Susan Miller sempre tem uma história para você
Por que reino dela como rainha dos astrólogos perdura? Por mágica
Durante uma cirurgia recente, para reparar um pino metálico que ela tem na bacia, Susan Miller diz que morreu por alguns instantes na mesa de operações. Mas não viu luzes brancas, e ao despertar não tinha revelações divinas. Em lugar disso, começou a ter visões recorrentes e perturbadoras do que pareciam ser meteoritos, voando em sua direção quando as pessoas eram enquadradas de determinada maneira pela luz.
Miller conta que estava no meio de uma entrevista com um repórter do New Delhi Times quando viu "um meteorito gigante" se arremessando em sua direção. Ela caiu no choro. Miller disse que mais tarde descobriu um possível significado para as visões.
Os meteoros que estava vendo, ela percebeu, eram lembranças daquilo que tinha visto na mesa de operações, quando foi ressuscitada. As formas eram simplesmente "a luz que existe por sobre você quando você está passando por uma operação, e a figura do médico diante da luz", ela disse.
Susan Miller vive no Upper East Side de Manhattan, tem duas filhas e usa roupas da grife Chanel, que a tornam um pouco parecida com Jackie Kennedy. Miller ainda fala sobre a vida com o senso de deslumbramento de uma criança que tenha acabado de ver uma rena voar.
Seu apelo duradouro –ela é a astróloga mais famosa dos Estados Unidos há décadas– parece derivar do fato de que fala sobre as vidas de todas as pessoas com o mesmo deslumbramento, combinado a um lado prático.
O trabalho dela também é exuberante. Seus horóscopos mensais podem ultrapassar as 40 mil palavras de extensão, organizados em longos ensaios que oferecem encorajamento e conselhos aos seus leitores, com base nos bons e maus presságios que ela encontra nos planetas.
Miller se descreve como "uma filósofa que usa a astrologia para deslindar os mistérios da vida", e diz que se tivesse de viver de outra maneira, seria jornalista ou enfermeira. As previsões dela nem sempre são acuradas, em parte porque a astrologia, ainda que dotada de raízes no passado distante e vinculada inexoravelmente à identidade pessoal, na era das mídias sociais, não é uma maneira real de prever o futuro.
No começo de 2016, por exemplo, Miller previu que Donald Trump "tropeçaria e não chegaria à eleição", e que "o escândalo dos emails de Hillary Clinton não está ressurgindo, e não haverá outro". No entanto, ela previu corretamente a semana do nascimento do príncipe Louis, o ano de casamento de Beyoncé, o retorno de Britney Spears e a reeleição do presidente Barack Obama.
A posição oficial de Miller é a de que praticar a astrologia lhe dá orientação sobre as circunstâncias do futuro, mas não necessariamente sobre desfechos. Extraoficialmente, parece que os planetas servem acima de tudo como estímulo para a escrita criativa de conselhos gentis sobre como viver "uma vida íntegra", em sua definição.
Miller é infalivelmente positiva. Não importa o que aconteça, reassegura aos seus leitores a cada mês que eles ficarão bem, e que caso isso não se concretize há maneiras de lidar com uma situação ruim. É como se ela fosse uma terapeuta de saúde mental armada de mapas astrais em lugar de manuais de diagnóstico.
Miller definiu bem a situação em uma entrevista à rede de TV CBS em 2001, resumindo seu trabalho como um instrumento para "resolver problemas ou pensar criativamente". Ela oferece hipóteses, e seus leitores tentam verificar se elas funcionam.
"Sócrates disse que uma vida sem autoexame não vale a pena. É uma declaração dramática, mas verdadeira, de algum modo. A melhor parte de muitas ações está naquilo que você pensa antes de empreendê-las", disse Miller 17 anos atrás em um jantar em Manhattan. "Uma mulher certa vez me disse que adorava as histórias que eu escrevia sobre a vida dela. Eu jamais havia pensado no que faço desse modo".
O apego duradouro de Hollywood ao seu trabalho não prejudica sua popularidade. Muitas das pessoas que procuram Miller para escrever as histórias de suas vidas são investidores que têm questões sobre o melhor momento para iniciar uma transação (no verão americano de 2018, a recomendação era esperar a passagem dos eclipses de julho), ou sobre em que setor ocorrerá o próximo boom (Miller diz que todos os sinais apontam para as criptomoedas).
Mas a órbita de Miller há muito é divida com estrelas da variedade humana. Cameron Diaz pediu seu conselho antes de comprar imóveis. Ela já prestou serviços ao designer Raf Simons. A atriz Kirsten Dunst é sua fã, assim como Lindsay Lohan, assim como Katy Perry. O estúdio em que a série "Outlander" é gravada praticamente para quando ela posta um de seus textos.
Quando Emma Stone quis aprender astrologia, ligou para Miller e pediu ajuda. Gloria Vanderbilt, a mãe de Anderson Cooper, pinta aquarelas que acompanham os horóscopos e calendários de Miller, vendidos por US$ 19,99 (R$ 81,40) mas que ela distribui de graça quanto os planetas a alinham com um novo amigo.
E quando se encontraram por acaso em uma festa, Jennifer Aniston prestou condolências a Miller pela morte de sua mãe e Justin Theroux, então namorado da atriz, convidou Miller para um jantar na casa deles.
Os pedidos de ajuda também acontecem na direção oposta. Anos atrás, o edifício em que Miller vivia em um apartamento alugado decidiu despejar todos os inquilinos não interessados em comprar os apartamentos que ocupavam.
Ela pediu ajuda ao Smashing Pumpkins, que escreveu uma canção de protesto para os inquilinos, "Don’t Take Our Skyscraper Away". (Ela acabou comprando o apartamento de três quartos, onde ainda vive. Seu ex-marido se mudou.)
É um traço que transmitiu a Diana, sua filha mais nova, que trabalha no programa "Carpool Karaoke", de James Corden, e à mais velha, Chrissie, que trabalha para a fabricante de óculos Warby Parker, negociando parcerias com celebridades.
Quando jovem, Chrissie certa vez recebeu tantas celebridades em seu apartamento que o imóvel ganhou um perfil no TheNew York Times, ainda que ela tenha dito em entrevistas recentes que agora as pessoas se impressionam mais por ela ser filha de Miller.
Conversar com Miller é uma delícia, francamente, e tenho certeza de que diria o mesmo ainda que ela não tivesse previsto que terei sucesso financeiro em dezembro de 2019, quando Júpiter entrar na casa de Capricórnio. Em minutos de conversa, Miller determina que seremos amigas e me convida para dividir um prato de aspargos com ela –prevendo, com razão, que a comida será deliciosa.
As únicas pessoas de quem ela não é amiga, ao que parece, são aquelas que não a conhecem. Ela lembra, com carinho, um convite do músico Pharrell Williams para um evento que também envolvia o renomado astrofísico Neil de Grasse Tyson, que despreza a astrologia.
"Meses depois, jantei com Pharrell e a mulher dele, e disse que Neal de Grasse Tyson tinha sido bacana comigo. Pharrell disse que não, que ele tinha sido rabugento comigo sobre Mercúrio retrógrado, e que ia reclamar com ele a respeito. Eu respondi que não, que ele tinha sido gentil comigo. Eu estava assustada, mas ele foi respeitoso", disse Miller. (Um representante de Williams confirmou a história: "Ele a adora".)
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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