incidentes nos quais a duquesa teria manipulado e humilhado integrantes de sua equipe, de acordo com o jornal londrino. Simon Case, o então secretário do príncipe, agora é secretário do gabinete britânico, um dos postos mais poderosos do governo do Reino Unido.

O jornal também afirma que pessoas da equipe ficaram chocadas quando Meghan usou, em um jantar formal em Fiji, um par de brincos que ganhou do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, três semanas depois do assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi. Um relatório dos serviços de inteligência americanos divulgado esta semana conclui que o príncipe aprovou o assassinato.

Um porta-voz do casal disse que Meghan “tem o compromisso essencial de apoiar as pessoas que tenham sofrido dor e trauma”. Ela não respondeu a perguntas sobre os brincos.

Em declaração sobre as acusações de “bullying”, o Palácio de Buckingham afirmou que “a Casa Real tem uma política de Dignidade no Trabalho em vigor há anos, e não tolera nem tolerará assédio ou ‘bullying’ no local de trabalho”.

É extremamente incômodo para o Palácio de Buckingham ser arrastado a uma disputa desse tipo. Isso gerou dúvidas sobre o envolvimento da rainha ou do príncipe Charles nos esforços para desacreditar Meghan. O mais provável é que eles estejam preocupados com o príncipe Philip, 99, que está se recuperando de uma cirurgia cardíaca em um hospital londrino.

Mas o relacionamento entre Harry e William continua profundamente desgastado, de acordo com pessoas ligadas ao palácio. Observadores experientes da família real dizem que, quando disputas como essa explodem de forma aberta, isso em geral é indicação de que alguém – ou funcionários seniores do palácio ou membros da família real – não quis fazer coisa alguma para impedir que a situação surgisse.

Tradução de Paulo Migliacci

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