Juliana Caldas diz que papéis estereotipados de anões são humilhantes
'Há quem aceite passar por esse tipo de humilhação na TV'
A atriz Juliana Caldas, 31, diz ser muito bem resolvida em relação a sua autoestima. No ar em 'O Outro Lado do Paraíso', ela é a primeira pessoa com nanismo a conseguir um papel de destaque no horário nobre da TV brasileira.
"Tomava um fora de um cara e ok, bola para frente. Sofri, mas quem não sofre?”, disse ela em entrevista à revista Gol.
Ela acrescenta que, embora não seja obcecada com a estética, procura se cuidar por questões de saúde. "Com o nanismo, quando engordamos um pouco, a chance de ter problemas na coluna e no joelho aumentam”, afirma.
Para ela, o papel na novela é uma oportunidade de denunciar os tipos de preconceito vividos por anões na vida real. Na pele de Estela, Juliana encena situações de preconceito na própria família. A mãe, Sophia, interpretada por Marieta Severo, já xingou a filha de "monstrenga" e "aberração".
"A Estela está lá mostrando aquela realidade dela, da rejeição, do preconceito, que às vezes é absurda, mas que acontece [...] faz você pensar como telespectadora, porque a relação dela com a mãe choca. E tem que chocar, infelizmente. Eu, aqui fora, explico que, sim, isso existe, não é mimimi."
Ela relata, por exemplo, que uma funcionária de uma casa de show já se recusou a lhe vender meia-entrada por não ser cadeirante. Por lei, desde 2004, o nanismo é considerado deficiência. "Expliquei que existia a lei e que eu ia comprar o ingresso. Ou ela queria que eu fosse no meio da galera para ficar vendo bunda e ser pisoteada?", disse Juliana.
A atriz contou que só conseguiu o ingresso depois de ameaçar entrar com um processo contra a casa, por discriminação. "Precisei chegar a esse ponto para conseguir um direito básico meu", comentou.
Além desta ocasião, Juliana diz já ter levado um tapa na cabeça quando trabalhava em uma festa à fantasia como um dos anões da Branca de Neve. Esses e outras atitudes preconceituosas a levaram a sua meta como atriz: não interpretar papéis que reforcem o estereótipo de pessoas com nanismo.
"Há quem aceite passar por esse tipo de humilhação na TV. Um absurdo, essa é a sociedade em que vivemos, a que consome esse tipo de entretenimento e acha legal sair batendo nos outros.”
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