Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Celebridades

Stenio Garcia diz estar 'sem chão' e se preocupa com sua saúde após demissão da Globo

'Romperam de forma brutal e cruel meu contrato', diz ator, famoso por 'Carga Pesada'

Laudelino (Stênio Garcia) em 'A Vida da Gente' Estevam Avellar/Globo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Faz menos de duas semanas desde que Stenio Garcia recebeu a notícia de sua demissão da TV Globo. O ator de 87 anos, que passou 47 deles na emissora e interpretou mais de 60 personagens, como o marcante caminhoneiro Bino de "Carga Pesada" (1979), ainda não aceitou a ideia de se desvencilhar do local onde construiu boa parte de sua carreira.

"Você perde o chão, fica procurando onde se segurar", afirma Garcia, com a voz embargada, em entrevista ao F5. "Mas aí você começa a fazer uma retrospectiva da sua vida, e começa a ver tudo o que viveu e aprendeu nos últimos anos. Agora estou disposto a enfrentar qualquer coisa que vier pela frente."

Com a ajuda da esposa, Marilene Saade, o ator conta que tem sofrido com o período de isolamento, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, casado com o desligamento que o pegou de surpresa. É muita coisa junta, diz ele, que ainda tem dificuldades em falar a palavra demissão e tem passado os últimos dias à base de calmantes.

Antes de ser demitido, porém, Stenio era ausente na emissora. As pessoas o perguntavam se ele estava renegando papéis, "fugindo de trabalhos", mas em realidade, ele havia sido "colocado na geladeira". Depois de interpretar papéis marcantes –como Zé do Araguaia em "O Rei do Gado" (1996), Ali El Adib em "O Clone" (2001), e Aleijadinho no especial "Poema Barroco" (1977)–, Stenio Garcia ficou sete anos sem integrar o elenco oficial de uma produção, período que ele descreve como tortura.

"Na verdade eu nunca tive impasse algum com a Globo", diz o ator. "Eu, inclusive, considerava a emissora a minha casa, aonde eu dediquei à minha vida. Saía de um trabalho e entrava no outro –isso quando não fazia dois ao mesmo tempo. Tenho muito amor, respeito e gratidão à emissora e à família Marinho. Eu nunca tive e nunca vou ter embate com ela."

O problema teria inciado com a última troca da direção artística da dramaturgia, no fim de 2014, quando Manoel Martins se aposentou, passando seu cargo a Silvio de Abreu. O atual diretor já nutria desavenças com Garcia desde 1968, quando o ator traiu a esposa e grande amiga de Silvio, Cleyde Yáconis, morta em 2013.

"Foi um erro meu, que eu perdi perdão. Fui um homem inconsequente; eu me apaixonei e perdi essa grande mulher, maravilhosa, extraordinária, que eu amo até hoje, e que talvez tenha sido a mulher mais importante da minha vida", diz Garcia. "Ele [Silvio de Abreu], como grande amigo dela, ficou com ódio de mim –e com razão, já que foi ele quem viu ela sofrer e esteve do lado dela."

O sucesso e grande número de prêmios fez com que a fama subisse à cabeça do ator, que se deixou levar pela emoção e acabou se separando de Yáconis, após 11 anos juntos. "Essa separação fez muito mal a ela, e eu me arrependo profundamente. Mas antes dela morrer, eu pedi desculpas duas vezes em rede nacional. Depois, ela chegou a conhecer a minha atual esposa, Marilene, e as duas se tornaram amigas. Tenho até hoje um livro em que ela assinou: 'Existe ex-marido, mas não existe ex-amigo'."

Com a ascensão, Silvio de Abreu teria barrado a presença de Stenio Garcia para algumas obras, como em "Torre de Babel" (1998-1999), da qual Cleyde Yáconis também participou –e, segundo o ator, ela apoiou a sua entrada na trama. O ator integrou a novela, mas não foi poupado das fofocas nos bastidores, que tratava o folhetim como "Torre dos Babados". Foi nesse cenário que Garcia conheceu sua atual esposa.

Nos últimos sete anos, Garcia viveu do salário-base pago pela emissora (valor que o ator não quis revelar), e acabou desidratando sua conta bancária para sustentar as duas filhas, Cássia e Gaya, médicos e outros gastos. "Isso tudo me abalou muito, e acabei desenvolvendo problemas para a minha saúde mental. Tive depressão e tenho muitos vômitos inesperados desde o ano passado. Minha pressão e ácido úrico estão desregulados, e tive um problema de líquido aumentado no cérebro e duas microisquemias cerebrais."

"Romperam de forma brutal e cruel o meu contrato", diz Stenio Garcia. Áudio de um representante do RH da Globo, ao qual o F5 teve acesso, mostra que o ator seria avisado previamente caso seu nome entrasse no radar das demissões, "em respeito a toda a história dele", o que não aconteceu.

Até agora, ele não recebeu a rescisão de seu contrato –e, também, está à procura da carteira de trabalho em sua casa, que há tanto tempo não é tocada. Mas Stenio se preocupa com o que está por vir. Ele tenta manter o plano de saúde que tinha na emissora, para ele e sua esposa, já que após o fim do contrato o plano médico é trocado por um inferior, válido por dois anos após a demissão.

"Meus remédios e tratamentos de saúde são mais caros que a minha aposentadoria. Imagina comer, se exercitar, colocar gasolina no carro… Não tem como viver, e isso está me matando. Estou perdido e sem chão", diz ele. "Essa pessoa [Silvio de Abreu], que me recuso a falar o nome, está tentando destruir minha vida e a da minha família. É um cancro. Os meus direitos eu vou pedir. Se eu tiver que ir à Justiça, não será contra a Globo. Será contra essa pessoa."

"Ser atriz é uma tristeza. Quero voltar para o direito", acrescenta a esposa Marilene, que também é advogada. "Imagina, chegar na idade de Stenio, e ser descartado assim, como um saco de lixo sujo e velho?", afirma a atriz.

Sem olhar tanto para o futuro, Stenio Garcia procura se manter no presente e, por enquanto, torce para que saia com saúde da pandemia do novo coronavírus, junto à sua esposa. "Esse vírus veio nos mostrar que não adianta você ser o mais rico do mundo, o mais bonito ou o mais inteligente. Esse vírus nos mostra que somos todos iguais."

Ele, que trabalha desde os seis anos de idade e foi emancipado aos 13, teme que pequenos negócios fechem. "Cheguei a tirar areia do rio para fazer cimento, vendi doces no trem, vendi hortaliças na feira, que minha avó plantava, fui officeboy de escritório e até datilografava o cardápio do Cedro do Líbano para ganhar comida", lembra o ator, que onseguiu os primeiros papéis após ser convidado para um estágio na companhia da atriz Cacilda Becker, irmã de Cleyde Yáconis.

Mesmo após tantos anos, Stenio Garcia afirma que ainda tem potencial para trabalhar. "Por sorte, eu nunca dependi de política ou amizade para trabalhar. [...] Sempre fui isento. Ia lá e fazia meu trabalho. Se precisasse ficar o dia inteiro, eu ficava. Eu sempre vesti a camisa da empresa, e mais, do meu ofício."

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem